Estudantes da UnB ocupam a reitoria do campus Darcy Ribeiro (Fotos: Alessandro Dantas)Rafael Noronha/PT no Senado
Estudantes da Universidade de Brasília (UnB) aderiram, na noite da última segunda-feira (31), ao movimento de ocupação das escolas e universidades que se mobilizam por todo País contra propostas que representam o sucateamento do ensino. Entre elas, a PEC 55/2016 (na Câmara, PEC 241), que congela os investimentos governamentais pelos próximos 20 anos, e outros projetos como o Escola sem Partido e a Reforma do Ensino Médio.
Em nota, os alunos informaram que mais de 1.300 estudantes participaram da assembleia que decidiu pela ocupação do campus Darcy Ribeiro, maior número de participantes desde 2008. “Esse número mostra uma real preocupação dos estudantes com o que está acontecendo no País”, disse a vice-presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE) no Distrito Federal, Luiza Calvette. Além disso, mais faculdades do campus Darcy Ribeiro, da UnB, ainda decidirão se vão aderir ao movimento. Outro campus da instituição, localizado em Planaltina-DF, também está ocupado pelos estudantes.
Além da posição contrária à PEC 55/2016, conhecida como PEC da Maldade, os estudantes também manifestaram, em assembleia, posição contrária à proposta de reforma do ensino médio, apresentada via Medida Provisória 746/2016, que, segundo nota divulgada pelo movimento, “deseja destruir carreiras docentes e conteúdo da base nacional comum curricular”. Outro ponto de repúdio por parte dos estudantes é o projeto Escola sem Partido que “pretende restringir a livre discussão sobre os conteúdos de gênero e sexualidade assim como qualquer debate crítico, além de destruir as organizações dos grêmios estudantis”.
Luiza Calvette explicou que a UnB se soma a onda de ocupações que ocorrem em todo o Brasil, com mais de mil escolas e aproximadamente uma centena de universidades ocupadas numa resistência dos estudantes aos retrocessos impostos pelo governo Temer.
“A UnB se coloca como mais um ponto de resistência contra esses retrocessos. A UnB é uma referência e estamos no coração do País e não seria justo ficarmos de fora desse movimento de resistência e nos colocamos contra a tentativa de sucateamento da educação pública”, disse.
Para Luiza, após um ciclo de avanços na educação, mais especificamente na universalização do ensino superior gratuito, a PEC da Maldade deixa clara a intenção do governo ilegítimo de Michel Temer de restringir o acesso à educação, acabar com a universidade pública como ela existe atualmente e promovendo a redução do número de vagas ou reduzindo a qualidade do ensino.
Com relação aos projetos de reforma do ensino médio e da proposta que ficou conhecida como “Escola sem partido”, Luiza explica que, apesar do que muitos imaginam, os dois projetos não impactam somente o ensino médio, já que é na universidade em que os docentes que darão aulas nessas escolas são formados. “Esses projetos são muito caros, já que coloca o puro saber sem o pensamento crítico diminuindo a oportunidade de conhecimento dos estudantes”, disse.
Na avaliação da estudante, as matérias que pretendem alterar a forma de organização educacional no País fazem parte de um novo projeto de País, idealizado pelo governo ilegítimo. Neste pacote, propostas como a Escola sem partido, a PEC da Maldade, a reforma do ensino médio, aliadas ao congelamento do salário mínimo, a reforma da previdência e a ampliação da terceirização, visam “precarizar cada vez mais a vida do povo brasileiro”.
Movimento apartidário
Ao contrário do que políticos de direita têm pregado, a estudante da UnB Jade Santana Linhares explicou que, apesar de existirem muitos grupos de juventudes partidárias na universidade, em nenhum momento a ocupação foi liderada por qualquer tipo de partido político ou liderança partidária. “Aqui é possível verificar que não tem adesivo, bandeira de nenhum partido político. Na assembleia ontem pudemos constatar isso. Muitos estudantes nunca tinham participado de atos ou mobilizações políticas na UnB”, salientou.
Outra falácia proferida por políticos contrários às ocupações das escolas também foi desmentida pela estudante: a deque os alunos que aderem ao movimento não ficam sem nenhum tipo de atividade. Segundo Jade, aulas, oficinas e palestras são ministradas àqueles que aderem ao movimento, inclusive, no prédio da reitoria da universidade.
Respeito ao movimento dos estudantes
Na última segunda-feira, a senadora Fátima Bezerra (PT-RN), que é vice-presidente da Comissão de Educação, disse, em plenário, que o movimento de ocupação das escolas promovidos por alunos de todos País merece, além de ser respeitado, receber toda solidariedade por parte dos parlamentares.
“Os estudantes estão dando lições de sabedoria, de compreensão, de convicção. Eles não estão a serviço de partido A, B ou C; eles estão a serviço de uma causa que é uma das mais nobres para o desenvolvimento de um país, que é a educação”, destacou.
A senadora ainda disse que um dos maiores orgulhos que guarda é, ao longo dos 13 anos dos governos Lula e Dilma, ao lado dos movimentos sociais, ter dado sua contribuição para que a educação brasileira pudesse avançar com a criação do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb), a construção de creches, a instituição do piso salarial dos professores e a expansão da rede de escolas técnicas.
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