Lindbergh: “Sinalização de aumento dos juros em janeiro pode agravar ainda mais a crise econômica”Na audiência pública da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado nesta terça-feira (15), para traçar um panorama do cenário da política monetária adotada para conter a inflação, que beira os 11%, o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, reconheceu que os efeitos dos movimentos da economia internacional ainda são sentidos no País. E, para completar, disse ser imprevisível o impacto do aumento dos juros a partir de amanhã por parte do Federal Reserve, o banco central norte-americano.
Nas três horas e meia da audiência pública, Tombini falou sobre a depreciação das commodities no mercado internacional e pontuou que a piora nos termos de troca do País é um componente negativo para a retomada do crescimento, porque a quantidade exportada tem um valor bem menor do que a quantidade de mercadorias que entra no País, em valores superiores. Apesar das justificativas para a inflação e a retração da economia, o presidente do BC teve de receber um apelo do senador Lindbergh Farias (PT-RJ) para que não promova uma alta dos juros em janeiro, como se especula ferozmente no mercado futuro de juros.
Para Lindbergh, crítico da política monetária do BC e do ajuste fiscal do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, a combinação de juros altos para conter a inflação com um ajuste fiscal que pretende cortar gastos sociais terão como resultado prático o aumento do desemprego, o que é preocupante. Segundo o senador, as estimativas para os juros, em janeiro, indicam que o BC elevará mais a taxa de juros para atender a sede dos rentistas por maiores ganhos reais. E se isso acontecer em janeiro, quando se verifica um volume de demissões elevado, todo o ajuste pode cair por terra. Além disso, Lindbergh mostrou preocupação com a alta do dólar, já que nos últimos meses significou uma depreciação de mais de 30% do real.
Tombini entende que essa depreciação do real, por mais que tenha sido de 30% e prejudique as importações de bens de capital, favoreceu alguns segmentos da economia, como o setor de transformação. Esse movimento indica que a indústria nacional está substituindo as importações e em que pese a atividade industrial estar num nível de estabilidade, em breve poderá ser notada uma recuperação do setor de manufatura – o que não se viu até o momento.
Mesmo assim, o Banco Central está vigilante com a inflação, afirmou Tombini, embora ela tenha dito que o índice estará próximo do centro da meta (4,5% a 6,5%) só lá para meados de 2017. Essa dica de Tombini deve ter caído como uma luva no mercado financeiro, indicando para os especuladores que o juro é a arma para conter a inflação e que ele continuará elevadíssimo.
Pelo menos um dado positivo foi mostrado pelo presidente do BC: o volume de investimento estrangeiro direto. Neste ano, estima-se que o valor será de US$ 65 bilhões ingresso no País, o que mostra a confiança dos investidores com as oportunidades do Brasil.
“O ajuste no setor externo tem beneficiado os investimentos estrangeiros e contribuirá para a retomada da economia, sem que ocorra desequilíbrio nas contas externas. O ajuste é fundamental para assegurar as conquistas sociais e honrar os compromissos”, destacou. O contingenciamento dos gastos feito pelo governo, que cortou na própria carne, e a recomposição da estrutura tributária, garantirão uma melhora na eficiência econômica e trará impacto positivo para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de agora em diante, na avaliação do BC.
A senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) criticou alguns parlamentares da oposição, como o senador Ricardo Ferraço (PMDB-ES), que circunscreveu sua participação na audiência com a ladainha de que o governo paga R$ 507 bilhões nas despesas com o serviço da dívida interna, lastreada em títulos públicos. Ferraço mostrou indignação com isso, mas seu discurso pomposo caiu no vazio. Gleisi recordou que os mesmos parlamentares que criticam esse custo são os mesmos que a toda hora apresentam projetos retirando da União recursos para dar benefícios fiscais e isenções tributárias para setores de interesse.
“Não vi aqui por parte da oposição um discurso acalorado em defesa do aumento da alíquota da contribuição social sobre o lucro líquido dos bancos. Ao invés disso, a oposição foi contra tributar mais dos bancos. Defender a tributação sobre grandes fortunas, de heranças, juros sobre capital próprio ninguém faz”, disse ela.
A senadora afirmou que o ajuste atual é necessário para compensar a perda de arrecadação tributária ocorrida por causa da desoneração dada pelo governo no auge da crise econômica de 2008 a 2011. A oposição deve ser lembrada porque também incluiu setores que foram beneficiados com a desoneração. “Essa é a oposição que quer rigor fiscal, mas não adianta só discurso, porque na hora de enfrentar se retraem porque têm medo. Precisamos parar com o discurso fácil, de dizer que o governo está errado”, cobrou.
Marcello Antunes
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