Está cada vez mais difícil para o clã Bolsonaro repetir a estratégia de dizer que não sabia de nada e jogar a culpa no colo de terceiros. Basta ler o documento liberado na última sexta-feira (11/8) pelo ministro Alexandre de Moraes para identificar os fartos indícios de envolvimento direto do ex-presidente da República no escândalo das joias – que escancarou o esquema de desvio de presentes milionários recebidos de outros países em viagens internacionais para venda e enriquecimento ilícito.
Confira aqui (e baixe) a íntegra do documento:
Para facilitar, separamos abaixo os 10 trechos que mais comprometem Bolsonaro, citado em 53 das 105 páginas do documento, num total de 93 vezes. Trata-se da autorização, por Moraes, para que a Polícia Federal fizesse operações de busca e apreensão contra três suspeitos de envolvimento.
O ex-presidente é mencionado em conversas trocadas pelos protagonistas das ações criminosas como destinatário de US$ 25 mil em espécie. Ele também teria recebido no celular imagens dos produtos desviados e vendidos, e teria ainda sido consultado durante a chamada Operação Resgate, em que os suspeitos recompram e trazem de volta ao Brasil produtos já vendidos para devolução ao governo federal, por determinação do TCU.
10 trechos para entender o escândalo das joias
TRECHO 1 – Páginas 1 e 2
Logo na abertura do documento, um pedido de autorização para realizar operação de busca e apreensão, o ministro Alexandre de Moraes, do STF, classifica de “organização criminosa” o grupo alvo de investigações divididas em 5 eixos, entre eles o que visava enriquecimento ilícito do ex-presidente Bolsonaro com venda de presentes de alto valor recebidos de chefes de Estado em viagens internacionais.
TRECHO 2 – Página 23
Pai (Lourena Cid, general amigo do ex-presidente) e filho (tenente-coronel Mauro Cid, faz-tudo de Bolsonaro) conversam sobre a entrega de US$ 25 mil em espécie a Jair Bolsonaro.
TRECHO 3 – Página 28
Polícia Federal aponta que presentes foram levados aos Estados Unidos no avião presidencial, sem qualquer registro oficial, no mesmo dia em que Bolsonaro deixou o país, em 30 de dezembro de 2022. Os objetos só não foram vendidos porque, nesse caso, eram esculturas de baixo valor de mercado.
TRECHO 4 – Página 85
Mauro Cid, braço direito de Bolsonaro durante todo o governo, encaminha mensagens sobre os relógios apropriados ao contato “Pr Bolsonaro Ago/21”.
TRECHO 5 – Página 35
A investigação destaca que presentes ao governo brasileiro recebidos de outros países foram apropriados também pela ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro.
TRECHO 6 – Página 37
Trecho revela escárnio em mensagens trocadas pelos membros da organização criminosa e plena ciência dos ilícitos cometidos.
TRECHO 7 – Página 56
O passo a passo da venda dos relógios Rolex e Patek Plilippe, recebidos durante viagens oficiais pelo então presidente Bolsonaro. Mauro Cid vendeu e o pai, Lourena Cid, recebeu em sua conta US$ 68 mil.
TRECHO 8 – Página 79
Operação Resgate: PF desvenda articulação para repatriar peças apropriadas pelo ex-presidente Bolsonaro e vendidas nos Estados Unidos, expondo mentiras contadas pelos envolvidos em depoimentos oficiais.
TRECHO 9 – Página 70
Em aparente desavença entre integrantes da organização criminosa, fica evidente que o ex-presidente Bolsonaro era consultado a cada movimentação de resgate após decisão do ministro do TCU, Augusto Nardes.
TRECHO 10 – Página 96
Ao final do documento, ao autorizar a operação de busca e apreensão, Alexandre de Moraes faz um resumo do escândalo das joias: uso do Estado brasileiro para se apossar de bens e gerar enriquecimento.