Exemplo mundial da luta contra a fome e a miséria, o ex-presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva conquistou mais um apoio de peso para receber o Prêmio Nobel da Paz. Um dos mais prestigiados jornais de esquerda do mundo, o francês L’Humanité, chegou às bancas nesta terça-feira (29) estampando a candidatura de Lula a receber a honraria em 2019.
“No início dos anos 2000, Luiz Inácio Lula da Silva, hoje preso político encarcerado sem qualquer prova, iniciou sua presidência com a ambiciosa campanha Fome Zero”, afirma a reportagem do jornal francês, citando as palavras de Lula: “Precisamos superar a fome, a miséria e a exclusão social. Nossa guerra não é matar ninguém, mas salvar vidas”.
Com mais de 100 anos de história, L’Humanité foi fundado em 1904 pelo líder socialista Jean Jaurés. Durante a ocupação de França pelos nazistas, na II Guerra Mundial, foi um importante instrumento de organização da Resistência Francesa, publicado e distribuído clandestinamente.
Permitir a esperança
A reportagem de L’Humanité ressalta que a política criada por Lula para combater a fome e a pobreza foi muito além de garantir “o arroz com feijão, mas também o sabor de tudo mais que faltava, especialmente a esperança”.
Esperança essa que, lembrou Lula, “não era permitida” em tempos anteriores a seu governo, como citou o jornal francês: “Antes, a mãe de família voltava das compras com a sacola vazia, porque tudo era inacessível. Agora ela pode comprar carne, as pessoas podem ir a um restaurante, podem viajar podem entrar na Universidade”, disse Lula na ocasião.
Direitos dos pobres e paz mundial
Várias dessas conquistas já se esvanecem, lembra o jornal, a partir da eleição de Jair Bolsonaro. Mas elas existiram e “muitos cidadãos continuam decididos a intensificar a mobilização política para que Lula seja um dos candidatos ao Nobel da Paz de 2019” por tê-las assegurado aos brasileiros e brasileiras.
Os apoiadores da candidatura ao Prêmio Nobel citam a “correlação entre a garantia de direitos humanos aos mais pobres — em particular a saúde e a segurança alimentar — e a construção da paz no mundo”, como enfatiza o Comitê de Solidariedade Internacional para a Defesa de Lula e da Democracia no Brasil.
A iniciativa de indicar Lula ao Prêmio Nobel da Paz é liderada pelo argentino Adolfo Pérez Esquivel, que recebeu a honraria em 1980. Sua petição pela candidatura de Lula já reúne perto de 500 mil assinaturas.
Nomes de destaque
Entre os signatários estão professor de Sociologia da Sorbonne e da Universidade de Genebra Jean Ziegler, do também sociólogo (Universidade Paris VIII – Saint-Denis-Vincennes) Éric Fassin, a filósofa e ativista pelos Direitos Humanos Angela Davis, o ator Danny Glover, o linguista Noam Chomsky e a maior central sindical da Tunísia, a UGTT, com 750 mil filiados.
Segundo os apoiadores do Nobel da Paz para Lula, os programas Fome Zero e Bolsa Família “foram os grandes responsáveis pela queda da taxa de desnutrição no Brasil de 11% em 2002 para menos de 5% em 2007.
Brasil fora do Mapa da Fome
Outro resultado destacado por eles foi a redução da extrema pobreza, que caiu 50,6% durante o mandato de Lula, como comprovou um estudo da Fundação Getúlio-Vargas (FGV). “Isso permitiu ao país realizar o feito histórico de sair do Mapa da Fome da ONU em 2014”.
O L’Humanité ressalta ainda a influência das políticas implementadas por Lula no plano internacional. Projetos idealizados pelo ex-presidente brasileiro “foram a origem de uma série de programas em todo o mundo, notadamente o Zero Hunger International, lançado em 2004 sob a orientação do governo brasileiro, do secretário das Nações Unidas à época, Kofi Annan, e do então presidente da França Jacques Chirac”.
Mediador de conflitos
O jornal francês destaca que a atuação de Lula em favor da paz não se limitou a combater a fome e a miséria. Ao contrário de Bolsonaro, “que já está assumindo a causa de todos os falcões [políticos direitistas] do planeta”, Lula se destacou como um mediador de conflitos.
L’Humanité lembra o papel essencial assumido pelo ex-presidente brasileiro nas negociações entre a Venezuela e a Colômbia, que chegaram à beira de um conflito armado, em 2010, e a articulação da Declaração de Teerã, que visava estabelecer um acordo regulando o programa nuclear iraniano.
Quem pode indicar o Nobel
O prazo para a apresentação das indicações ao Comitê do Nobel termina nesta quinta-feira (31).
As candidaturas ao prêmio podem ser propostas por parlamentares e ministros, chefes de Estado, membros da Corte Internacional de Justiça em Haia e da Corte Permanente de Arbitragem em Haia, ou professores, reitores e diretores de universidades.
Se você está em uma dessas categorias e quer apoiar a candidatura de Lula ao Nobel da Paz, acesse o link para a petição
Exemplo global
Em sua petição original, Adolfo Pérez Esquivel sustenta que a fome “é um flagelo e um crime cometido contra as pessoas vitimadas pela pobreza e marginalização, privadas de vida e esperança por gerações”.
Por esta razão, prossegue Esquivel, “se um governante se torna um exemplo global da luta contra a pobreza e a desigualdade, contra a violência estrutural que nos aflige como humanidade, ele deve ser reconhecido por sua contribuição à paz na humanidade”.
Leia a íntegra da reportagem de L’Humanité (em francês):
Presidente Lula proposto ao Nobel da Paz