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Na CPI, Luciano Hang expõe negacionismo alinhado a Bolsonaro

Em depoimento conturbado, empresário bolsonarista irritou senadores diversas vezes por demonstrar desprezo pela CPI e tentar ganhar tempo ao ser questionado sobre posições negacionistas, financiamento de notícias falsas e tentativa de lucrar com a pandemia
Na CPI, Luciano Hang expõe negacionismo alinhado a Bolsonaro

Foto: Alessandro Dantas

A CPI da Covid teve nesta quarta-feira (29) uma das sessões mais tumultuadas desde o início dos trabalhos na tentativa de ouvir o empresário bolsonarista Luciano Hang. Desde a sua chegada à sala da oitiva, rodeado de parlamentares da base do governo, com direito a coletiva de imprensa, Hang – que é investigado pela CPI – já dava sinais de que pretendia tumultuar a sessão. E foi isso que aconteceu desde o primeiro minuto.

Apesar do desrespeito do empresário com os senadores, traço típico do bolsonarismo – o desrespeito às instituições –, a CPI conseguiu demonstrar ao longo do dia diversas contradições do caricato personagem, que entrou na mira da investigação por suspeitas de financiar a disseminação de notícias falsas contra a pandemia, tentar lucrar com a pandemia com o projeto de compra de vacinas pela iniciativa privada e, mais recentemente, com a adulteração do atestado de óbito de sua mãe após internação na rede Prevent Senior.

Foto: Alessandro Dantas

“O senhor é a expressão do que é o Brasil hoje. É a cara das forças políticas que estão governando o país. É sócio das 595.520 mortes provocadas pela omissão desse governo, pela adoção de uma estratégia criminosa. Um crime doloso, a imunidade de rebanho por transmissão do vírus. E o presidente [Bolsonaro] vai ter que responder por isso. O senhor, o presidente e seus apoiadores afundaram o Brasil na maior tragédia que esse Brasil já teve. Uma tragédia sanitária, econômica, social e política”, definiu o senador Humberto Costa (PT-PE).

Ataque à CPI era para manter o bom humor
Luciano Hang, que divulgou um vídeo algemado atacando os senadores da CPI dias antes de seu depoimento, foi questionado se a gravação teria sido um gesto de desrespeito com a CPI e as milhares de mortes causadas pela pandemia.

Em sua resposta, afirmou ter sido um gesto de “senso de humor”. “Nós precisamos ter bom humor. Daqui a pouco não vai ter mais nem programa de humor”, afirmou.

A resposta do empresário causou indignação imediata nos senadores. “Por favor, respeite pelo menos a dor. Se o senhor não respeita a sua dor, respeite a dor dos outros”, rebateu o presidente da CPI, senador Omar Aziz (PSD-AM).

Hang admite que mãe fez tratamento ineficaz
Luciano Hang informou aos senadores que a mãe, Regina Hang, foi diagnosticada com Covid-19 no dia 28 de dezembro de 2020. Segundo ele, médicos foram chamados e começaram a medicá-la com remédios que compõem o chamado “kit Covid” na sua residência.

Apenas com a piora do quadro que o empresário resolveu levá-la para uma unidade da Prevent Senior, em São Paulo. De acordo com o empresário, a operadora foi recomendada a ele pelos excelentes serviços prestados. Hang afirmou que contraiu Covid-19 em janeiro, mas negou ter contraído a doença no ambiente do hospital.

O empresário confirmou à CPI que autorizou a Prevent Senior a utilizar, em sua mãe, medicamentos ineficazes e técnicas não-autorizadas, como a aplicação de ozonioterapia retal.

Sobre a adulteração do atestado de óbito de Regina Hang não indicar Covid-19 como uma das causas da morte, Luciano Hang afirmou ter ficado sabendo do ocorrido pela CPI. Mas durante o depoimento, reportagem do G1 afirmou que o empresário sabia desde 11 de abril deste ano da informação.

Na semana passada, o diretor da Prevent Senior, Pedro Benedito Batista Junior, admitiu que a operadora adulterava os prontuários dos pacientes de Covid-19 após 14 dias do contágio. No caso dos pacientes internados, o prazo para reclassificação nos prontuários era de 21 dias. Essa prática tinha o objetivo de maquiar o motivo da morte e ocultar casos de morte pelo novo coronavírus, validando assim o tratamento ineficaz.

Negacionismo e lucro vacinas
O “patriota” Luciano Hang se vangloriou na CPI de não ter se vacinado, com um discurso muito similar ao de Jair Bolsonaro. De acordo com o empresário, ele ainda não se vacinou por ter um índice elevado de anticorpos naturais contra o vírus causador da Covid-19.

Apesar do discurso negacionista que se mostrou por diversas vezes ao longo da pandemia, inclusive contestando o número de mortes causadas pela doença, Luciano Hang se aliou ao também empresário Carlos Wizard na tentativa de comprar vacinas pela iniciativa privada num momento em que o Brasil ainda sofria com a escassez de imunizantes.

Outra face de Luciano Hang exposta na CPI foi a utilização de suas redes sociais para atacar as medidas de distanciamento social e, até mesmo, passar receitas prontas de medicamentos ineficazes para os cidadãos, transmitindo uma falsa sensação de proteção contra a pandemia.

Além disso, senadores apontam que Luciano Hang tem envolvimento com o financiamento de blogueiros bolsonaristas que ajudaram a disseminar notícias falsas sobre a Covid-19 e lucraram com a monetização das plataformas virtuais.

Advogado do depoente atacou senador
O senador Rogério Carvalho (PT-SE) pediu a retirada de um dos advogados de Hang, Beno Brandão, da sala da CPI por desacato, logo no início da sessão.

Carvalho havia reclamado do comportamento de Luciano Hang, que havia levado para a CPI uma série de placas para apresentar durante o depoimento.

Logo após o ataque sofrido pelo senador Rogério Carvalho, Omar Aziz suspendeu os trabalhos. Na retomada, o advogado pediu desculpas ao senador Rogério Carvalho e o presidente da CPI determinou o recolhimento das placas levadas por Hang.

Ataque articulado às redes sociais dos senadores
O senador Rogério Carvalho pediu à CPI para que a Polícia Legislativa do Senado realize um rastreamento de contas nas redes sociais que interagiram com os perfis dos senadores membros do colegiado na sessão desta quarta. De acordo com Rogério, houve um “ataque sistemático de robôs” com ofensas aos senadores.

“Faço esse pedido porque claramente houve um ataque sistemático de robôs às nossas redes xingando, ofendendo e agredindo senadores da República, em uma ação orquestrada exatamente no dia do depoimento do senhor Hang”, disse o senador.

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