Fátima: “Estamos em pleno século XXI, mas, infelizmente, parece que retornamos ao século XIX, pois ainda existe quem defenda a jornada de trabalho de 80 horas semanais, escola sem pluralismo e governo sem voto”O movimento Escola sem Partido não passa de uma fachada para fomentar uma escola com um partido único, ultraliberal na economia e ultraconservador no que diz respeito aos direitos humanos, alertou, em discurso ao plenário nesta quarta-feira (13) a senadora petista Fátima Bezerra (RN). Especialista em educação, a parlamentar demonstrou que o movimento, aparentemente liderado por um advogado, tem as marcas do Instituto Millenium e da antiga organização Tradição, Família e Propriedade (TFP), que teve seu ápice durante a ditadura militar.
Citando projetos que tramitam na Câmara e no Senado, Fátima mostrou que a ofensiva conservadora está sincronizada com o golpe que afastou a presidenta Dilma Rousseff e sonha em anular conquistas obtidas e consagradas na Constituição de 1988.”O projeto da “Escola sem Partido”, denominado pelos meus colegas professores como lei da mordaça, é apenas mais um sintoma do avanço do ultraconservadorismo na sociedade brasileira, fomentado em parte por uma grande mídia – esta, sim, que tem partido único –, por um Congresso Nacional que, infelizmente, adquire um perfil conservador, pela espetacularização e seletividade da justiça e por um governo ilegítimo edificado sob um golpe parlamentar”, denunciou.
Incentivados pelo golpe, movimentos de extremo conservadorismo tem ido às ruas e se sentido livres para sair das sombras e disputar espaço no Parlamento e até no Executivo, mostrou Fátima.
“Não se trata aqui de defender qualquer tipo de doutrinação nas escolas, mas o exercício do livre pensamento e da liberdade de ensino consagrada no art. 206 da Constituição Cidadã, da Constituição Federal. Não se trata de defender uma suposta ideologia de gênero, mas de educar para a cidadania, para o respeito às mais diversas identidades de gênero e orientações sexuais, evitando assim, que o preconceito e a intolerância produzam mais vítimas”, explicou, lembrando que vinte dos colégios particulares mais tradicionais de São Paulo já se manifestaram contra o Escola Sem Partido.
“Estamos em pleno século XXI, mas, infelizmente, parece que retornamos ao século XIX, pois ainda existe quem defenda a jornada de trabalho de 80 horas semanais, escola sem pluralismo e governo sem voto”, lamentou a senadora. Ela disse esperar que esse tipo de proposta não prospere e que o Senado não participe de um retrocesso dessas dimensões.
Giselle Chassot
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