Em uma longa entrevista, marcada por momentos de indignação e descontração, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse nesta quinta-feira (23) que a defesa da soberania nacional ante os ataques e privatizações do governo Bolsonaro é o instrumento capaz de unificar a esquerda no país para disputar as próximas eleições presidenciais.
“Vai unificar se construir um instrumento de unificação, um programa em defesa da soberania nacional, de interesse soberanos e de uma nação soberana, voltada para os direitos fundamentais”, afirmou, com a ideia da elaboração de programa para ser apresentado à sociedade. Lula falou por duas horas e dez minutos aos jornalistas Paulo Moreira Leite, Mauro Lopes e Pepe Escobar, do portal 247. Eles estiveram na manhã desta quinta-feira na sede da Polícia Federal em Curitiba para gravar a entrevista com o ex-presidente que está preso politicamente há 503 dias.
Lula se referiu ao presidente Jair Bolsonaro como uma afronta à democracia e também a quem acredita nas instituições, porque é um governo que despreza até a própria ciência, como mostrar o caso da demissão do diretor do Inpe, Ricardo Galvão.
A ameaça de privatização da Petrobras pelo governo é um dos mais graves gestos de afronta à soberania do país, afirma o ex-presidente. Ele lamentou que exista até mesmo o interesse em destruir a Lei de Partilha e lembrou que o petróleo representa a perspectiva de futuro para para reduzir as desigualdades no país.
Um momento de indignação que marcou a entrevista foi quando Lula foi perguntado sobre a possibilidade do regime de prisão domiciliar, se ele aceitaria, ou se manteria a posição crítica como já manifestou. “Eu já disse que quero casar, tenho namorada. Mas dignidade, caráter você não compra. Isso você adquire na sua formação”, declarou lembrando da educação que recebeu da mãe e que proporcionou que ele pudesse “andar sempre de cabeça erguida”.
“Eu quero sair daqui com 100% da minha inocência”, disse Lula ao criticar Moro e Dallagnol, que deveriam estar presos pelos pelas ilegalidades que cometeram nos processos da Lava Jato. “Só quero um julgamento justo”, disse Lula. “Não sou pombo, coloque neles a tornozeleira. Meu maior prazer seria sair daqui e o Moro entrar. Ele e o Dallagnol”
Logo no começo da entrevista, Lula atacou a postura de Bolsonaro em relação às queimadas na Amazônia, que têm sido denunciadas nesta semana pela imprensa no país e no mundo. Disse que é fácil saber quem está colocando fogo, por meio das fotografias de satélites, que permitem identificar proprietários de terra.
Mais adiante, ironizou a comparação que tem sido feita pela imprensa corporativa entre ele e Bolsonaro, e enfatizou que a sociedade não deve aceitar o discurso de Bolsonaro de que são as ONGs que estão colocando fogo na floresta. “Quem toca fogo são os empresários, os eleitores dele (referindo-se a Bolsonaro)”.
Ao final, ao ser perguntado sobre qual a primeira coisa que vai fazer ao sair livre, Lula disse que quer visitar a vigília em frente à sede da Polícia Federal do Paraná, onde está preso, para agradecer o apoio da militância. “Primeira coisa que eu vou fazer é ir na vigília dar um beijo em cada pessoa, fazer os meus agradecimentos e tomar uma boa de uma cachacinha”, afirmou sorrindo.