Gleisi: vão salvar uma das lideranças políticas mais corruptas da nossa históriaA senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) denunciou, em pronunciamento ao plenário nesta segunda-feira (18), as articulações que buscam livrar o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), de responder pelas acusações de corrupção que pesam sobre ele. Ela citou as declarações de dois deputados paranaenses, Osmar Serraglio (PMDB) e Dilceu Spaerafico (PP), defendendo a “anistia” ou a “salvação” de Cunha pelos serviços prestados na aprovação da admissibilidade do impeachment da presidenta Dilma Rousseff, no último domingo (17).
O deputado Serraglio declarou a um jornal do Paraná: “Eduardo Cunha exerceu um papel fundamental para aprovarmos o impeachment da presidenta. Merece ser anistiado”. Dilceu Sperafico foi além: “Outro Deputado qualquer não teria resistido às pressões do Palácio do Planalto. Vamos salvá-lo”.
“Anistiar o Eduardo Cunha?!”, indignou-se Gleisi. “Vão salvar uma das lideranças políticas mais corruptas da nossa história?. Que moral tem essa Câmara que protagonizou esse escândalo todo de ontem, um vexame, que nos coloca diante da opinião pública internacional de forma a ter vergonha do Parlamento brasileiro?”, protestou a senadora.
Ela classificou a sessão da Câmara do último domingo como “um dia triste para a democracia brasileira”, já que a “Constituição federal foi ferida e o poder do voto do eleitor foi relativizado” pela decisão da maioria dos deputados. “A decisão mais grave em uma democracia é desfazer o voto do eleitor”, lamentou a senadora, que criticou duramente o papel desempenhado pelo vice-presidente Michel Temer nesse enredo.
“É lamentável que o protagonista desse golpe seja o vice-presidente da República, que teve a confiança da presidenta Dilma”. Gleisi lembrou que Temer esteve ao longo de todo o governo dentro do Palácio do Planalto, tendo chegado inclusive a ocupar a função de articulador político. Com o golpe do impeachment, Gleisi acusa Temer de “abrir mão da sua dignidade para entrar no Palácio do Planalto pela porta dos fundos, pela porta dos traidores”
Ela também criticou a ausência de debate na Câmara, dos fundamentos concretos do pedido de impeachment. “O que assistimos ontem foi tudo, menos a discussão daquilo que alguma razão à abertura de um processo de impeachment. Falaram em nome de tudo: do pai, da mãe, do irmão, da tia, do sobrinho. E usaram o nome de Deus em vão. Nunca vi uma sessão para se falar tanto em Deus, usando o seu nome em vão”, lembrou, ressaltando que embora os instrumentos da democracia prevejam o impeachment, a Constituição é clara ao determinar que é preciso haver o crime de responsabilidade bem definido, conceituado como pressuposto para o impedimento do eleito.
Sobre tantas citações religiosas, a senadora lembrou um trecho do Evangelho de São Mateus que relata Jesus se referindo aos fariseus e diz: “Ai de vós, mestres da lei e fariseus, hipócritas, pois que sois como sepulcros caiados, por fora parecem belos, mas por dentro estão cheios de ossos de mortos e de toda a podridão. Assim também vós por fora pareceis justos diante dos outros, mas por dentro estais cheios de hipocrisia e injustiça.”
“Nada se aplica melhor àquela sessão de ontem na Câmara dos Deputados do que esse trecho do Evangelho”, afirmou a senadora. “Pessoas envolvidas nas maiores, nas mais diversas questões de corrupção, desvios, má conduta estavam ali fazendo um julgamento aos berros, bradando contra uma presidenta da República que não tinha crime. Não tinha crime definido constitucionalmente e com base jurídica. É muito triste o que nós vimos lá”.
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