Senadores e deputados passaram esta quinta-feira (30) em Atalaia do Norte, no Amazonas, em diligência conjunta das comissões criadas nas duas Casas para acompanhar a investigação sobre os assassinatos de Bruno Pereira e Dom Phillips e apurar as causas do aumento da criminalidade na Região Norte. E o que ouviram de lideranças indígenas foram gritos de socorro contra seguidas ameaças de morte, denúncias de omissão do poder público e sobre o estado de indignidade em que vivem os povos originários locais, além de pressão pela demissão do presidente da Funai. Uma moção pela saída do delegado Marcelo Xavier do órgão foi aprovada pelos participantes da audiência pública.
A agenda das comissões, que se estende até esta sexta-feira (1°), também incluiu audiência, em Tabatinga (AM), com integrantes da força-tarefa envolvida nas buscas dos corpos de Bruno e Dom. Participaram servidores da Funai, da Defensoria Pública da União (DPU), do Ministério Público Estadual (MPE), da Polícia Federal e das Forças Armadas.
A Comissão Especial do Senado foi coordenada por Fabiano Contarato (PT-ES), que substituiu o relator do colegiado nesta viagem e vai transpor para o relatório os resultados da diligência. O senador falou em agilidade para dar respostas aos brasileiros.
“É necessário que essa apuração ocorra da forma mais célere e responsável, serena, para que a população tenha uma resposta, assim como as famílias dessas vítimas, e para que o Estado se faça presente”.
Um dos objetivos do grupo foi verificar de perto a realidade dos povos originários que vivem na região. Os parlamentares tiveram a confirmação de que as mortes mais recentes, que comoveram o mundo, não foram um ato isolado, mas fazem parte do contexto de insegurança e aumento da criminalidade em razão do avanço do crime organizado, principalmente no oeste do Amazonas, junto à fronteira com a Colômbia e o Peru, onde fica o Vale do Javari.
O presidente interino da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja), Manoel Churimpa, relatou que as advertências feitas pela entidade e outras lideranças da região, de que se anunciava uma tragédia, foram ignoradas pelas autoridades.
“Não há ninguém aqui do Vale do Javari que não soubesse dessas ameaças. Infelizmente, Bruno teve que morrer para que fôssemos ouvidos. Não podemos viver com medo o tempo todo. E é assim que estamos vivendo. Estou indignado e repudio a falta de atenção do poder público”, declarou. Ele chamou a atenção para o fato de que a Funai e o MPE já sabiam dessa situação e de que todos ali estão vivendo com medo.
Outros parlamentares do PT integraram a comitiva: os deputados José Ricardo (AM), João Daniel (SE), Erika Kokay (DF) e Reginaldo Lopes (MG). Numa rede social, Erika Kokay reiterou que o objetivo é descobrir quem mandou matar o indigenista Bruno Pereira e o jornalista inglês Dom Phillips. Mas, segundo ela, é preciso recuperar para os moradores uma região que, hoje, “está nas mãos do tráfico e de outros grupos criminosos”.
“O Brasil tem que ter seu estado de volta, não pode ter o Estado capturado pelo seu contrário, como estamos vendo hoje, a partir de quem ocupa a Presidência da Funai”, acrescentou a deputada, em nova referência a Marcelo Xavier. O delegado, que desde 2019 dirige o órgão que deveria cuidar da proteção dos povos indígenas, é acusado pelos próprios servidores de tê-lo transformado numa linha auxiliar de fazendeiros da região, a ponto de a Funai ser chamada, internamente, de “Fundação anti-indígena”.
(Com informações do PT na Câmara)