Lindbergh: é preciso um relator isento. Não aceitamos o nome de Ana Amélia, porque seu partido já fechou questão a favor do impeachmentDepois de participar de uma reunião da bancada do PT no Senado na manhã desta segunda-feira (18), o senador Lindbergh Farias (PT-RJ) conversou com a imprensa sobre a sessão de ontem da Câmara dos Deputados . O assunto, naturalmente foi o pedido de abertura do processo de impeachment da presidenta Dilma Rousseff, mesmo que ela não tenha cometido qualquer crime, sem que ela tenha conta na Suíça ou responda a vários processos no Supremo Tribunal Federal (STF). Para o senador, o presidente Eduardo Cunha (PMDB-RJ) foi o comandante do circo de horrores a que os brasileiros assistiram ontem.
Aos jornalistas, Lindbergh disse que o debate no Senado será diferente do que se assistiu na Câmara, porque os senadores, conforme manda a lei, assumem uma postura de magistrado. E, para evitar que haja manobras como as que ocorreram na Câmara, Lindbergh alertou duas coisas. O rito para instalação da comissão especial de admissibilidade e as sessões deverão ser cumpridas à risca, sem atropelos como os articulados por Cunha e seus comparsas. “Romero Jucá (senador que apoia a chapa Temer-Cunha) já está colocando a carroça na frente dos bois, porque está querendo dizer quem é presidente e quem será relator da comissão especial”, disse. A segunda situação é a seguinte: o PT não vai aceitar o nome da senadora Ana Amélia (PP-RS) para a relatoria dessa comissão especial, pelo simples fato de que o seu partido já fechou questão a favor do golpe, a favor do impeachment de Dilma. “Há vários senadores isentos que podem assumir essa tarefa”, observou, menos Ana Amélia. Abaixo, as perguntas dos jornalistas ao senador Lindbergh Farias:
Repórter – Quem deve ser o presidente e o relator da comissão do Senado?
Lindbergh Farias – Romero Jucá está colocando a carroça na frente dos bois. Já está querendo dizer quem é presidente e quem é relator da comissão especial de admissibilidade. Na nossa opinião, a senadora Ana Amélia não pode ser relatora, porque o PP fechou questão a favor do impeachment. Nesse momento nós somos juízes. É preciso de um relator isento. Nós não vamos aceitar Ana Amélia como relatora. Nós queremos alguém isento. Nós temos vários senadores nessa casa com esse perfil. Agora nós temos um processo político e jurídico. Os senadores viram juízes e dos juízes se espera imparcialidade.
Repórter – Vocês aceitariam alguém do PMDB?
Lindbergh Farias – Têm vários nomes do PMDB que nós aceitaríamos. Têm figuras que preenchem esses pré-requisitos. Não vamos dar de barato isso. Outra coisa é o rito. O rito foi estabelecido em 1992 pelo então presidente do STF, Sidney Sanches, está lá. Na nossa avaliação, então, a possibilidade de se votar em plenário é no dia 11 de maio. Tem todo esse tempo. Primeiro, no dia de hoje se recebe a denúncia; amanhã o presidente lê em plenário. Aí tem até 48 horas para formar a comissão. A gente acha que a comissão tem que começar a funcionar a partir de segunda-feira (23), depois do feriado e depois ter 10 sessões. Então, não adianta querer acelerar. Sei que o senador Romero Jucá tem um apelido aqui – Romero Jucá, o breve – porque ele fez uma reunião do PMDB em três minutos. Nós não vamos aceitar que eles atropelem o rito estabelecido em 1992.
Repórter – O PT vai pedir a relatoria ou a presidência dessa comissão?
Lindbergh Farias – Nós vamos construir esse argumento de que é necessário um nome imparcial para ficar à frente desse processo. Na relatoria não pode ser o PP.
Repórter – Qual o sentimento dos senadores do PT?
Lindbergh Farias – Nós estamos horrorizados com o que aconteceu no dia de ontem. Aquilo é um escândalo, um circo de horrores comandado por Eduardo Cunha, basta ver a repercussão internacional disso: o chefe de uma quadrilha, como Eduardo Cunha, querendo afastar uma presidenta honrada, honesta. Ver as declarações de Bolsonaro; ver as declarações do próprio Eduardo Cunha dizendo “Deus tenha misericórdia dessa nação”. Pelo amor de Deus, o que foi aquilo? Nós estamos contando com uma coisa para virar o jogo no Senado. Sabe qual é? São as pesquisas. Elas vão mostrar que esse Michel Temer não tem legitimidade. Ontem foram feitas pesquisas pelo Datafolha nos dois lados dos manifestantes. Nas passeatas contra o governo, mais de 50% querem Michel Temer fora, querem o impeachment dele.
Repórter – Vocês vão trabalhar para o impeachment de Michel Temer?
Repórter – Nós não aceitamos Michel Temer como presidente da República. Ele não tem legitimidade. Participou de uma conspiração junto com Eduardo Cunha. Tem uma chapa do golpe, que é Temer e Cunha, porque o Cunha vira vice-presidente. Foi um escândalo o que aconteceu ontem. Eu espero e o Senado é diferente da Câmara. Aqui dá para ter um debate mais sereno, mais equilibrado. Nós confiamos, ainda, na possibilidade de derrotar a admissibilidade. As pesquisas e a baixa popularidade de Temer mostram que ele não tem condições de ficar no governo. Eu vou além. Na hipótese de golpe se consumar e eles vencerem aqui no Senado, Temer não se sustenta três meses. As ruas vão pedir a cabeça dele. Ninguém vai aceitar isso. Esse é o impasse que estamos vivendo e aqui eu espero que o debate seja mais equilibrado, porque não há base jurídica para o afastamento da presidenta Dilma.
Repórter – E eleições diretas?
Lindbergh Farias – A gente veio aqui fazer um xeque mate em cima de argumentos. Na Câmara era aquela gritaria. O pessoal votava pela família, mas não explicava quais motivos jurídicos que estavam votando. Aqui a gente acha que o jogo vai ser diferente.
Repórter – O PT vai trabalhar pelo impeachment do vice-presidente caso ele assuma?
Lindbergh Farias – Nós não estamos discutindo isso. Nós estamos lutando contra esse impeachment ilegal contra a presidenta Dilma Rousseff. Agora, de fato, posso dizer a você: nós não reconheceríamos um presidente da República fruto de um processo como esse.
Repórter – O PT vai abrir mão da presidência e da relatoria?
Lindbergh Farias – Não. Nós vamos disputar isso. O PT quer indicar outro nome que não seja do partido. Temos vários outros nomes. Ana Amélia não é um nome imparcial. Ela é de um partido que já fechou questão a favor do impeachment.
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