Metrô de São Paulo: tucano critica investigação de escândalo

Senador Aloysio Nunes reage a grupo de trabalho proposto pelo PT para acompanhar investigações do cartel da Siemens em SP.

Acostumado a pedir investigações em relação ao governo do PT, o líder do PSDB, Aloysio Nunes (SP), perdeu o controle ao saber que está sendo proposto no Senado a criação de um grupo de trabalho para acompanhar a apuração das denúncias de formação de cartel e corrupção no fornecimento de equipamentos, obras e serviços no metrô de São Paulo e na Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM). A reação, destemperada, ocorreu durante sessão da Comissão de Meio Ambiente e Fiscalização e Controle (CMA), na manhã de terça-feira (28), palco que costumeiramente é utilizado pela oposição para apresentar requerimentos de convocação e pedidos de informações sobre o Governo Federal, geralmente com viés político.

“Não há outra palavra. Estupor, indignação. Estranheza seria fraco. É realmente algo que me parece absolutamente inadmissível. Há aqui simplesmente uma tentativa de instrumentalizar uma comissão do Senado Federal para a batalha política e eleitoral”, disse o tucano referindo-se aos requerimentos apresentados pelo líder do PT e do Bloco de Apoio ao Governo na casa, Wellington Dias (PI). Ao todo, são três requerimentos, um que cria esse grupo de trabalho e outros dois que propõem a realização de audiências públicas com ex-diretores da Siemens, empresa que revelou estar no centro do escândalo, representantes dos metroviários e com integrantes do governo tucano em São Paulo e presidentes e ex-presidentes do metrô e da CPTM.

A justificativa dada por Aloysio Nunes para esta reação é de que o propinoduto tucano – esquema de licitação viciada para o metrô paulista envolvendo multinacionais e agentes públicos – já está sob investigação do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) e pelo Ministério Público estadual. O esquema, conforme revela a cada dia a revista Istoé, perdura desde o governo de Mário Covas, sobrevivendo nos governos de José Serra e de Geraldo Alckmin. A reação do senador tucano causou surpresa porque passou a impressão de que só é possível investigar denúncias contra o PT e, quando o foco é o PSDB, a estratégia é engavetar os casos.

É por essa justificativa que o PT no Senado optou apenas por fiscalizar o processo e não propor uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI). Na assembleia legislativa de São Paulo, onde o PSDB tem maioria, nos últimos dois governos tucanos mais de 70 pedidos de abertura de CPIs foram barrados, entre eles alguns seja para investigar o caso do metrô, seja para investigar a indústria de pedágios das rodovias estaduais. No caso do escândalo do metrô-Siemens-CPTM, o assunto, até então, estava circunscrito no estado e sem uma cobertura pontual da imprensa. Vale notar que o rumoroso caso teve as investigações iniciadas ainda em 2008, e por diversas vezes o próprio Tribunal de Contas do Estado (TCE) recomendou mudanças e maior transparência nos processos licitatórios no metrô e na CPTM.

 Estranho também foi a defesa enfática de Aloysio Nunes do ex-presidente do Metrô, Sérgio Avelleda, envolvido no caso. O senador não quer que ele seja ouvido de maneira alguma, mas a verdade é que Avelleda foi afastado por determinação judicial na gestão do governador Geraldo Alckmin porque teria dado continuidade aos contratos superfaturados. Para o senador tucano, a atitude do PT deve-se a uma “curiosidade” seletiva.

“Por que a curiosidade do PT aqui, nesta comissão, se volta apenas para São Paulo? Sabe por que? Todos nós sabemos. Isso aqui é campanha eleitoral. Só isso. É a tentativa de instrumentalizar uma comissão do Senado para campanha eleitoral, para disputa política politiqueira. Só isso!”, disse ele, anunciando que irá se manifestar com “mais indignação o nosso repúdio a esse tipo de manobra politiqueira do PT”.

Seguindo o raciocínio de Aloysio Nunes durante sua fala na comissão, apenas as iniciativas de investigações apresentadas por ele são inidôneas e sem qualquer viés político. Enquanto as do PT, são “manobra politiqueira. O meu requerimento diz respeito a algo absolutamente inequívoco, que foi comentado por todo mundo aqui, no mundo político, no mundo jornalístico, que gerou a maior das preocupações e o desejo de saber exatamente o que aconteceu” disse sobre seu requerimento para convocar envolvidos em denúncia de pagamento de propina em negócio na Petrobras.

O fato é que uma vez o senador omitiu fatos relevantes. É público e notória a investigação em curso sobre o cartel envolvendo a empresa Siemens e agentes públicos. A corrupção da multinacional foi alvo de apurações, inclusive no exterior. O episódio vem sendo denunciado desde 2008. E não apareceu na imprensa nos últimos dias. 

Requerimentos
O presidente da Comissão de Infraestrutura (CI), senador Fernando Collor (PTB-AL), fez às 7h35 desta quarta-feira (28) a leitura dos três requerimentos assinados pelo líder, Wellington Dias, por Humberto Costa (PT-PE) e por outros signatários, para que esse grupo de trabalho acompanhe e avalie as graves denúncias feitas por executivos da Siemens de cartelização e corrupção na compra, reforma e manutenção de trens do Metrô e da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM).

Os outros dois requerimentos solicitam a realização de audiências públicas. O primeiro convida representantes do Ministério da Justiça, da secretaria estadual de Transportes Metropolitanos do estado de São Paulo, do Ministério Público estadual, do sindicato dos Metroviários de São Paulo e da Siemens.

O segundo requerimento convida treze pessoas: Jurandir Fernandes, secretário de Transporte Metropolitano do Estado de São Paulo; Luiz Antonio Carvalho Pacheco, presidente do Metrô; Mário Manuel Seabra Rodrigues Bandeira, presidente da CPTM;  José Luiz Lavorente, diretor de Operação e Manutenção da CPTM; José Luiz Portella, ex-Secretário Estadual de Transporte Metropolitano;  Luiz Carlos David Frayze, ex-presidente do Metrô; Décio Tambeli, ex-diretor da CPTM; José Jorge Fagali, ex-presidente do Metrô; Sérgio Avelleda, ex-presidente do Metrô (afastado por determinação judicial);  Nelson Scaglioni, ex-gerente de manutenção do Metrô; Ademir Venâncio, ex-diretor da CPTM;  Ronaldo Moriyana, diretor da MGE e Robson Marinho, conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (TCE).

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