O ex-ministro da Educação do governo Bolsonaro, Milton Ribeiro, já envolvido em escândalos de corrupção, juntamente com os pastores Arilton Moura e Gilmar Santos, teve mais detalhes das negociatas espúrias com os recursos da educação pública promovidas pelo atual governo tornadas públicas nesta semana.
De acordo com a reportagem do jornal O Estado de S. Paulo, o pastor Milton Ribeiro autorizou que contratos de obras federais de escolas fossem negociados em troca de reformas de igrejas. As igrejas que seriam beneficiadas pelo esquema seriam justamente de Arilton e Gilmar.
Segundo Ailson Souto Trindade, empresário do ramo da construção civil, a propina seria entregue em dinheiro vivo e, em seguida, escondida na roda de uma caminhonete. O veículo levaria os valores até Goiânia, onde fica a sede da igreja de Arilton e Gilmar.
O empresário contou que foi informado a ele da necessidade de os pastores reformarem igrejas e construírem alguns templos. Para isso, eles precisavam de R$ 100 milhões. “Eles queriam R$ 5 milhões em dois dias. Eu falei: ‘mas eu não posso fazer esse tipo de negócio, eu sou empresário, eu não vou fazer uma coisa assim sem nenhum contrato’. E eles queriam que eu colocasse no pneu de uma caminhonete e mandasse para lá”, relatou.
A propina seria mascarada por meio de um contrato fictício firmado entre a igreja de Gilmar e a empresa de Trindade.
“Isso só reforça aquilo que todos já sabemos e que o governo, com a conivência da Procuradoria Geral da República, quer enterrar: o enorme escândalo de corrupção montado dentro do MEC. São elementos suficientes para que se promova uma devassa aprofundada ali, que, certamente, vai chegar às digitais de Bolsonaro, cuja interferência já foi denunciada por seu próprio ex-ministro”, apontou o senador Humberto Costa (PT-PE), presidente da Comissão de Direitos Humanos (CDH).
A investigação sobre o escândalo de corrupção no MEC é alvo de um inquérito, que tramita de forma sigilosa no Supremo Tribunal Federal (STF), justamente pela existência da suspeita de interferência de Jair Bolsonaro (PL) na investigação contra o ex-ministro, que apurava a existência de um “gabinete paralelo” no ministério da Educação, que seria chefiado pelos pastores.
O ex-ministro da Educação já afirmou, em março, que recebeu os pastores envolvidos no escândalo a pedido de Bolsonaro. Os recursos negociados pelo “gabinete paralelo” do MEC são do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE). O fundo concentra os recursos federais destinados a transferências para municípios. Em outras oportunidades, prefeitos relataram, inclusive, pedidos de propina em ouro e de dinheiro para confecção de bíblias como condição liberação de recursos destinados à educação pública.