Em entrevista ao Migalhas, gravada nesta quarta-feira (2) e veiculada nesta quinta (3), Lula deu uma aula de política quando respondeu aos ataques do presidente do TRF-4, Victor Laus, e, com o livro “Nada Menos que Tudo” de Rodrigo Janot nas mãos comentou as revelações feitas pelo ex- PGR na obra, classificada como “delação sem prêmio” pelo meio político.
Mais uma vez, um presidente do Tribunal Regional Federal da 4ª Região – responsável por julgar os processos de Lula na Lava Jato em segunda instância – cometeu uma ilegalidade e praticamente rasgou o Código de Ética da Magistratura ao usar a imprensa para divulgar seus “arroubos políticos”. Desta vez foi o desembargador Victor Laus, presidente da Corte desde junho deste ano. Em entrevista à Rádio Gaúcha ele, que foi um dos responsáveis por condenar o ex-presidente, desferiu ataques políticos – o que não cabe a um jurista que se preze – à Lula.
Na ocasião Laus disse que o ex-presidente “desfruta de condição especialíssima” e que sua permanência na dependência da PF seria uma “regalia”. Laus disse também que já recebeu manifestações de quem vive no entorno da Polícia Federal de Curitiba pedindo que Lula saia da cidade, afirmando que a presença dele “desvaloriza os imóveis da região e causa tumulto”.
Lula respondeu com firmeza às declarações expondo, mais uma vez, o caráter político e arbitrário daqueles que o condenaram. “Eu vi o presidente do TRF-4 dizer que eu estou sendo privilegiado. Esse cidadão votou me condenando sem ler o processo. Porque se lesse não condenava.”
Laus repete Thompson Flores
O caso lembra um colega bem próximo de Laus, o desembargador Thompson Flores – antecessor de Laus na presidência do TRF-4 – que elogiou a condenação de Lula pelo então juiz e agora ministro de Bolsonaro Sérgio Moro pelo caso do triplex. Detalhe: o elogio foi feito via imprensa, antes mesmo de ler toda decisão de Moro e tempos antes do julgamento de Lula em segunda instância do qual participaria o próprio Thompson. “Vai entrar para a história do Brasil”, disse ele sobre a peça antes mesmo de esperar os recursos da defesa.
Dentre outros, os dois exemplos atingem diretamente o artigo 8º do Código de Ética da Magistratura: “O magistrado imparcial é aquele que busca nas provas a verdade dos fatos, com objetividade e fundamento, mantendo ao longo de todo o processo uma distância equivalente das partes, e evita todo o tipo de comportamento que possa refletir favoritismo, predisposição ou preconceito”.
O livro do Janot
O ex-presidente também citou frase do livro de Rodrigo Janot para reforçar que sempre esteve certo ao denunciar a armação que sofre. “É só pegar o livro do Janot na página 182, no capítulo 15, essa frase aqui ‘objeto de desejo chamado Lula’ eu cansei de falar. Eu era um objeto de desejo da Lava Jato de Curitiba.”
O livro de memórias do ex-PGR Rodrigo Janot, intitulado Nada Menos que Tudo, conturbou ainda mais o cenário político nacional. Para além da assombrosa revelação de desejos homicidas de Janot, a obra também escancara mais um episódio nefasto envolvendo a Operação Lava Jato e seus agentes na obsessiva e criminosa perseguição a Lula e ao PT.
No capítulo 15 citado por Lula, intitulado “O objeto de desejo chamado Lula”, Janot conta em detalhes como os procuradores da força-tarefa o pressionavam para que denunciasse imediatamente o ex-presidente por organização criminosa, “nem que para isso tivesse que deixar em segundo plano outras denúncias em estágio mais avançado”.
Com informações do Migalhas