PACOTE DO VENENO

Frente avança na luta contra boiada dos agrotóxicos no Senado

Pressão pode fazer com que projeto que impõe descontrole de venenos tenha seu debate ampliado

Frente Parlamentar de Segurança Alimentar e Nutricional

Frente avança na luta contra boiada dos agrotóxicos no Senado

Foto: Alessandro Dantas

Não foi uma promessa, como aquela feita em 9 de março a artistas e movimentos sociais durante o Ato pela Terra, quando o presidente do Senado garantiu que projetos do Pacote do Veneno teriam “a destinação, o zelo, o cuidado, a tramitação digna e proporcional à importância que eles representam”. Nesta terça-feira (14), em encontro com representantes de movimentos e da Frente Parlamentar de Segurança Alimentar e Nutricional (FPSAN), Rodrigo Pacheco foi mais comedido, mas afirmou que é “legítima” a demanda de que o PL do Veneno (1459/2022), um dos itens do tal pacote, seja discutido também pelas comissões de Meio Ambiente (CMA), de Assuntos Sociais (CAS) e de Direitos Humanos (CDH), e não só na Comissão de Agricultura (CRA), para onde ele, Pacheco, despachou a matéria em regime terminativo, ou seja, dispensando-a de votação em Plenário.

O PL do Veneno, segundo Pacheco, “terá toda atenção da Presidência do Senado. Esse tema já está sendo discutido e tratado com as lideranças da Minoria, da Oposição, do PT. Daremos, evidentemente, toda a atenção, agora com o acréscimo dessa reivindicação muito legítima de vocês”, disse o senador, que recebeu dos movimentos uma cesta de produtos orgânicos para simbolizar a luta pela alimentação saudável, além de cópia de um dossiê sobre os impactos dos agrotóxicos na saúde e no meio ambiente.

Antigo PL 6299/2022, antes de ser renumerado, o PL do Veneno acaba com a atual lei de agrotóxicos para flexibilizar a aprovação de substâncias mais perigosas, sem estudos conclusivos. Entre outros retrocessos, o texto retira poderes de órgãos de aprovação e fiscalização, como Anvisa e Ibama, e amplia a lista de produtos comercializáveis, vedando apenas os que possam trazer “risco inaceitável”, conceito que ficaria a cargo do Ministério da Agricultura determinar. Até o momento, o que se garantiu foi a realização, na CRA, de duas audiências públicas sobre o assunto, marcadas para os dias 22 e 23 de junho.

15 anos da Frente

A conversa com o presidente do Senado aconteceu logo após café da manhã que celebrou o aniversário de 15 anos da FPSAN, presidida pelo deputado federal Padre João (PT-MG) e integrada por 184 deputados e 16 senadores. Entre um e outro quitute saudável e saboroso, o encontro entre parlamentares e integrantes de movimentos sociais e ambientais serviu, claro, para reforçar a luta contra esse conjunto de projetos, em análise no Senado.

Foto: Alessandro Dantas

O evento agroecológico e orgânico, preparado no gabinete da Liderança do PT, foi saudado pelo líder da bancada, senador Paulo Rocha (PA), que parabenizou a Frente pela luta histórica e reafirmou a necessidade de ocupar todos os espaços possíveis na sociedade para tratar desse assunto. O líder informou, ainda, que uma comissão de lideranças populares vai intensificar a costura e a pressão sobre os demais parlamentares para evitar o avanço do PL.

“A forma de pressionar e cobrar é em cima deles, além de naturalmente [ficarmos] na cola do presidente da Casa”, reiterou Paulo Rocha.

Também presente ao café, o líder da Minoria, Jean Paul Prates (PT-RN), falou da importância de intensificar a luta para que o PL do Veneno seja analisado por mais comissões, com mais audiências públicas, e explicou a estratégia.

Foto: Alessandro Dantas

“Isso não é somente uma atitude protelatória, é uma necessidade, mesmo. Porque um dos atos de resistência que temos aqui [no Congresso] é a estratégia do constrangimento, é fazer com que esse pessoal fale o que pretende fazer: ‘É isso mesmo que você quer?’ Porque ele será cobrado na sua base”, afirmou, em referência à proposta ruralista de colocar mais venenos à mesa dos brasileiros.

O senador Fabiano Contarato (PT-ES) somou argumentos aos colegas e lembrou que alguns desses agrotóxicos contaminam a água brasileira 200 vezes mais do que o permitido em países europeus, por exemplo. Isso sem contar a pulverização de veneno sobre a população, principalmente a indígena.

“Eu estive nas comunidades dos Guarani-Kaiowá antes da pandemia e verifiquei que aquele povo está sendo dizimado. Eu presenciei. São aviões lançando agrotóxico e as comunidades indígenas cercadas de plantação de grãos. Pessoas morrendo com febre, dor de cabeça, diarreia. Eu peguei estudos de universidades federais. Isso tem que ser dito à população, temos que ficar repetindo em todos os lugares, porque contra fatos não há argumentos”, pregou Contarato.

Juliana Acosta, da Campanha Permanente contra os Agrotóxicos e pela Vida, chamou a atenção para o número recorde de substâncias venenosas na agricultura aprovadas desde 2019 no país — mais de 1.700 — e o plano do governo de abrir de vez a porteira por meio do atual projeto, “um novo marco legal, muito mais permissivo do ponto de vista da saúde e do meio ambiente”.

Antídoto

Para se contrapor ao PL do Veneno, a FPSAN e os movimentos sociais têm uma alternativa: a Política Nacional de Redução de Agrotóxicos (PNara), que prevê a redução gradual do uso de agrotóxicos e o estímulo à transição orgânica e agroecológica. Outra providência desse projeto (PL 6.670/2016) é proibir a aplicação de veneno próximo a áreas de proteção ambiental, de recursos hídricos, de produção orgânica e agroecológica, de moradia e de escolas, além da redução da pulverização aérea. Originária de sugestão legislativa da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), a proposta está em análise na Câmara dos Deputados.

Representantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST), do Movimento pela Soberania Popular na Mineração (MAM) e das ONGs Terra de Direitos, WWF e Greenpeace também participaram do evento-denúncia no Senado. Além de outras organizações, como a Fiocruz e a Abrasco, a FPSAN conta com o apoio de outros grupos parlamentares, como a Frente Parlamentar pelo Desenvolvimento da Agroecologia e Produção Orgânica e a Frente Parlamentar Mista de Combate à Fome no Brasil.

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