Paim pede ações contra genocídio de jovens negros

Paim:” Não podemos permitir que o chicote de ontem seja a bala de hoje”A adoção de ações que visem reduzir as mortes de jovens no País foi conclamada pelos participantes da primeira cerimônia de entrega da comenda Abdias Nascimento, que aconteceu nesta quinta-feira (20), no Senado. Para o senador Paulo Paim (PT-RS), apesar dos recentes avanços no combate ao preconceito, é preciso que sejam adotadas medidas efetivas contra o genocídio de jovens negros.

O parlamentar, um dos idealizadores da comenda, citou conquistas recentes, como a aprovação do Estatuto da Igualdade Racial e da Lei de Cotas, mas lamentou a desigualdade ainda existente no mercado de trabalho e o alarmante índice de jovens negros assassinados.

Os dados mostram que a situação é grave. Segundo o Mapa da Violência 2014, das 30 mil pessoas com idades entre 15 e 29 anos mortas anualmente, 77% são negras. Destes, 93,3% são do sexo masculino, moradores das periferias e áreas metropolitanas dos centros urbanos.

Paim ressaltou que o debate deste tema já vem sendo encampado por movimentos como o Jovem Negro Vivo, da Anistia Internacional do Brasil, um manifesto on-line que visa alertar às autoridades para assegurarem aos jovens negros o direito a uma vida livre de preconceito e de violência. “Como é bom ver o movimento das periferias batendo tambor, porque não aceitam mais o genocídio de jovens negros. Estão massacrando a nossa juventude”, alertou o senador.

“Apelo a todas as autoridades para unir forças e acabar com o genocídio da juventude negra. Morrem quase três vezes mais negros do que não negros. Chega! Não podemos permitir que o chicote de ontem seja a bala de hoje”, exclamou.

O tema também marcou o discurso da senadora Lídice da Mata (PSB-BA). “Persistem em nosso país as consequências trágicas do mais longo período de escravidão da história moderna”, disse a parlamentar. Ela ainda ressaltou a importância de iniciar uma CPI do Senado para investigar o genocídio de jovens negros.

Segundo a viúva de Abdias e também ativista, Elisa Larkin, é preciso retomar discussões como a criação de um fundo nacional para a igualdade racial com o objetivo de conter os assassinatos de jovens negros. “Precisamos de recursos para que essas iniciativas possam ser concretizadas. Um fundo como esse me parece que seja uma coisa importantíssima para ir em frente”, disse.

Homenagem

O dia 20 de novembro faz referência à data da morte de Zumbi, em 1695, quando era o líder do Quilombo dos Palmares, que ficava entre os estados de Alagoas e Pernambuco. Zumbi é considerado um ícone da luta pela igualdade racial.

Em homenagem à luta do movimento negro, uma comenda foi oferecida a personalidades que lutam pela causa. O reconhecimento leva o nome de um dos grandes militantes da causa no Congresso Nacional, o jornalista Abdias Nascimento (1914-2011). Ele foi senador e deputado federal pelo Rio de Janeiro, estando à frente de projetos pioneiros na luta pela igualdade racial no país, como o Teatro Experimental do Negro e o jornal Quilombo.

A comenda foi instituída em novembro do ano passado pela Resolução 47/2013, proveniente de um projeto dos senadores Paulo Paim e Lídice da Mata. A escolha dos agraciados, escolhidos entre nomes indicados por parlamentares do Congresso Nacional e entidades ligadas às causas negras, é feita anualmente por um conselho formado por representantes de todos os partidos representados no Senado.

Abaixo, veja a relação dos homenageados deste ano.

Benedito Gonçalves

Natural do Rio de Janeiro, onde nasceu em 30 de janeiro de 1954, é formado em Direito pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e se especializou em Direito Processual Civil. Desembargador Federal desde 1988, assumiu o cargo de ministro do Superior Tribunal de Justiça em 2008.

Gilberto Gil

Nasceu em 26 de junho de 1942, em Salvador (BA). É compositor, cantor, multi-instrumentalista, político, escritor, ambientalista e empresário, além de já ter sido ministro da Cultura durante o governo Lula. Já recebeu inúmeros prêmios, incluindo o Grammy Latino.

Martinho da Vila

Um dos grandes nomes do samba e carnaval carioca nasceu em 12 de fevereiro de 1938, em Duas Barras (RJ). Foi o primeiro sambista a ultrapassar a marca de um milhão de cópias vendidas e, atualmente, é presidente de honra da escola de samba Vila Isabel.

Edna Almeida Lourenço

Conhecida como Ekdje Edna de Oiyá, nasceu em 13 de novembro de 1951, em Campinas (SP). É militante do movimento negro e fundadora da Coordenação do Grupo Força da Raça.

Milton Gonçalves

O ator e escritor nasceu em Monte Santo de Minas (MG), em 9 de dezembro de 1933. Com mais de 70 filmes e 80 novelas no currículo, é também conhecido militante do movimento negro.

Silvio Humberto dos Passos Cunha

Nasceu em Salvador (BA). É doutor em Economia pela Universidade Federal de Campinas (USP). É professor da Universidade de Santana (BA) e fundador do Instituto Cultural Steve Biko, que atua na valorização da comunidade negra.

Francisco José do Nascimento (in memoriam)

Francisco José do Nascimento (Canoa Quebrada, Aracati, 15 de Abril de 1839 — Fortaleza, 5 de Março de 1914), é considerado um expoente na luta abolicionista. O “Dragão do mar”, como ficou conhecido, ajudou na libertação de escravos na então província do Ceará, em 25 de março de 1884, quatro anos antes da abolição da escravatura no país.

Carlos Mota

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