“Houve uma falta de tato, um erro da comunicação social do Departamento de Polícia Federal. Uma falha que vem ocorrendo a algum tempo”, disse o presidente do Sindicato dos Policiais Federais do Distrito Federal (SINDIPOL) Flávio Werneck Meneguelli durante audiência pública da Comissão de Direitos Humanos (CDH) para debater os efeitos da operação Carne Fraca sobre a produção de carnes do Brasil.
“A operação na medida do possível, pasmem, deveria ser sigilosa. A operação é parte de uma investigação e precisamos guardar determinado sigilo para que se atinja o fim, a resolução do problema. No Brasil ocorre uma situação esquizofrênica. A necessidade de se apresentar a mídia uma operação como se fosse o resultado final de uma investigação policial e se apresenta um rol de culpados sem que sequer tenham sido condenados”, disse.
Esse foi o problema da operação Carne Fraca na avaliação de Flávio. A apresentação da operação como resultado da investigação acabou por ofender toda a cadeia produtiva. “Uma situação que era para investigar possível corrupção de políticos, funcionários públicos e empresários acabou afetando toda a cadeia produtiva nacional”, criticou.
Coaraci Castilho, chefe de gabinete do Ministério da Agricultura, defendeu o sistema de controle do ministério e confirmou a detecção de problemas na conduta de 33 servidores do ministério num universo de aproximadamente 11 mil que atuam na pasta. Em dois anos de investigações da Polícia Federal, disse, em praticamente todas as plantas frigorificas do País – no Brasil existem 4.952 estabelecimentos – foram detectadas irregularidades em 21.
“99,5% das unidades frigorificas estão dentro dos padrões de segurança. A imagem do Brasil foi arranhada e abalada no mundo inteiro. O prejuízo que podemos avaliar é de aproximadamente 10% de oscilação do mercado, ou seja, 1,5 bilhão de dólares de prejuízo anual e a [ameaça] de 6,7 milhões de desempregos, dentre eles, milhares de pequenos produtores. Além disso, o embarque diário para o exterior que era de aproximadamente 63 milhões de dólares, com a operação [Carne Fraca] caiu para 74 mil dólares”, relatou.
Dados do Ministério da Agricultura (no vídeo acima) mostram que a receita oriunda da exportação de carne bovina de todos os tipos saiu de 3,34 bilhões de toneladas em 2002 para 8,61 bilhões de toneladas em 2007. Um crescimento de 157,8% em seis anos.
Na avaliação da senadora Regina Sousa (PT-PI), presidenta da CDH, a solução para o caso seria o estímulo a política de
fiscalização permanente da cadeia produtiva da carne no País.
Regina também criticou a forma de a Polícia Federal dar publicidade as irregularidades detectadas.
“Todos temos o direito de desconfiar. Passar dois anos para [a operação] vir à tona? E eu comi o que nesses dois anos? Pode ser que estivesse tudo saudável, mas passar dois anos para vir dizer que haviam irregularidades? A PF podia ter divulgado [os resultados] aos poucos e não teria gerado essa comoção toda, inclusive inibiria outras fraudes”, apontou.
O senador Paulo Paim (PT-RS) pediu cuidado no debate do tema por se tratar de uma denúncia grave e que afeta quase sete milhões de trabalhadores do País. “Aqueles que cometeram erros terão de responder pelo que fizeram. Mas também temos de ter o cuidado para não generalizar a situação. Conquistamos esse mercado de exportação como conquistamos o mercado interno. Queremos esclarecer os fatos preservando o interesse nacional”, disse.
O diagnóstico dos impactos da operação Carne Fraca na vida dos trabalhadores do setor ainda está em andamentos, segundo Claudir Nespolo, presidente da Central Única dos Trabalhadores do Rio Grande do Sul (CUT-RS).
“Não sabemos ainda onde irá essa história. Carne Fraca mesmo é a carne dos trabalhadores do setor. Essa é a real carne fraca. A dimensão dessa operação é arrasadora, destruidora. Precisamos pensar em medidas atenuantes para enfrentar essa situação e manter os postos de trabalho. É crucial que possamos restabelecer a confiança sem que empregos sejam destruídos”, disse.
“Os trabalhadores não podem pagar a conta dessa generalização e pelos erros cometidos por alguns”, disse Darci Pires da Rocha, diretor da Confederação Nacional dos Trabalhadores nas Indústrias de Alimentação e Afins (CNTA).
A Operação Carne Fraca deflagrada no último dia 17, pela Polícia Federal, investiga empresas do setor alimentício envolvidas em um esquema de corrupção que liberava a comercialização de alimentos produzidos por frigoríficos sem a devida fiscalização sanitária.