Depois de duas décadas de crescimento, o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do Brasil murchou de 2019 para cá. O IDH é uma régua que mede como anda uma sociedade em quesitos como alfabetização, riqueza, escolaridade, expectativa de vida e natalidade. É dessa forma que o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) avalia o bem-estar de uma população, especialmente das crianças. E o Brasil vai mal nos últimos anos. O que se vê nas ruas e nas portas das padarias que o presidente da República não frequenta ficou, mais uma vez, estampado no ranking do IDH divulgado nesta quinta-feira (8): o Brasil desceu mais três degraus, do 84° para 87° no mapa mundial entre 2020 e 2021.
A conta é complexa, e no final os países ganham nota entre zero e um. Fica mais fácil de entender quando vem o boletim da turma, formada por 191 nações. E o Brasil já foi elogiado por seu progresso nessas matérias. Em 2007, depois de analisado o desempenho de 2005, no governo Lula, o país alcançou pela primeira vez na história uma nota 0,80, e passou a integrar o grupo de “alunos” com IDH elevado. Para se ter uma ideia, países classificados com até 0,499 são considerados de desenvolvimento humano baixo, enquanto os que levam nota entre 0,50 e 0,799 são considerados de desenvolvimento humano médio.
É o caso do Brasil atual, da fila do osso e do desmonte das políticas sociais, que caiu de 0,765, em 2020, para 0,754 no ano passado. A queda foi lamentada pelo senador Paulo Paim (PT-RS).
“O Brasil caiu posições no ranking de desenvolvimento humano (IDH) da ONU. Está em 87º entre 191 países. É a segunda queda consecutiva. A desigualdade aumenta. Faltam políticas públicas”, denunciou.
Brasil piorou
Na calçada do Planalto e nas redes sociais, panfleta-se hoje que a pandemia derrubou o IDH do mundo todo. O próprio relatório da ONU (Organização das Nações Unidas) adverte que a Covid trouxe sérios problemas para todos os países, podendo significar retrocesso de cinco anos no progresso da humanidade. Mas, como se vê pelos resultados, alguns países ultrapassaram o Brasil no ranking. Sinal de problemas nacionais na condução das políticas públicas, inclusive no combate à pandemia.
E não é preciso ir longe. Na América do Sul, o Brasil perdeu em IDH entre 2020 e 2021 para o Chile, em 42° lugar, com grau de 0,855; para a Argentina, em 47º (0,842); para o Uruguai, em 58º (0,809) e para o Peru, em 84º (0,762). Atrás do Brasil (87º), mas colada, vem a Colômbia, em 88º, com 0,752.
Educação
Um dos três critérios fundamentais para definir o IDH de um país, a piora na Educação ajudou o Brasil a cair na avaliação geral. No período que coincide com essa queda, 2020 a 2021, o governo anunciou três ministros da Educação, e os dois que efetivamente tomaram posse saíram pela porta dos fundos. Um, pilhado vociferando contra o STF e pedindo a prisão dos ministros; o outro, em denúncias de tráfico de influência para atender a demandas intermediadas por pastores em troca de ouro.
Entre um ministro e outro, o orçamento do setor só caiu. Em 2021, foram mobilizados para o Ministério da Educação R$ 124,5 bilhões, valor inferior ao orçamento de 10 anos atrás, em 2012 (R$ 126 bilhões), no governo Dilma Rousseff.
Pior para as crianças e adolescentes da rede pública de ensino, que tiveram que enfrentar, além da pandemia, o governo Bolsonaro, com seus vários ministros da Educação e nenhuma solução. Bem que estados e municípios pediram ajuda federal no momento mais crítico, entre 2020 e 2021, quando esses estudantes, sem acesso à internet e sem uma plataforma pública de ensino, foram alijados do aprendizado. A resposta do governo federal veio em março de 2021: o veto de Bolsonaro a uma ajuda financeira de R$ 3,5 bilhões para estados, DF e municípios garantirem acesso à internet para alunos e professores das redes públicas de ensino em decorrência da Covid.
Coincidência ou não, a divulgação do relatório com o ranking do IDH coincidiu com o Dia Mundial da Alfabetização, comemorado em 8 de setembro, também por iniciativa da ONU. E, a julgar pela reincidência federal no descaso com a Educação, as próximas notas podem ser ainda piores. É o que teme Paulo Paim, que denunciou, nessa semana, mais um corte do governo no orçamento do setor.
“Absurdo, descaso. Governo corta mais de R$ 1 bilhão do orçamento da Educação Básica para 2023, prejudicando crianças e jovens. A educação brasileira pede socorro. Vamos agir. O voto é a nossa resistência”, propôs o senador.