CPI JBS

Lava Jato agiu como “quinta coluna” contra a Petrobras

Segundo o ex-procurador da República, Marcelo Milller, reuniões com o Departamento de Justiça dos Estados Unidos contaram com participação do então procurador-geral da República, Rodrigo Janot, e do coordenador da força-tarefa da operação Lava Jato em Curitiba, Deltan Dallagnol
Lava Jato agiu como “quinta coluna” contra a Petrobras

Foto: Alessandro Dantas

Parlamentares da CPMI da JBS desconfiam que membros do Ministério Público Federal tenham atuado como agentes duplos no âmbito da operação Lava Jato. Essa impressão foi apresentada nesta quarta-feira (29) pelos deputados Paulo Pimenta (PT-RS) e Wadih Damous (PT-RJ) durante a oitiva do ex-procurador da República, Marcelo Miller.

Miller é suspeito de ter feito jogo duplo e tentado beneficiar os representantes da JBS na Procuradoria da República. Segundo dados da CPI, Miller recebeu aproximadamente R$ 449 mil do escritório de advocacia Trench, Rossi e Watanabe Advogados, responsável pelo acordo de leniência da J&F, grupo da qual a JBS faz parte, apenas três meses depois de deixar cargo no Ministério Público Federal.

Durante seu depoimento, Marcelo Miller admitiu que apenas dois dias antes de ser exonerado da PGR, ainda como procurador da República, esteve em contato telefônico com procuradores norte-americanos.

O deputado federal Wadih Damous disse não ter se convencido das explicações do ex-procurador e afirmou estar convicto de haver operações de quinta coluna nessas viagens de membros do Ministério Público ao exterior. As operações de quinta coluna citadas pelo deputado seriam pessoas ou grupos que atuam dentro do próprio país ajudando o inimigo.

“Vocês [procuradores] levando informações estratégicas da maior empresa brasileira [Petrobras] ao exterior. Me parece haver elementos no sentido de desmoralizar e desconstruir a Petrobras perante o mundo, no mercado internacional, como um antro de corrupção. Janot ia constantemente aos Estados Unidos e, com certeza, não ia para fazer turismo”, lembrou Wadih.

Também como membro do Ministério Público Federal, enquanto tratava de outros acordos de delação premiada, como o da empreiteira Odebrecht, Marcelo Miller afirmou que esteve em contato com autoridades de outros países, em especial, com membros do Departamento de Justiça dos Estados Unidos.

Questionado pelo deputado Paulo Pimenta (PT-RS) sobre os detalhes, as circunstâncias e o teor desses diálogos, Marcelo Miller não respondeu afirmando não saber o grau de sigilo dessas informações.

Miller também reconheceu que o acordo de leniência envolvendo a Odebrecht, assim como o da JBS, contou com a colaboração de outros países.

Ainda durante seu depoimento, Miller afirmou que, no início de 2015, uma comitiva do MPF esteve no Departamento de Justiça dos Estados Unidos para levar informações, segundo ele, “conceituais” da operação Lava-Jato, que estava em suas fases iniciais.

De acordo com o ex-procurador, também estavam na comitiva, Rodrigo Janot; então procurador-geral da República e Deltan Dallagnol; coordenador da força-tarefa da operação Lava Jato em Curitiba.

“Não se tratou de prestação de contas. Havia um intercâmbio de informações entre as autoridades, tendo em vista que a operação Lava Jato transcendia a Petrobras e havia a percepção de que os Estados Unidos ajudariam a Lava Jato com provas. A linha do MPF era a de tratar a Petrobras como vítima, não autora de ilícitos”, explicou Miller.

Já o deputado Paulo Pimenta reforçou a importância de a CPI ouvir os motivos que levaram o então procurador-geral da República, Rodrigo Janot a pedir a prisão de Marcelo Miller pelos crimes de obstrução da Justiça e exploração de prestígio.

“Não é crível que o PGR de forma disparatada impute crimes a um colega, peça sua prisão e, segundo Marcelo Miller, ele é uma das figuras mais honestas que já passou por essa CPI. Alguma coisa nessa história não bate. Ou Janot é um irresponsável capaz de coisas disparatadas ou Janot tem elementos muito sólidos para pedir o que pediu. A história não fecha”, disse.

Pimenta ainda afirmou que, talvez, se Marcelo Miller estivesse preso, aceitaria o modus operandi do Ministério Público Federal e aceitaria fazer uma delação premiada e acabasse contando “uma enorme parte da verdade que aqui não apareceu”.

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