Abuso de poder

Investigação mostra o uso das instituições para intimidar

"É muito grave a informação de que a Polícia Federal mandou o Coaf investigar Glenn Greenwald. É o uso descarado das instituições para intimidar cidadãos", criticou Humberto Costa

Moro abuso de poder censura à imprensa mídia internacional

Investigação mostra o uso das instituições para intimidar

Imagem: Reprodução/Poder 360

A imprensa noticiou na última terça-feira (2) a informação de que a Polícia Federal teria sido acionada para solicitar ao Conselho de Controle de Atividades Financeiras (COAF) que investigue as contas do jornalista Glenn Greenwald, um dos responsáveis pelas reportagens sobre o conluio entre o então juiz Sérgio Moro e os procuradores da Força Tarefa da Operação Lava Jato, coordenada por Deltan Dallagnol.

Se confirmada a investigação, a situação mostra uma perseguição do atual ministro da Justiça de Bolsonaro ao jornalista, o que configura violação à Constituição e atentado à liberdade de imprensa, além da repetição do modus operandi de perseguição, intimidação e vazamentos utilizados pela Lava Jato.

[blockquote align=”none” author=”Senador Humberto Costa (PT-PE), lider da Bancada do PT no Senado Federal”]“É muito grave a informação de que a Polícia Federal mandou o Coaf investigar Glenn Greenwald. É o uso descarado das instituições para intimidar cidadãos. Uma ação pautada em fake news. Mais um vergonhoso atentado ao Estado de Direito perpetrado por Sérgio Moro. Desta vez, ele não esconde a quem serve”[/blockquote]

De acordo com a nota publicada pelo site O Antagonista, o objetivo da investigação é verificar qualquer movimentação atípica que possa estar relacionada à invasão dos celulares de integrantes da Lava Jato. Nas últimas semanas grupos e parlamentares ligados ao governo tem divulgado fake news afirmando que Glenn Greenwald teria contratado um hacker russo para invadir celulares de Sérgio Moro e de procuradores ligados à Lava Jato.

Em nota conjunta, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos e o Escritório do Alto Comissário das Nações Unidas para Direitos Humanos condenaram as “ameaças, desqualificações e intimidações” feitas a Glenn Greenwald.

O jornalista Tom Phillips, correspondente do jornal britânico The Guardian na América Latina, afirmou que a ordem de investigação contra Glenn é “o tipo de coisa que você espera de Xi Jin Ping, na autoritária China, não em uma das maiores democracias”.

Já a organização Freedom of the Press Foundation soltou nota denunciando o cerco do ministro: “Não é apenas um ataque ultrajante à liberdade de imprensa, mas um grosseiro abuso de poder”, pontuou.

Na audiência pública realizada na Câmara dos Deputados, ontem (2), Sérgio Moro não respondeu se, de fato, a Polícia Federal tem investigado as finanças de Glenn.

Em seu perfil no Twitter, o jornalista criticou o ministro Sérgio Moro e afirmou que, apesar das “táticas tirânicas” continuará o trabalho jornalístico e a publicação do material em conjunto com outros jornalistas.

“Como eu disse desde o início – tanto no caso Snowden quanto no caso Moro Lava Jato -, nenhuma intimidação ou ameaça interromperá as reportagens. Ameaças do Estado só servem para expor seu verdadeiro rosto: abuso do poder – e por que eles precisam de transparência de uma imprensa livre”, disse.

Audiência pública
Na próxima quinta-feira (4), às 14 horas, a Comissão de Direitos Humanos (CDH) do Senado realizará audiência pública para debater “A influência das fake news na sociedade” com foco na liberdade de expressão. A reunião foi solicitada pelo senador Paulo Paim (PT-RS), presidente da CDH.

Para a presidenta da Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ), Maria José Braga, as ameaças que o jornalista Glenn Greenwald vem sofrendo em decorrência das reportagens sobre as mensagens trocadas entre Sérgio Moro e procuradores da Operação Lava Jato podem ser consideradas como atentado à liberdade de imprensa no Brasil.

“É importante salientar que o site The Intercept Brasil está fazendo jornalismo. E o que é fazer jornalismo? É buscar informações de interesse público e reportar essas informações de interesse público para a sociedade […]. O jornalista de qualquer veículo, ao ter conhecimento de uma informação importante para a vida nacional, para o debate público, a sua obrigação reportar essa informação para toda a sociedade”, disse ao Sputnik Brasil.

Convite
A Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado aprovou, nesta quarta-feira (3), o convite ao jornalista Glenn Greenwald para que ele preste esclarecimentos aos senadores acerca dos conteúdos publicados pelo The Intercept Brasil sobre as trocas de mensagens entre Sérgio Moro e procuradores da Força Tarefa da Operação Lava Jato. Ainda será marcada a data para realização da audiência.

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