O ex-diretor-adjunto da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Saulo Moura da Cunha, desmentiu nesta terça-feira (1°/8) mais uma tentativa dos parlamentares bolsonaristas de alimentar a tese de participação dos integrantes do governo Lula na articulação da tentativa de golpe de 8 de janeiro deste ano.
Desde o início das investigações, aliados do ex-presidente tentam emplacar a ideia de que membros do atual governo teriam facilitado a ação dos terroristas que depredaram os prédios das sedes dos Três Poderes numa tentativa de criar um caos institucional e inviabilizar a sequência do mandato do presidente Lula.
Numa tentativa de colocar o ministro da Justiça, Flávio Dino, no centro da falsa polêmica, bolsonaristas tentaram emplacar a ideia de que Dino teria ignorado alertas recebidos por ele antes dos ataques.
“Eu nunca afirmei que o ministro da Justiça recebeu os informes. Eu disse que os informes foram encaminhados para a diretoria de inteligência da secretaria de operações integradas do Ministério da Justiça”, respondeu Saulo, em depoimento à CPMI do Golpe.
O ex-diretor da Abin foi convocado para explicar detalhes dos alertas emitidos pela Abin sobre o risco de invasão de prédios públicos na Praça dos Três Poderes. De acordo com o depoente, o órgão emitiu 33 alertas de inteligência entre os dias 2 e 8 de janeiro. Os alertas são documentos mais simples do que os relatórios de inteligência.
“Nesses alertas, nós falamos ali que houve detecção de estímulo a invasões e ocupação de prédios. Nós falamos, no próprio dia 8, sobre a presença de pessoas que diziam estar armadas e, posteriormente, apresentamos a identificação de algumas dessas pessoas”, disse.
“A operação do dia 8 estava a cargo da Secretaria de Segurança Pública [do Distrito Federal], que dispõe de uma inteligência própria, para a qual nós estávamos encaminhando informações também praticamente em tempo real”, emendou Saulo.
O deputado federal Rogério Correia (PT-MG), inclusive, cobrou a marcação do depoimento do ex-secretário de Segurança Pública do DF, Anderson Torres. Para o petista, é preciso que Torres dê explicações para o fato de assumir o cargo e, dias depois, viajar aos Estados Unidos, deixando “à deriva” o setor de segurança da capital do país.
Silêncio da PRF
Durante o depoimento, Saulo Moura da Cunha explicou aos parlamentares que a Abin recebeu informações apenas da Agência Nacional de Transportes Terrestres, com relação à quantidade de ônibus que se deslocaram para Brasília, com os golpistas, nas vésperas da tentativa de golpe.
A Polícia Rodoviária Federal (PRF) não comunicou, segundo ele, “nenhuma movimentação atípica”. Além disso, não foram recebidos relatórios de inteligência de nenhum órgão sobre o acampamento montado em frente ao Quartel-General do Exército, no Setor Militar Urbano, em Brasília.
“Quem faz policiamento ostensivo é a Polícia Militar, não é o GSI, não é a Polícia Federal e nem é a PRF. Quem faz o policiamento ostensivo é a Polícia Militar, e ele [Flávio Dino] fez várias demandas ao Governador do Distrito Federal. Tem provas, documentos e ofícios do ministro Flávio Dino demandando o governador [Ibaneis Rocha], a Polícia Militar do DF e a Secretaria de Segurança Pública para agirem, para que não houvesse exatamente o que aconteceu”, lembrou a deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ).
O deputado Rogério Correia informou que apresentará requerimento para convocação do governador do DF, Ibaneis Rocha, para detalhar os motivos pelos quais não respondeu às ofertas de apoio operacional feitas pelo governo federal no dia do ataque.
Ataques orquestrados
Saulo Moura da Cunha também relatou, durante o depoimento, que os ataques golpistas promovidos por apoiadores de Bolsonaro “não são fatos isolados”.
A deputada Duda Salabert (PDT-MG) elencou episódios como o vandalismo promovido em 12 de dezembro, a tentativa de explodir uma bomba nos arredores aeroporto da capital, os bloqueios feitos por caminhoneiros bolsonaristas em estradas contra o resultado das urnas e, finalmente, os ataques de 8 de janeiro.
“Nós encaminhamos uma série de relatórios, que estão à disposição da CPMI. Esses relatórios obviamente enxergam uma sucessão de fatos, certo? Não são fatos isolados. Esses relatórios foram encaminhados não só à CPMI, mas também foram encaminhados à Polícia Federal, que está conduzindo o inquérito sobre atos extremistas”, disse Saulo.