Democracia

Em audiência promovida por Paim, jornalistas repudiam violência contra imprensa e citam episódio na Câmara

Participantes reforçam necessidade de proteger profissionais e combater práticas de intimidação

Alessandro Dantas

Em audiência promovida por Paim, jornalistas repudiam violência contra imprensa e citam episódio na Câmara

Paim repudiou ataques a jornalistas e manifestou solidariedade a Glauber Braga

Episódios de violência e atentados contra a vida de profissionais de imprensa, agressões por meio digitais e assédio judicial são algumas das formas de cerceamento do trabalho da imprensa citadas em audiência promovida pelo senador Paulo Paim (PT-RS) na Comissão de Direitos Humanos, nesta quinta-feira (11/12). Participaram dos debates representantes da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), da Federação Nacional dos Jornalistas, da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo, da Entidade Repórteres Sem Fronteiras, além de representante do Ministério da Justiça, que coordena observatório sobre o tema.

Paim repudiou a atitude do presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta, que determinou a interrupção da transmissão da TV Câmara, na última terça-feira, durante sessão de julgamento do deputado Glauber Braga (PSOL-RJ) e cerceou a cobertura jornalística do evento.

“Foi um episódio absolutamente inaceitável. Profissionais de imprensa tiveram a segurança ameaçada e muitos foram agredidos. É fundamental que democracia seja respeitada e jornalistas possam exercer seu trabalho livremente. A violência contra a imprensa é um ataque à sociedade e à democracia”, afirmou Paulo Paim, que manifestou solidariedade ao deputado Glauber Braga.

Os participantes do debate também repudiaram os atos do presidente da Câmara, lamentando que formas de cerceamento de imprensa continuem ocorrendo mesmo num ambiente institucional normalizado, depois de quatro anos de desrespeito aos jornalistas pelo governo Bolsonaro.

“Tivemos toda uma máquina contra os jornalistas, agressões principalmente contra mulheres. Hoje temos um governo democrático e que respeita a imprensa, mas ainda temos casos de agressão em redes sociais com muita frequência voltadas para mulheres jornalistas, em grande parte partindo de políticos e de seus assessores. O senhor Hugo Motta não sabe o que é jornalismo e a sua importância para a democracia”, afirmou Octávio Costa, presidente da ABI. A entidade entrou com representação junto a Procuradoria Geral da República contra Motta, por crime de responsabilidade.

Durante a audiência foram citadas as diversas formas de cerceamento do trabalho dos jornalistas. Bia Barbosa, coordenadora do Repórteres Sem Fronteiras para a América Latina, lembrou que o ambiente da comunicação atualmente não garante a sustentabilidade econômica necessária ao exercício independente do jornalismo. As grandes plataformas digitais comercializam conteúdos oriundos do trabalho da imprensa, sem remunerá-la por isso.

Esse conteúdo ainda é utilizado para treinar ferramentas de inteligência artificial, com possibilidade de disseminação de informações falsa. Além disso, as plataformas se transformaram em espaço hostil para jornalistas.

“O surgimento e a massificação dos sistemas de inteligência artificial mudaram a forma como se produz e distribui informação e se consome conteúdo. Os meios de comunicação são cada vez mais dependentes dos sistemas de recomendação de conteúdo controlados por essas empresas”, alertou Bia Barbosa. Ela defendeu a votação pela Câmara de projeto, já aprovado pelo Senado, que regula o uso da inteligência artificial.

Violência contra jornalistas

O senador Paulo Paim apresentou números que demonstram que a violência contra os profissionais de imprensa ainda é grave. Em 2024, foram registrados 144 casos de agressões contra profissionais . Além dos ataques físicos ou ameaças, existem outras formas de cerceamento, lembrou o senador, como o uso de processos judiciais como instrumento de intimidação, a censura, a descredibilização da imprensa e a hostilização on-line.

“A imprensa livre e independente é fundamental para a democracia, para a transparência da gestão pública, para a responsabilização de autoridades e para o direito da sociedade à informação. Quando jornalistas são ameaçados, agredidos ou impedidos de exercer seu trabalho, não é apenas um profissional que é violado é a cidadania, é o direito de todos ao acesso à verdade, que é atacado”, frisou o senador.

To top