PEJOTIZAÇÃO

Em audiência comandada por Paim, especialistas apontam ameaças da pejotização à CLT e Constituição

Onze convidados do debate proposto pelo senador Paulo Paim abordaram implicações do crescimento do número de trabalhadores que não têm carteira assinada

Alessandro Dantas

Em audiência comandada por Paim, especialistas apontam ameaças da pejotização à CLT e Constituição

Senador Paulo Paim considera pejotização "ataque frontal à CLT"

A Comissão de Assuntos Sociais (CAS) reuniu representantes da Justiça do Trabalho e entidades ligadas aos direitos trabalhistas para debater os impactos da pejotização no Brasil. A substituição de contratos de trabalho tradicionais, conforme regras da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), por aqueles de pessoas jurídicas foi tema da audiência pública desta quinta-feira (28) solicitada pelo senador Paulo Paim (PT-RS), que está preocupado com seus efeitos nas condições de trabalho, direitos e segurança jurídica.

“O avanço da pejotização é alarmante e representa uma ameaça direta aos direitos trabalhistas, configurando um ataque frontal à CLT. Essa prática compromete a proteção social e econômica de milhões de trabalhadores no país. Esse tipo de vínculo, que reduz encargos trabalhistas e tributários, configura-se como fraude quando oculta uma relação empregatícia tradicional. Em muitos casos, o contratante mantém características típicas do vínculo empregatício, como jornada definida, subordinação e salário fixo, mas nega férias remuneradas, décimo-terceiro e FGTS, por exemplo”, observou Paim.

O senador informou que o percentual de pessoas no Brasil com contratos de pessoa jurídica cresceu de 8,5%, em 2015, para 14,1%, em 2023. Ele alertou que o modelo de contratação já causou uma perda de pelo menos R$ 89 bilhões aos cofres públicos desde a reforma trabalhista, comprometendo a sustentabilidade da Previdência Social.

Vice-Presidente da Associação Nacional das Magistradas e dos Magistrados da Justiça do Trabalho (Anamatra), Marco Aurélio Treviso avalia que a prática da pejotização ameaça garantias criadas pela Constituição de 1988.

“O fenômeno acaba com toda a estrutura basilar determinada pela Constituição Federal. A Justiça do Trabalho nunca foi contra a possibilidade de contratações mediante pessoa jurídica, mas faz a análise dos casos para verificar fraude. Estando presentes os requisitos da relação de emprego, ela é imposta e, como consequência, os direitos e garantias constitucionais previstos. Há também outros problemas de natureza constitucional envolvendo tributação e previdência, que impede benefícios como licença-maternidade e auxílio-doença decorrente de acidente de trabalho”, explicou o juiz do Trabalho.

A representante da Associação Brasileira da Advocacia Trabalhista (Abrat), Alessandra Camarano, chamou atenção para os efeitos da decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes. Em abril deste ano, o ministro determinou a suspensão nacional de todos os processos que tratam da licitude da contratação de trabalhador autônomo ou pessoa jurídica para a prestação de serviços. Segundo Gilmar Mendes, a controvérsia sobre a legalidade desses contratos tem sobrecarregado o STF diante do elevado número de reclamações contra decisões da Justiça do Trabalho que deixam de aplicar orientação do Supremo – favorável à pejotização – sobre a matéria e contribuem para insegurança jurídica, o que levará as próximas decisões em todo o país a seguirem o entendimento que o Supremo vai adotar.

“O governo federal, ao tratar do Minha Casa Minha Vida, que é oriundo do FGTS e obviamente é destinado a contratos via CLT, prioriza mulheres chefes de família e vítimas de violência. Hoje 60% das pessoas que sofrem com o déficit habitacional são mulheres e 40% delas são negras. O deslocamento de competência da Justiça do Trabalho, uma justiça especializada, para a comum traz ainda sobrecarga para as demandas judiciais já que os processos sobre fraudes relacionadas à vínculo de emprego na Justiça do Trabalho representam 40% do total e poderão seguir para a Justiça comum caso o Supremo defina o que vem adotando nas últimas decisões sobre o tema”, apontou a advogada Alessandra Camarano.

Comissão de Assuntos Sociais (CAS), em audiência pública debate: "Impactos da pejotização no Brasil".
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