O ministro da Saúde, Nelson Teich, afirmou nesta quarta-feira (29) ao plenário virtual do Senado que o Brasil está “literalmente navegando às cegas” diante da pandemia do novo Coronavírus em decorrência da falta de informações sobre o percentual da sociedade que está contaminada, quantos cidadãos estão assintomáticos e, até mesmo, o total de pessoas que estão doentes com sintomas leves espalhados pelo Brasil. “Os testes que a gente faz não permitem hoje saber a realidade”, disse.
Ele ainda evitou, ao ser confrontado, afirmar se o posicionamento do governo Bolsonaro e do Ministério da Saúde é, ou não, pela defesa do distanciamento social para reduzir a possibilidade de contágio pela Covid-19. “Você simplesmente perguntar se fica em casa, se não fica em casa… é simples demais, é uma resposta simplista para um problema que é extremamente heterogêneo”, afirmou Teich.
Nelson Teich também deixou claro que ninguém sabe quando será o pico de contaminação do novo Coronavírus no Brasil já que, segundo ele, os modelos matemáticos utilizados para fazer projeções não são 100% seguros. “Não sei e ninguém sabe”, resumiu.
O Brasil registrou, nas últimas 24 horas, 449 mortes e 6.276 novas contaminações. Ao todo, o País tem 78.162 pessoas contaminadas e 5.466 mortes.
Fuga das perguntas
O médico sanitarista, senador Rogério Carvalho (SE), líder do PT no Senado, fez diversos questionamentos do ministro da Saúde. Dentre elas, sobre o posicionamento da pasta em relação a decisão da Organização das Nações Unidas (ONU) de divulgar relatório classificando como “irresponsáveis” as medidas adotadas pelo governo brasileiro diante da pandemia de coronavírus.
“Os relatores da ONU denunciam Bolsonaro diante de políticas irresponsáveis frente à pandemia. O Brasil deveria abandonar as políticas de austeridade que estão colocando vidas em risco e aumentar os gastos para combater a desigualdade”, destacou o senador.
O ministro ainda deixou sem respostas questões apresentadas pelo senador Rogério Carvalho sobre os planos do governo para impedir o avanço da pandemia, o número exato de leitos existentes no País e qual a proposta do governo Bolsonaro para ampliar o número de médicos no atendimento aos cidadãos. Lembrando que Jair Bolsonaro desmontou o programa Mais Médicos e nunca fez decolar o programa Médicos Pelo Brasil, apresentado como solução após a expulsão dos médicos cubanos do País.
Os senadores Humberto Costa (PT-PE) e Jaques Wagner (PT-BA) também questionaram o ministro sobre a possibilidade de licenciamento provisório de médicos para que o País possa contar com um maior contingente de profissionais de saúde no combate à pandemia, à exemplo do que era feito durante o programa Mais Médicos.
O ministro não respondeu às perguntas.
Possibilidade de flexibilização do distanciamento social
O senador Jaques Wagner questionou o ministro da saúde sobre a possibilidade de ocorrer a flexibilização do distanciamento social no Brasil, justamente, no período em que o registro de mortes e contaminações cresce diariamente.
“Todos os países que pensam em flexibilização do isolamento social o fazem quando a curva de contaminação está descendente. Por que falar disso quando a curva no Brasil está claramente ascendente? A única certeza que temos é o número de infectados, mesmo que subnotificados, e os óbitos no Brasil e no mundo”, disse.
Nelson Teich afirmou que essa discussão está na pauta do Ministério da Saúde, mas não significa que haverá determinação ou sugestão para que ocorra o abrandamento do distanciamento enquanto a curva de contaminações ainda está ascendente.
“Estamos discutindo critérios para que haja uma flexibilização no momento certo. Um dos pré-requisitos é ter a curva saindo da ascendente e entrando na descendente. O fato de estarmos planejando isso agora não quer dizer que vamos liberar ou sugerir a flexibilização no momento em que a curva está em ascensão”, explicou.
Postura ambígua confunde a população
O senador Humberto Costa, ex-ministro da Saúde, disse estar preocupado com as informações prestadas pelo ministro aos senadores por mostrar que a atual gestão do Ministério está sem saber o que fazer e cobrou uma postura firme de Nelson Teich em defesa do isolamento social para que a população possa ter uma orientação concreta do governo.
“Estamos vivendo uma crise da maior gravidade. Numa situação como essa não pode haver ambiguidade. Ou estamos do lado da ciência, da orientação que tem dado certo em outros países, ou não está. O ministro utiliza o tempo inteiro o argumento de que não deve haver polarização. Só aqui no Brasil existe essa ambiguidade, porque temos um presidente negacionista. O senhor precisa ter uma posição clara. Essa ambiguidade que tem feito o Brasil sofrer o pico dessa forma violenta e que pode se transformar numa grande tragédia”, disse.
Cloroquina não é a solução
O ministro da Saúde foi indagado com relação a expectativa criada por Jair Bolsonaro em relação a utilização da Hidroxicloroquina no tratamento da Covid-19 e informou os senador que dificilmente a medicação eficaz. A posição de Nelson Teich ministro vai em sentido oposto àquela defendida abertamente por Jair Bolsonaro.
“A cloroquina ainda é uma incerteza. O presidente da Novartis me disse que tiveram uma ordem, na China, de trabalharem 24 horas por 7 sete dias na semana na produção do medicamento e isso foi suspenso de forma abrupta. Os dados preliminares, na China, mostram uma alta taxa mortalidade com a aplicação uma dosagem maior e, certamente, o remédio não será o divisor de águas em relação a doença”, explicou.
Governo não divulga dados de impacto social
O senador Paulo Paim (PT-RS), presidente da Comissão de Direitos Humanos (CDH), criticou o Ministério da Saúde pela ausência de dados sobre a incidência da Covid-19 nas pessoas com deficiência, mulheres, indígenas, ribeirinhos e quilombolas.
“Estamos diante de um tsunami, a maior tragédia humana desde a Segunda Guerra Mundial. O Brasil, infelizmente, se aproxima das seis mil mortes devido ao vírus, a maior cifra da América Latina. E não temos um comando único. Ficar isolado ou sair? No Brasil, a fragilidade está nas comunidades onde vivem os pobres, os negros. Aqueles que serão os mais atingidos. Além daqueles que são obrigados a trabalhar [na área da saúde e terceirizados] sem os Equipamentos de Proteção Individual”, destacou.
Situação dramática dos estados
O senador Jean Paul Prates (PT-RN) relatou a situação dramática pela qual passa o estado governado pela ex-senadora Fátima Bezerra. De acordo com o senador, o governo Bolsonaro ainda não liberou um centavo do R$ 65 milhões que a bancada federal do Rio Grande do Nortes realocou especificamente para o combate à Covid-19.
“Para piorar a situação, o presidente e alguns robôs jogaram a culpa nos governadores pelas mortes que eles estão tentando evitar. É um absurdo o governo federal sufocar os estados financeiramente e depois culpá-los por não oferecer o atendimento adequado por não receberem os recursos que deveriam ser repassados pela União”, criticou.