Há três semanas, tenho assistido, com aflição, uma notícia que vem se repetindo nas TVs e nos jornais. Ana Paula Maciel, uma jovem, bióloga, brasileira e gaúcha de 31 anos está presa a milhares de quilômetros daqui, na cidade de Murmansk, no noroeste da Rússia.
Ana Paula foi para a cadeia com outros 29 colegas – de diferentes países – depois de um protesto pacífico que fizeram contra a exploração de petróleo no Ártico. Eles tentaram escalar e abrir uma mensagem numa plataforma de petróleo da empresa russa Gazprom, para chamar atenção sobre os altos riscos que essa operação significa não só para a região, mas para o planeta.
Eles acabaram atrás das grades, indiciados por pirataria, e desde então, sem contato com seus familiares. Se condenados, estão destinados a ficar até 15 anos sem liberdade, sob uma acusação que foi desmentida até pelo presidente da Rússia, Vladimir Putin. Num Fórum sobre o Ártico, no dia 25 de setembro, ele comentou publicamente sobre a ação: “É absolutamente evidente que eles não são piratas”, ele disse.
E isso fica ainda mais evidente quando se pesquisa um pouco sobre o histórico da brasileira Ana Paula. Formada em Biologia pela Universidade Luterana do Brasil (Ulbra), em Canoas, no Rio Grande do Sul, a gaúcha tem, desde criança, uma preocupação fora do comum com os animais e com a natureza em geral.
Há anos, ela abriu mão de sua rotina em Porto Alegre para ganhar o mundo em ousadas missões ambientais. Entre uma viagem e outra, se reveza em projetos de defesa do meio ambiente de diferentes organizações. No Greenpeace, já fez inúmeras viagens com cientistas e já participou de outros protestos pacíficos como este que lhe botou na cadeia.
Em uma carta, a mãe de Ana, dona Rosangela Maciel, vem lembrar porque sua filha está atrás das grades: “Se hoje ela está injustamente presa a milhares de quilômetros de casa, o motivo é um só: ela dá a cara a tapa por uma causa que é de todos nós”.
Ana Paula não é a única, e o que ela fez tampouco é novidade. Em todas as épocas de nossa história, houve brasileiros que fizeram sua cota de sacrifício pela coletividade. Invariavelmente, acabaram criticados, presos e, em alguns casos, até torturados.
Hoje, temos à frente do nosso país uma dessas pessoas. Nossa presidenta, Dilma Rousseff, também lutou pelo que acreditava ser um bem comum. Também acabou presa. E também manteve de pé seus sonhos, seus ideais.
O jornal Brasil Econômico publicou uma foto de Ana Paula na cadeia, e a comparou com a famosa foto de Dilma em sua época de prisioneira política. Ambas ostentavam uma postura altiva, destemida, aparentemente inabalável. Ambas lutavam por um mundo melhor. Ambas lutavam pela liberdade de poder lutar por um mundo melhor. Porque é isso que está em jogo.
Recentemente, assistimos mobilizações populares em vários cantos do mundo, inclusive no Brasil, numa amostra de que ideais não morrem. Pelo contrário, continuam muito vivos.
A prisão de Ana Paula e dos outros jovens ativistas é mais uma tentativa de calar esse ímpeto – saudável e necessário – de mudar para melhor o mundo em que vivemos.
Precisamos de mais Anas Paulas, não de menos. É responsabilidade do estado brasileiro garantir que essas vozes não serão abafadas.
E tenho certeza que um governo liderado por uma guerreira, que sentiu na pele o que Ana Paula está sentindo, não vai se calar diante dos fatos.
Portanto, deixo aqui meu apelo à presidenta Dilma Rousseff, minha conterrânea e conterrânea de Ana Paula, que interceda ao governo russo. Para que tão logo devolva ao Brasil, ao Rio Grande do Sul e à dona Rosangela essa filha de quem devemos nos orgulhar.
Porque lutar pacificamente por um meio ambiente saudável não é de se condenar. É de se aplaudir.
* Artigo originalmente publicado no jornal Sul 21, nesta quinta-feira (10).