A concentração de poder e de atribuições nas mãos de um pressuposto superministro da Economia levou à completa desorganização do setor produtivo nacional. O economista Paulo Guedes, tão cioso em reservar R$ 1,2 bilhão para garantir a rentabilidade do sistema financeiro na crise do coronavírus, não agiu da mesma forma em relação à economia real. Agora, a crise se agrava e setores da indústria estão ameaçados de maneira preocupante. A paralisação de cadeias produtivas devido à falta de insumos acontece por absoluta ausência de planejamento para a retomada das atividades.
A indústria automobilística, por exemplo, foi atingida em cheio pelo caos na gestão da política econômica. O presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Luiz Carlos Moraes, anunciou que as montadoras de veículos podem parar a produção nas próximas semanas por falta de matéria-prima e pela alta acelerada dos valores dos insumos. Ele concedia entrevista coletiva de balanço mensal do setor quando fez o alerta, nesta segunda-feira, 7. “A gente faz coisas impossíveis, mas milagre ainda não fazemos. Se faltar peça, a consequência é dificuldade na entrega de veículos. O risco de paralisação é muito alto agora para dezembro e pode acontecer até para esta semana”, comentou.
“Falta insumo por conta do descompasso trazido pela pandemia. Houve queda abrupta em abril e retomada mais forte no último trimestre”, explicou. O principal impacto para o consumidor desse descompasso serão carros mais caros nas concessionárias. Morais afirma que não repassar a pressão inflacionária para o preço final do produto é quase impossível. “O aumento dos custos é difícil de administrar. A desvalorização [do real] é bastante acima de outros países e tem impacto direto no setor. É a principal razão do impacto nos preços. Isso afeta o material importado e toda a cadeia. Temos dificuldade de não repassar”, justificou.
Setor já demitiu mais de 6 mil
Além da redução de estoques de insumo, os postos de trabalho também sofreram forte impacto. Até novembro, já haviam sido cortadas 6,3 mil vagas nas montadoras em 12 meses – 4,8 mil a partir do início da pandemia. O número acumulado desde outubro de 2019 representa redução de 5% nos quadros, e ainda há diversas empresas com programas de demissão voluntária.
De setembro para outubro, foram demitidos 1.492 trabalhadores e contratados outros 592, com um gap de 900. Em novembro, as oportunidades de trabalho oferecidas pela indústria automobilística pioraram. Na virada de outubro para o mês passado, o total de vagas passou de 121,4 mil para 120,8 mil. Moraes afirmou que, no período, 1.284 funcionários deixaram as funções por aderir a PDVs ou foram demitidos após contratos temporários serem encerrados.