EPL afirma que trem-bala tende a não usar recursos públicos

Segundo o senador Delcídio Amaral, o Governo tem feito investimentos em mobilidade urbana mas o maior entrave é burocracia.

EPL afirma que trem-bala tende a não usar recursos públicos

O presidente da EPL defendeu o projeto do TAV por entender que haverá demanda de utilização, até porque já beira o esgotamento a utilização de aviões e de automóveis nesse trajeto específico

Bernardo Figueiredo aposta que o
TAV pode competir agressivamente
com o transporte aéreo, sendo uma
opção segura e menos poluente

O presidente da Empresa de Projetos e Logística (EPL), Bernardo Figueiredo, afirmou nesta quarta-feira (3), durante audiência pública na Comissão de Infraestrutura (CI) do Senado, que a tendência para investimentos na construção da linha do Trem de Alta Velocidade (TAV), interligando o Rio de Janeiro a São Paulo e Campinas (SP), é de baixa utilização de recursos públicos federais. Sua expectativa, otimista, é que dia 19 de setembro seja realizado o leilão e o consórcio vencedor assine o contrato em fevereiro. “Em valores de 2008, o investimento corresponde a R$ 35,4 bilhões, com R$ 723 milhões em renúncia fiscal. A EPL será sócia com R$ 1 bilhão”, explicou.

Bernardo Figueiredo defendeu o projeto do TAV por entender que haverá demanda de utilização, até porque já beira o esgotamento a utilização de aviões e de automóveis nesse trajeto específico. “Além disso, na Europa e na Ásia o trem de alta velocidade é uma alternativa às outras formas de transporte e os projetos estão em andamento”, afirmou.

Segundo o presidente da EPL, a China já possui uma malha de 22 mil quilômetros de TAV. Na Europa a malha atual é de sete mil quilômetros, com 2,8 mil quilômetros em construção e 2,5 mil quilômetros em projetos. E esses números contribuem para diminuir a concentração em meios de transporte como os aviões e veículos, mesmo considerando que não há uma concorrência direta, apenas outra opção de mobilidade.

“Hoje conferimos um sério congestionamento na ponte aérea ligando os aeroportos Santos Dumont (RJ) a Congonhas (SP). Por conta disso, o tráfego aéreo nesses dois terminais produziu uma distribuição dos usuários para os aeroportos de Galeão (RJ) e Cumbica (SP) como opção dessa ponte aérea. O resultado é que o movimento cresceu drasticamente. Em 2008, a movimentação de passageiros nesses dois terminais correspondia a 37.427 pessoas. Hoje está em 466.530”, destacou.

Por essa razão, Bernardo Figueiredo aposta que o TAV pode competir agressivamente com o transporte aéreo, sendo uma opção segura e menos poluente, já que um trem bala emite 15% de carbono do que é lançado no ar por um automóvel ou um avião. Portanto, disse ele, o investimento pode parecer elevado mas é menor do que seria gasto na construção de uma nova rodovia entre São Paulo e Rio, valor correspondente a R$ 18,5 bilhões. “Se distribuirmos a demanda com o TAV, na prática significaria um impacto de onze mil veículos por dia. Hoje são 23 mil veículos que trafegam na rodovia Dutra e ela já está congestionada”, observou.

Ferrovias
Jean Mafra dos Reis, superintendente de Infraestrutura e Serviços de Transporte Ferroviário de Cargas da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), falou sobre as atribuições da agência reguladora do setor, entre elas a responsabilidade de administrar os contratos de concessão e arrendamento de ferrovias. Jean Mafra contou que a agência irá implantar nos próximos leilões o modelo chamado horizontal, onde a gestão da infraestrutura e de sistemas de licenciamento ambiental ficarão sob responsabilidade de um grupo e, do outro lado, ficarão os grupos usuários do transporte de cargas próprias ou operadores. O modelo vigente é vertical, ou seja, um único operador é responsável por todas as etapas e fases de utilização de uma ferrovia, sendo responsável pela manutenção da infraestrutura e o transporte em si.

O modelo horizontal vai tornar mais claro o que se chama de direito de passagem, porque em algumas malhas ferroviárias, detidas por um único grupo, o transporte é exclusivo, sem que outros usuários possam optar por esse meio de transporte. “As atuais concessões pelo modelo vertical são voltadas basicamente para o mercado externo, no transporte de minérios e de grãos. A concentração faz com que pouco mais de um terço da malha seja usada e, além disso, a participação dos outros modais corresponde a 7%”, disse Jean. Isso quer dizer que não há uma ligação entre as várias formas de transporte e também é baixa a conexão entre as concessionárias”, comentou. Em agosto serão licitados doze trechos no âmbito do programa de logística para as ferrovias, do governo federal, cujos investimentos previstos são de R$ 100 bilhões. “Com novas linhas vamos aumentar a distância média do transporte, que hoje é de apenas 500 quilômetros. Nos Estados Unidos, a média de transporte de cargas pela ferrovia é de 1.500 quilômetros”, afirmou.

Governo acerta
Rodrigo Vilaça, presidente executivo da Associação Nacional dos Transportadores Ferroviários  (ANTF) e diretor executivo da Associação Nacional dos Transportadores de Passageiros sobre Trilhos (ANPTrilhos), defendeu a iniciativa do governo em lançar um programa de logística direcionado para incentivar a construção de novas ferrovias no Brasil. “O governo está plenamente correto. É disso que precisamos”, disse.

Segundo ele, esse compromisso do governo em investir e apresentar projetos específicos de construção de novas linhas ferroviárias retrata o momento e a realidade do País, que continua crescendo. O ponto que estaria fora da curva seria os sistemas metropolitanos de transporte de passageiros. Ele reconhece que os investimentos são baixos, até porque existem apenas 62 médias e grandes cidades que possuem metrôs ou algum tipo de transporte terrestre.

Bahia

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  Pinheiro cobrou atenção da EPL e
  da ANTT para a necessidade de
  integrar os vários modais

O senador Walter Pinheiro cobrou atenção da EPL e da ANTT para a necessidade de integrar os vários modais, embora na questão do transporte de passageiros Salvador (BA), o senador pediu que seja revisto o trecho que liga a cidade de Alagoinhas à capital. O transporte de passageiros era feito anteriormente, mas foi abandonado.

“Nós queremos incluir novamente o trecho que transporte pessoas até Salvador”, disse Pinheiro, lembrando que durante o abandono, simplesmente sumiram dez quilômetros de trilhos e ninguém viu.  Ele lembrou que o transporte de passageiros por trens era feito na década de 1970, mas sem investimentos o resultado foi que hoje 45 ônibus de transporte escolar são despejados nas ruas todos os anos, congestionando cada vez mais a capital e a região metropolitana.

Logística

O senador Delcídio Amaral (PT-MS) disse que não considera que a infraestrutura de transporte do País esteja numa situação caótica, até porque o Governo Federal está fazendo um grande esforço para investir em logística, o maior desafio do País. Segundo ele, a questão da mobilidade urbana ou a falta de investimentos em novos trechos de ferrovias não são um problema de agora. É um problema que se acumula há décadas, pela falta de investimentos.

“O governo está tomando medidas para duplicar rodovias federais, está olhando pela primeira vez para as ferrovias, porque os modais ferroviários são fundamentais e fiz questão de citar as hidrovias, que é um ramo de transporte barato, não poluente e uma alternativa que precisamos, mais do que nunca, priorizar no nosso País”, defendeu.

Delcídio frisou que o Senado recentemente votou medidas relevantes para a área de infraestrutura, como o novo marco regulatório dos portos, mas que dependem de investimentos nos modais de transporte para funcionar. Isso quer dizer que são fundamentais investimentos na duplicação das rodovias, das ferrovias, dos portos e dos aeroportos, para possibilitar a redução dos custos do frete e da produção de alimentos. “Mas é claro que temos dificuldades. Temos dificuldades em relação aos projetos, aos licenciamentos ambientais e toda burocracia que lamentavelmente o Governo Federal não consegue vencer”, disse.

TAV
Ao ser perguntado sobre a importância de investir num projeto de trem de alta velocidade ao invés de novas ferrovias, Delcídio disse que considera mais importante olhar não apenas pela infraestrutura ferroviária. Na sua avaliação, pelo valor que se projeta para o trem de alta velocidade, de R$ 50 bilhões, e considerando o investimento de R$ 100 milhões gastos na construção de um quilômetro de metrô, seria possível construir nas cidades brasileiras o equivalente a 500 quilômetros de metrô – a maior cidade do País, São Paulo, tem apenas 75 quilômetros de metrô.

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“Temos dificuldades em relação aos projetos, aos
licenciamentos ambientais e toda burocracia que
lamentavelmente o Governo Federal não
consegue vencer

“A despeito da legitimidade do projeto do trem bala, em função de tudo que tem acontecido no Brasil, nós precisamos direcionar investimentos para aquilo que atenda o dia-a-dia da nossa gente, o dia-a-dia da população e atenda ao País como um todo e não uma determinada região”, salientou.

Rodovias

Como um modal para transporte de carga, Delcídio entende que as rodovias estão ultrapassadas. Por isso defende ferrovias e hidrovias. “Agora é hora da virada. Não podemos perder essa oportunidade porque o transporte rodoviário é caro e com a situação atual das nossas rodovias ele fica mais caro ainda, porque você gasta com manutenção, perde tempo no escoamento da produção. Também espero que os portos avancem, até porque hoje os portos representam um obstáculo à competitividade, à eficiência e, acima de tudo, ao objetivo de transformar o Brasil num grande país”, finalizou.

Marcello Antunes

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