Alessandro Dantas

Para o senador, apenas com empatia e solidariedade podemos romper o ciclo de egoísmo e destruição que domina nosso tempo
É possível dizer que o mundo sempre esteve imerso em conflitos armados, guerras, disputas de poder e atos de desumanidade, onde a fome e a miséria tingem o cenário com suas cores mais sombrias. Contudo, questiono com veemência: que tempos vivemos hoje?
A obra do psicanalista e sociólogo alemão Erich Fromm (1900/1980) permanece incrivelmente atual, ressoando intensamente nos debates do presente. Ele dedicou-se a estudos profundos e críticos sobre a sociedade e a condição humana. Fromm afirmou: “Pela primeira vez na história, a sobrevivência física da raça humana depende de uma mudança radical no coração humano.” Essa frase, escrita em plena Guerra Fria, ecoa ainda mais forte em nossos dias, um período igualmente marcado por ameaças globais, conflitos de toda espécie e crises humanitárias e ambientais.
Segundo estimativas da Organização das Nações Unidas (ONU) e outras instituições, mais de 30 guerras e confrontos armados estão em curso no mundo. As causas variam entre disputas territoriais, interesses econômicos, diferenças ideológicas, rivalidades políticas, questões étnicas e religiosas, e a luta por recursos naturais, como petróleo e minérios. Em algumas regiões, como a Faixa de Gaza, Oriente Médio, Ucrânia, Iêmen, Síria, Caxemira, países africanos, entre outros, a violência desenfreada gera imagens estarrecedoras: crianças mortas, mutiladas, e famílias inteiras desfeitas pela guerra.
A ONU estima que uma criança morre a cada 10 minutos em Gaza. As que sobrevivem enfrentam a ausência de água potável, alimentos e medicamentos, sucumbindo à fome, à desnutrição e ao desespero. Entre outubro de 2023 e fevereiro de 2024, mais de 12 mil crianças perderam a vida nessa região. As maiores vítimas das guerras são sempre os mais vulneráveis: crianças, mulheres e idosos.
Hoje, mais de 800 milhões de pessoas vivem em situação de fome no mundo todo, enquanto a insegurança alimentar afeta mais de 2,3 bilhões em diversos graus. Que mundo é este, onde apenas uma parcela diminuta da população tem acesso a benefícios básicos, como saúde, alimentação, moradia, educação, segurança e trabalho digno?
A reflexão sobre a natureza humana é urgentíssima. Fromm questionou: “Como é possível que o mais forte de todos os instintos, o de sobrevivência, pareça ter deixado de nos motivar? Uma das explicações mais óbvias é que os líderes empreendem muitas ações que lhes permitem fingir que estão fazendo algo eficaz para evitar uma catástrofe: Conferências intermináveis, resoluções, conversas sobre desarmamento, tudo dá a impressão de que se reconhecem os problemas e que algo está sendo feito para resolvê-los.” Ele sustenta que as consciências foram anestesiadas e que o egoísmo, amplificado por sistemas desiguais, faz com que líderes valorizem mais o sucesso pessoal do que a responsabilidade social.
Nesse contexto, a escolha entre “ter” e “ser” ganha nova relevância. Será que a ganância e o controle do poder justificam tanta desumanidade? Ou é o “ser” — a força vital que nos impulsiona a ajudar e cuidar uns dos outros — que deveria prevalecer?
A resposta está no amor. Apenas com empatia e solidariedade podemos romper o ciclo de egoísmo e destruição que domina nosso tempo. O amor, em suas diversas formas, é a única solução para os dilemas da existência humana. O mundo precisa de paz, mas essa paz começa no coração de cada um de nós.
Artigo originalmente publicado no Brasil247