Inflação sob controle – José Dirceu – Por Brasil Econômico

Acostumado a não ser contrariado em suas campanhas pela alta dos juros, o mercado se surpreendeu e reagiu mal ao primeiro corte do ano na Selic realizado pelo Copom. Utilizando-se de fórmulas matemáticas “técnicas”, como se a economia fosse uma ciência exata e não social, alardearam que a inflação em alta, possivelmente com estouro da meta, recomendava um aumento da Selic, não sua redução. Entre essa reunião do Copom e a realizada na semana passada, que manteve a trajetória de cortes, o mercado mudou um pouco seu comportamento. É claro que tentou uma nova rodada de “pressão pré-Copom”, mas, em linhas gerais, diz-se que os agentes econômicos entenderam a sinalização do Banco Central e reajustaram suas expectativas para os próximos meses. Basicamente, o mercado tenta emplacar profecias autorrealizáveis, ou seja, ao sistematicamente difundir a ideia de alta de inflação e da necessidade de elevação dos juros, vai conformando as expectativas para algo próximo do que pretende.

 

Mas o que ocorreu então com essa compreensão sobre corte de juros? O BC mostrou que tem controle dos instrumentos de política monetária, que é definida por orientações técnicas, mas que se insere numa política econômica mais ampla, que persegue não apenas metas de inflação, mas a manutenção da atividade econômica e da geração de empregos.

Ademais, o BC atuou atento ao panorama internacional, que ruma para o chamado duplo mergulho. As autoridades europeias se veem às voltas com a montagem de um difícil plano de recuperação dos bancos em meio a um ambiente social crítico às medidas ortodoxas que tiram da sociedade para salvar o sistema financeiro. Esquecem que sem crescimento não haverá como retomar o bom ambiente econômico de antes da crise. O BC também não esqueceu que a inflação tem caráter mundial: na Europa, está em 3,3% (anualizada), 60% acima da meta. Além disso, se o critério para a meta de inflação brasileira for anualizado, nossa taxa média mensal é de 0,34% (maio a setembro), apontando para uma inflação de 4,1%, logo, abaixo do centro da meta de 4,5%. O critério cumulativo, por sua vez, usado pelo mercado para pressionar o Copom, traz índice de 7,31%. A trajetória da inflação também se mostra controlada e e m queda. As várias medidas tomadas pelo atual governo comprovam que a inflação já bateu no teto e agora começa a retomar sua trajetória descendente.

Finalmente, os cortes nos juros se justificam pela atuação da China, que continua a desacelerar a economia do país ao mesmo tempo em que perseguem uma agressiva política de colocação de seus produtos manufaturados em mercados externos. Impondo preços mais baixos que as indústrias locais, sua ação pressiona para baixo os preços internos, produzindo um efeito deflacionário. Cortar os juros para estimular a atividade econômica é crucial nesse contexto, porque também age sobre um de nossos maiores problemas, reduzindo a dívida pública, e arrefece a pressão sobre o câmbio. Sem nos esquecer de que há um conjunto de ações complementares, como a reforma tributária, a ampliação dos investimentos e a elevação da poupança interna

Artigo publicado no dia 27/10/11

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