Uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) vai investigar, num prazo de 180 dias, os motivos por que a violência está matando a juventude brasileira. A senadora Lídice da Mata (PSB-BA) será a presidenta dos trabalhos. A relatoria e a vice-presidência ficaram sob a responsabilidade de dois parlamentares petistas – respectivamente Lindbergh Farias (RJ) e Paulo Paim (RS).
“O objetivo é construir um texto que revele as dificuldades por que passa a nossa juventude e apresentar uma proposta de modificação da legislação para superar a violência contra a nossa juventude”, disse a presidenta.
O relator destacou que a CPI será importantíssima para tentar combater a “política de extermínio de nossa juventude”. Ele lembrou que o índice de homicídios de jovens no Brasil chega a 56 mil por ano. “É um massacre”, disse.
Lindbergh baseou-se em dados da Secretaria Nacional de Juventude, ligada à Presidência da República, que, no ano passado, apresentou um amplo estudo com dados sobre a violência que mata no Brasil. O trabalho Os Jovens do Brasil, desenvolvido pelo professor Julio Jacobo Waiselfisz mostra que os homicídios são hoje a principal causa de morte de jovens de 15 a 29 anos no Brasil. A maioria meninos, negros e moradores das periferias e áreas metropolitanas dos grandes centros urbanos.
Dados do Ministério da Saúde também revelam a violência desmedida praticada contra essa parcela da população. Em 2012, metade dos 56.337 mortos por homicídios eram jovens (30.072, equivalente a 53,37%), dos quais 77,0% negros (pretos e pardos) e 93,30% do sexo masculino.
O vice-presidente, Paulo Paim, lembrou que, desde o ano passado, existe a preocupação de alguns senadores de investigar as mortes de jovens negros. “Agora, ampliamos o leque e vamos tentar entender o assassinato da nossa juventude”, disse.
O debate do tema já vem sendo encampado por movimentos como o Jovem Negro Vivo, da Anistia Internacional do Brasil, um manifesto on-line que visa alertar às autoridades para assegurarem aos jovens negros o direito a uma vida livre de preconceito e de violência. Além disso, a Anistia Internacional está patrocinando, e recolhendo doações, para a campanha contra o extermínio de jovens negro.
Outro estudo, dessa vez promovido pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) coloca o Brasil em posição de destaque no quesito “violência contra jovens”. Somos a segunda nação com o maior número de homicídios de cidadãos com até 19 anos.
Perdemos apenas para a Nigéria, país marcado pelos ataques do grupo islâmico radical Boko Haram que investe contra igrejas, casas e, sobretudo, crianças.
Ainda assim, a diferença não é tão grande. Os dados, reunidos em 2012, mostram que foram 13 mil crianças e jovens assassinadas no país africano. No Brasil, foram 11 mil. Ao todo, 190 países foram analisados.
Segundo a Unicef, as principais causas para o alarmante número de homicídios entre jovens são o fácil acesso a armas de fogo, a desigualdade social, o aumento do uso de drogas e o crescimento substancial da população jovem.
A próxima reunião da CPI será na próxima segunda-feira, (11), às 19h30.
Giselle Chassot, com informações do Mapa da Violência 2014 e do Unicef
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