Irresponsabilidade

Gleisi: Subserviência de Bolsonaro aos EUA deixará povo sem médicos

Senadora condena preconceito de militar reformado. Mais de 1.500 municípios do país têm apenas médicos cubanos
Gleisi: Subserviência de Bolsonaro aos EUA deixará povo sem médicos

Foto: Alessandro Dantas

A presidenta nacional do PT, Gleisi Hoffmann, condenou a “agressividade” de Jair Bolsonaro contra os médicos cubanos. Em discurso nesta segunda-feira (19), ela questionou se a subserviência do militar reformado aos Estados Unidos deixará o povo brasileiro sem atendimento médico.

Na semana passada, o Ministério da Saúde de Cuba informou que os profissionais deixarão o Brasil devido às “declarações ameaçadoras e depreciativas” de Bolsonaro. Em agosto, o militar declarou que expulsaria os médicos cubanos do país.

“Como senhor fala uma coisa dessas, colocarão quais profissionais no lugar? Qual é a sua responsabilidade, Bolsonaro? A subserviência ao governo americano vai fazer você matar a sua gente? Vai fazer a sua gente ficar sem assistência médica? É uma vergonha o que estamos passando”, disse Gleisi.

As afirmações depreciativas de Bolsonaro deixarão 60 milhões de pessoas sem médicos e se somam a atos de demonstração total de apoio ao governo norte-americano. Entre eles, a indicação de um ministro das Relações Exteriores que é “Estados Unidos acima de tudo”.

Entre os 1.575 municípios que contam somente profissionais cubanos no programa Mais Médicos, 80% possuem menos de 20 mil habitantes.

Gleisi chegou a se emocionar ao agradecer o carinho e atenção dos médicos cubanos com os brasileiros e as brasileiras desde que chegaram ao país.

“Fico emocionada porque, durante a minha campanha em regiões de periferia, eu via o sofrimento de povo pobre. Você ter um filho doente, num posto de saúde, e precisar de médico. Essa gente vai sofrer. Vai sofrer pela insensibilidade de alguém que faz da sua atuação política uma apologia à ideologia”, afirmou a senadora pelo Paraná.

Para atuarem no Mais Médicos, todos os profissionais, independentemente do país de origem, precisam ter diploma de medicina expedido por instituição de ensino superior estrangeira, habilitação para o exercício da profissão no país de origem e ter conhecimento de língua portuguesa, regras de organização do SUS e de protocolos e diretrizes clínicas de atenção básica.

Trabalho escravo uma ova

A primeira atuação em massa de médicos cubanos no exterior ocorreu em 2005. Na época, o então presidente cubano Fidel Castro propôs aos Estados Unidos o envio de 1100 médicos e 26,4 toneladas de medicamentos para ajudar as vítimas do furacão “Katrina”. O fenômeno devastou os estados de Luisiana e do Mississipi.

Posteriormente, o governo cubano passou a fazer parcerias com diversos países pelo mundo – inclusive sem cobrar nada, como ações no Congo, por exemplo. Ao todo, 66 nações do mundo têm parceria com o governo cubano para ceder profissionais de medicina.

No caso brasileiro, um acordo entre o então governo Dilma, em 2013, com a Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), permitiu a vinda de cerca de 20 mil médicos cubanos ao país, desde então. Recentemente, 8,3 mil atuaram no Brasil.

Os médicos vêm para cá, aliás, por livre e espontânea vontade, sendo os salários pagos com valores previamente combinados com o governo cubano.

“Uma estatal cubana abre edital para contratar médicos em seu território. E diz: faremos convênio com determinado país, como o Brasil, e é dito exatamente quanto o médico receberá. Os cubanos se inscrevem naquele programa, sabem quanto irão ganhar e quais condições terão nos países que vão atender. Ninguém é enganado em Cuba”, explicou Gleisi Hoffmann.

A fala desmente boatos de que profissionais cubanos são tratados como “escravos” pelos recursos do Mais Médicos serem enviados diretamente ao governo de Cuba. Os valores financiam, entre outros, o acesso gratuito do povo à saúde e à educação.

“Cuba faz convênios com a Opas e cobra um valor por esse serviço. Inclui o salário dos médicos, todas as garantias sociais e, inclusive, seguro e riscos que médicos têm no território brasileiro. Se acontecer qualquer coisa com médico cubano, quem atende é o governo cubano – como seguro, assistência à família em caso de morte e invalidez”, disse a senadora petista.

Valores irrisórios no Brasil

Paralelo ao debate sobre os profissionais estrangeiros, Gleisi questionou os valores recebidos pelos médicos brasileiros. Em artigo escrito em 2011, o médico Drauzio Varella afirmou que um profissional que atende por plano de saúde ganha, em média, R$ 20 por consulta.

“Aí o pessoal diz que o médico cubano é trabalhador escravo. Os médicos brasileiros, em planos de saúde, ganham R$20. Só que eles têm que manter todo o consultório e têm que tirar o pró-labore. Para isso, precisariam atender 36 clientes por dia. É por isso que a gente compreende o que os médicos fazem quando recebem a gente no consultório: em 15 minutos, eles olham e dão o diagnóstico. Um médico cubano atende, pelo menos, de 30 a 40 minutos, senão uma hora. Conversa com o paciente, quer saber como ele está, quer saber da sua vida, das suas relações. É outro tipo de atendimento”.

No discurso ao plenário, Gleisi ainda explicou que o Mais Médicos foi criado porque os profissionais do país não tinham interesse de atuar nas pequenas localidades e regiões mais pobres.

“Fico muito impactada com o que falou o candidato eleito, que os municípios que reclamam da saída dos médicos cubanos é porque antes demitiram outros profissionais de saúde. Ora, nós fizemos o Mais Médicos porque não tinham médicos no Brasil que se dispusessem a ir aos pequenos municípios, ao interior do país, aos distritos indígenas, às regiões pobres da periferia brasileira”, disse Gleisi.

 

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