E tome escândalo

MP dos ruralistas propõe calote bilionário na Previdência

Para senador Paim, proposta do governo Temer para grandes produtores prova que não há rombo na Seguridade Social
MP dos ruralistas propõe calote bilionário na Previdência

Foto: Henry Milleo

A edição da Medida Provisória (MP) 793/2017, que facilita o pagamento de dívidas de produtores rurais com a Previdência, foi um dos artifícios utilizados para convencer deputados, em outubro, a votarem contra a continuidade de investigações de Michel Temer no Supremo Tribunal Federal. Mas os termos da proposta parecem não ter sido suficientes e foram ampliados pela relatora da matéria, a deputada Tereza Cristina (sem partido/MS).

Tereza, uma das coordenadoras da bancada ruralista no Congresso, propôs um projeto de lei de conversão à MP que reduz o percentual de entrada do total da dívida e estende o benefício de pessoas físicas a empresas, além de anistiar multas. O parecer foi lido nesta segunda-feira (6) na comissão mista que analisa a matéria. Os debates sobre o tema serão retomados amanhã, às 15h.

Pela MP, o produtor rural pessoa física que aderir ao programa deve pagar pelo menos 4% da dívida consolidada em até quatro parcelas mensais, liquidando o restante em até 176 meses. Mas a relatora da matéria achou o percentual “demasiadamente alto” e quer que o devedor dê entrada de apenas 1% do total da dívida. Ela ainda inclui as cooperativas na mamata, que estavam de fora do texto original da medida.

A MP 793 ainda prevê a redução de 2% para 1,2% a alíquota da contribuição do empregador rural pessoa física e do segurado especial. A deputada estende esse benefício ao empregador rural pessoa jurídica, diminuindo dos atuais 2,5% para 1,2%.

Para o líder do PT no Senado, Lindbergh Farias (RJ), a MP promove uma “minirreforma da Previdência às avessas”, já que reduz alíquotas, sobretudo de grandes devedores do Funrural.

O projeto prevê, ao todo, a renegociação de dívidas de R$ 18 bilhões de produtores rurais e empresas com o Fundo de Assistência ao Trabalhador Rural (Funrural). Esse fundo é, para o setor rural, o equivalente à contribuição à Seguridade Social.

Além das benesses de redução de alíquotas, a relatora achou pouco o desconto de 25% proposto pelo governo no valor das multas pagas pelos devedores, propondo anistia total desses valores.

Com tantos benefícios, o governo dá um atestado de que a Seguridade Social no Brasil não é deficitária, de acordo com o presidente da CPI da Previdência, senador Paulo Paim (PT-RS). “Só pode, já que o governo abre mão de multas, juros e ainda diminui o valor [das alíquotas do Funrural] dos empreendedores na área rural. Eu não sou contra nada. Só não sou a favor de que não joguem depois a conta sobre os trabalhadores, aumentando a contribuição, querendo que ele trabalhe 49 anos ininterruptos, etc”, disse.

A contribuição para o Funrural era contestada na Justiça pelo setor, mas foi confirmada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) no começo do ano e vale de março de 2017 em diante – porém, segundo o governo, a MP só vale para dívidas contraídas a partir de 2001.

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