A Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do Golpe retoma os trabalhos, após recesso, nesta terça-feira (1º/8), com reunião marcada para as 9h. Na pauta, o depoimento de Saulo Moura da Cunha, ex-diretor-adjunto da Agência Brasileira de Inteligência (Abin).
A oitiva de Saulo Moura da Cunha será na primeira reunião da CPMI após o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) revelar que Jair Bolsonaro recebeu R$ 17,1 milhões em transferências via Pix entre os dias 1º de janeiro e 4 de julho deste ano.
A CPMI também já tem em mãos os relatórios de inteligência financeira sobre Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, e de George Washington, condenado pela tentativa de ataque à bomba no Aeroporto de Brasília no fim do ano passado.
No caso de George Washington, segundo o Coaf, ele aparece com duas “movimentações com indícios de financiamento ao terrorismo” e ao menos uma vez teria feito “operações ou prestação de serviços, de qualquer valor, a pessoas ou entidades que reconhecidamente tenham cometido ou intentado cometer atos terroristas, ou deles participado ou facilitado o seu cometimento”.
O senador Rogério Carvalho (PT-SE), integrante do colegiado, destaca a importância da retomada das investigações, “fundamentais” para identificar os responsáveis pelo “grave atentado à nossa democracia e, consequentemente, dar respostas à nossa sociedade”.
“Esperamos que, nessa nova etapa, a comissão possa esclarecer os eventos e responsabilizar os envolvidos nesse ataque, garantindo a preservação do Estado de Direito e o respeito às instituições democráticas”, diz Rogério Carvalho.
Grande volume de documentos
A relatora da CPMI, senadora Eliziane Gama (PSD-MA), declarou semana passada que, durante o período de recesso parlamentar, a CPMI recebeu um grande volume de documentos sigilosos, “que vão respaldar tanto as oitivas quanto a apresentação de requerimentos para novas quebras de sigilo”.
“Nas próximas semanas, teremos reconvocações e acareações, de forma que possamos chegar aos autores intelectuais e aos financiadores do 8 de janeiro, um ato terrível contra a democracia brasileira”, afirmou.
Ainda no mês de agosto a CPMI deve ouvir também o ex-ministro da Justiça de Bolsonaro Anderson Torres, para falar sobre a acusação de omissão no dia 8 de janeiro, quando era secretário de Segurança Pública do Distrito Federal, e também sobre a minuta de decreto golpista encontrada pela Polícia Federal na casa dele. Além de Torres, os generais Augusto Heleno, Braga Neto e Gonçalves Dias deverão ter suas oitivas agendadas, conforme divulgado pelo site Metrópoles.
“É fundamental que a verdade seja revelada, e nosso empenho é para que as medidas adequadas sejam tomadas para evitar que episódios tão graves ocorram novamente. Acreditamos que a transparência e a Justiça são essenciais para a reconstrução da confiança em nosso sistema político e para assegurar que nossa democracia permaneça sólida e resiliente”, destaca o senador Rogério Carvalho.
Instalada em 25 de maio, a CPMI já ouviu oito depoentes e aprovou mais de 300 requerimentos, entre convocações de testemunhas, pedidos de informação e quebras de sigilos.
Na última reunião antes do recesso, em 11 de julho, o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, Mauro Cid Barbosa, fez uso do habeas corpus apresentado ao Supremo Tribunal Federal (STF) e não respondeu a nenhuma pergunta durante a oitiva. Ele foi preso no dia 3 de maio na Operação Venire, que apura suposto esquema de fraudes nos cartões de vacinação. A Polícia Federal encontrou em seu celular diversas mensagens de teor golpista trocadas com o coronel Jean Lawand.