É o terceiro ano consecutivo que a parte sul gaúcha enfrenta grave estiagem, e 317 municípios já decretaram estado de emergência. Das 1,2 mil propriedades atingidas diretamente pela falta de chuva, mais de 800 são pequenas e estão localizadas em assentamentos. Para verificar o estrago nas lavouras e debater ações para mitigar os efeitos da seca, uma comitiva de ministros esteve nesta quinta-feira (23) em Hulha Negra, a poucos quilômetros da fronteira com o Uruguai.
Na véspera, o Planalto anunciou a liberação de recursos para ações emergenciais, notícia recebida com alívio pelo senador Paulo Paim (PT-RS). “Excelente notícia para o Rio Grande do Sul: R$ 430 milhões para ações emergenciais contra a seca. Governo Federal age rápido. Presidente Lula autorizou repasse”, destacou.
Estiveram na região os ministros Paulo Teixeira, do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar; Carlos Fávaro, da Agricultura e Pecuária; Wellington Dias, do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome; Waldez Góes, da Integração e Desenvolvimento Regional; e Paulo Pimenta, da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República; além do presidente da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), Edgar Pretto.
Entre as medidas anunciadas estão abastecimento das residências com carros-pipas, envio de cestas básicas, abertura de linha de crédito para pequenos e médios produtores e repasse emergencial de até R$ 2.400 para 10 mil famílias de agricultores de baixa renda, inscritos no Cadastro Único federal. Já para os agricultores familiares que conseguiram produzir, o governo Lula vai garantir a compra do que for colhido por meio do Programa de Aquisição de Alimentos.
“Quem vive do campo está acostumado a esperar pela chuva, principalmente aqueles agricultores que dependem unicamente dela para molhar o chão de onde tiram seu sustento. Hoje, no RS, olhamos de perto a realidade dura de brasileiros que viram essa espera se prolongar demais. E ainda hoje sofrem com a estiagem que atinge fortemente o estado. Enquanto a chuva não vem, fizemos um compromisso, por determinação do presidente Lula, de não medir esforços para ajudar esses agricultores”, assegurou o ministro Wellington Dias.
As plantações de soja e milho, além da produção leiteira e de mel são as mais afetadas. Sem água, não há lavoura, planta, pasto. Só prejuízo. De acordo com o Instituto de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater), as perdas superam os R$ 38 milhões, fora o prejuízo dos anos anteriores. O fato é que, nesse ciclo, os produtores locais têm trabalhado apenas para pagar o financiamento contratado.
Por isso, além da ajuda mais urgente, o governo Lula vai criar um grupo de trabalho com o governo do estado, prefeituras e entidades do setor para buscar medidas complementares, afirmou o ministro Paulo Pimenta. As primeiras ações anunciadas, informaram os ministros, vão beneficiar até 30 mil famílias gaúchas. Entre as prioridades está salvar o rebanho que resta em pé.
Fenômeno climático
As seguidas temporadas sem chuva na porção sul do estado estão relacionadas ao La Niña, fenômeno que impede a ocorrência de chuvas fortes. Era para ter passado, dando lugar ao El Niño, que traz as chuvas, mas mesmo os cientistas não conseguem entender o porquê dessa demora. O fato é que a última vez que La Niña durou tanto foi entre 1973 e 1976.