O espaço de comunicação e informação virtual é monopolizado pelas chamadas Big Techs, as megaempresas globais de tecnologia, e esse modelo de negócios acaba favorecendo a extrema direita. Essa é uma das das conclusões apresentadas pelo segundo relatório do Grupo de Trabalho do Centro de Análise da Sociedade Brasileira (Casb), que discutiu o impacto das gigantes da tecnologia na democracia.
A organização em rede de grupos extremistas ganhou notoriedade no Brasil tanto com os atos terroristas do dia 8 de janeiro quanto com a tentativa das instituições de regulamentarem as notícias falsas – projeto que contou com oposição explícita de gigantes como Google, Telegram e Meta.
De acordo com o levantamento, o modelo de negócio das plataformas pela lógica algorítmica de monetização acaba entregando mais conteúdos que favorecem extremismos – e mais especificamente a extrema direita. E, nesses espaços, atores extremistas utilizam de táticas de manipulação para descredenciar os veículos da imprensa tradicional.
Dados da pesquisa do NetLab explicitam o cenário de queda geral da credibilidade da mídia. O índice de confiança no trabalho da mídia no Brasil caiu de 62%, em 2015, para 48% em 2022. A crença de que os veículos tradicionais de comunicação são influenciados pela política ou pelo mercado financeiro avançou no sentido oposto. Ambos os índices saíram de 70%, em 2017, para 73% no ano passado.
“O alcance de narrativas falsas e a manipulação da opinião pública, resultantes deste favorecimento da extrema direita pelo modelo de negócio das Big Techs, são problemas para a democracia”, aponta trecho do documento produzido pelo Casb.
A democratização dos espaços virtuais prometida nos primórdios da internet não encontra mais fundamento na realidade. Segundo a debatedora Helena Martins, o cenário atual é de “crescente concentração da produção social nesses espaços e de centralização de capital no setor, contrariando as teses mais otimistas sobre a nova sociedade que resultaria da internet”.
Esse contexto, segundo Jonas Martins, requer uma resposta e agenda própria do campo democrático-popular, via partidos e organizações da sociedade civil, para os novos desafios.
As Big Techs ocupam, por exemplo, rankings de acúmulos de capitais superando, por vezes, estados nacionais.
“A partir desse ângulo, é possível nomear os agentes econômicos e políticos que operam essas grandes corporações, buscando entender suas motivações econômicas e como se movimentam politicamente”, aponta o estudo, citando o exemplo do bilionário Elon Musk, que recentemente comprou a plataforma Twitter.
O que é o Centro de Análise da Sociedade Brasileira?
O Casb é uma iniciativa das fundações Perseu Abramo (PT), Lauro Campos e Marielle Franco (PSOL), Maurício Grabois (PCdoB) e Rosa Luxemburgo (vinculada ao partido alemão Die Linke – A Esquerda).
O objetivo do projeto é aprofundar o entendimento sobre as mudanças na sociedade brasileira e produzir diagnósticos, auxiliando os partidos e o governo na tarefa de desbolsonarização da sociedade e das instituições; e na organização do campo democrático popular.