Novo comando

Meta do BNDES é reindustrializar e integrar país com vizinhos

Na posse do novo presidente do Banco, senadores parabenizam Mercadante e Lula cobra crescimento com justiça social
Meta do BNDES é reindustrializar e integrar país com vizinhos

Foto: Ricardo Stuckert

A carteira de investimentos na indústria já significou 43% dos desembolsos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES); hoje, não passa de 16%. Esse é um dos desafios do novo presidente do maior banco de fomento do país, Aloizio Mercadante, empossado nesta segunda-feira (6). Na cerimônia, acompanhado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e da ex-presidenta Dilma Rousseff, Mercadante situou o tipo de reindustrialização de que o país precisa.

“Não se trata da velha indústria. Trata-se da nova indústria: digital, descarbonizada, baseada em circularidade e, assim, intensiva em conhecimento. Essa nova indústria exigirá inovação e grandes investimentos na pesquisa aplicada”, explicou.

O presidente Lula defendeu que parte dessa clientela seja de pequenas e médias empresas, que no seu segundo governo chegaram a receber 97% do aporte do banco. Foi graças a essa guinada que esses segmentos abocanham, hoje, quase metade do total investido. Para se ter uma ideia, até 1990 eles eram o destino de apenas 7% dos empréstimos do BNDES.

“Temos que ter clareza que o BNDES tem que privilegiar o financiamento de micro e pequenos empreendedores. O BNDES é a mais importante agência de desenvolvimento que esse país criou”, resumiu Lula. Em resposta, Mercadante informou que o Banco vai investir R$ 65 bilhões nesses segmentos e, ainda, em cooperativas e em economia solidária.

Presentes à posse, os senadores Rogério Carvalho (SE) e Teresa Leitão (PE) também se manifestaram. A senadora desejou “muito sucesso na função”, e Rogério Carvalho afirmou que “o discurso de posse do Mercadante concretiza as perspectivas do BNDES como banco de fomento, sobretudo para micro, pequenas e médias empresas”.

Papel estratégico
Longe de disputar mercado com o sistema financeiro privado, Aloizio Mercadante defende a busca de parcerias. “O BNDES pode contribuir para reduzir risco, abrir novos mercados, alongar prazos e elaborar bons projetos para os investimentos”, explicou. Trata-se de uma especialidade da instituição, que ainda vai ganhar uma Comissão de Estudos Estratégicos, a ser coordenada pelo economista André Lara Resende.

“Essa comissão irá abrir o debate e convidar mais especialistas, intelectuais, pesquisadores e lideranças, resgatando o papel do BNDES sobre políticas de desenvolvimento para o Brasil”, detalhou.

Vice-presidente da República e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin desejou sucesso a Mercadante e à diretoria empossada.

“O BNDES vai retomar seu papel estratégico de parceiro das empresas brasileiras, atuando para o fomento da indústria, do comércio e da diversificação da pauta exportadora do Brasil”, assinalou.

Fomento lucrativo
A cooperação internacional também vota à pauta. “Nosso desenvolvimento passa necessariamente pela integração da América Latina e pela parceria com países do Sul Global”, afirmou Mercadante, que defendeu um olhar para o futuro do BNDES.

Mas o passado é pauta constante de críticas, e Lula aproveitou a posse de Mercadante para jogar luz sobre denúncias infundadas.

“O BNDES foi vítima de difamação muito grave nas últimas eleições. Constataram que o BNDES nunca foi caixa preta. E o banco teve que gastar R$ 48 milhões em uma auditoria internacional, e nada de irregular foi encontrado. Vocês sabem o quanto essas mentiras custam”, desabafou o presidente da República sobre auditoria contratada pelo governo Bolsonaro em 2021.

Mas a difamação é mais antiga. Desde meados da década passada se alimentam falsas versões. Entre elas, a de que a exportação de serviços, pelo BNDES, gerava empregos no exterior e desemprego aqui. Também se propagou que o Brasil financiava obras de infraestrutura no exterior, prejudicando o financiamento da infraestrutura nacional, e que a indústria daqui saía perdendo com essas operações.

Tudo ao contrário. Ao emprestar dinheiro para obras de construtoras nacionais no exterior, o Brasil comercializa matérias primas, tecnologia e logra novas vagas de trabalho. Essas exportações têm um impacto direto e muito positivo sobre uma longa cadeia de produção de insumos e serviços relacionados à engenharia. Além disso, elas ajudam a diminuir o nosso déficit em conta corrente. Estima-se que, apenas em 2010, as exportações de serviços de engenharia tenham gerado cerca de 150 mil empregos diretos e indiretos no país.

O financiamento é pago pelo cliente, que é o ente público do país que contratou o serviço. E o nível da inadimplência nessas operações é considerado insignificante, menos de 0,01%. Ou seja, o que está em jogo é o fortalecimento da economia do Brasil, como acentuou o líder do PT no Senado, Fabiano Contarato (ES), ao cumprimentar Mercadante pela posse no BNDES.

“Um banco público forte que impulsione o desenvolvimento econômico e social do Brasil e fortaleça nossa capacidade produtiva! Assim será o BNDES sob o comando de Aloizio Mercadante”, projetou.

Pauta inclusiva
Mercadante também garantiu que o BNDES estará sintonizado com bandeiras deste governo no campo da inclusão. Para marcar esse compromisso, o novo presidente anunciou a construção, no Rio de Janeiro, de um museu sobre a história da escravidão. “Não podemos esquecer essa chaga. O museu ficará localizado no Valongo, que foi a porta de entrada que recebeu mais escravos africanos em todo mundo”, explicou, em referência ao cais localizado no centro da capital fluminense.

Trajetória
O novo presidente do BNDES é economista, mestre e doutor em Economia pela Universidade de Campinas (Unicamp), e, nos governos de Dilma Rousseff, foi ministro da Educação, da Casa Civil e da Ciência, Tecnologia e Inovação. Aloizio Mercadante também já foi senador, entre 2003 e 2011, e concorreu à vice-Presidência da República na chapa de Lula em 1994.

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