“Não é a cor da pele que define quem é mais competente”, afirma Paulo Paim

Paim: ao contrário do que dizem registros oficiais, homens e mulheres feitos de escravos resistiram à condição imposta. Foto: Pedro França/Ag. SenadoAo fazer um resgate histórico da luta contra a discriminação e à escravidão no Brasil e no mundo, o senador Paulo Paim (PT-RS), em discurso ao plenário, nesta sexta-feira (27), lembrou que há distorções desse tema até na historiografia oficial. Segundo ele, “fizeram crer ao senso comum” que a sujeição dos escravos a tal condição teria ocorrido sem resistência, porque eles não queriam lutar. “Grande engano ou grande mentira”, afirmou.

“O resgate da verdadeira história tem nos revelado o quanto foi sangrenta a oposição dos escravizados. Lutaram, guerrearam, criaram quilombos, uniram-se, e muitos, como conta o livro Navio Negreiro, jogavam-se no mar, agarrados nos filhos, com a esperança de voltar para o país de origem, e acabavam morrendo”, disse o senador.

Em cerca de quatro séculos em que a escravatura foi considerada legal na maior parte do planeta, cerca de 15 milhões de pessoas foram vítimas de tráfico de escravos.

Até hoje, segundo o parlamentar, os reflexos desse período são vistos na sociedade. No Brasil, por exemplo, é nítida na esfera política. “Quantos homens ou mulheres negros nós temos no Parlamento? Basta olhar este plenário ou o da Câmara dos Deputados para vermos quantos são aqueles que estão aqui e que, na sociedade brasileira, sofrem preconceitos de uma forma ou de outra”, colocou.

Dados apresentados por Paim mostram que não passa de um quinto o total de deputados e deputadas afrodescendentes. Na Câmara Federal, dos 513 membros da atual legislatura, 22 se declararam não brancos, o que representa menos de 5% da composição da Casa.

O senador também mostrou a desigualdade no emprego e na renda. Em 2009, a diferença era “gritante”, pois, quanto ao salário e aos trabalhadores com carteira assinada, a diferença ultrapassava 25% na relação entre negros e não negros. Ainda de acordo com ele, esses dados não mudaram nos últimos cinco anos, embora tenha ocorrido queda na taxa de desemprego.

Quanto à área educacional, apesar de reconhecer que as desigualdades ainda persistem, ele lembrou os avanços obtidos nos últimos anos. Entre eles, a aprovação da política de cota nas universidades públicas.

“Os meninos e meninas, negros e brancos, estão mostrando que têm o mesmo potencial. Não é a cor da pele que define quem é mais competente ou menos competente; é a conduta, a maneira de agir, a maneira de interagir, a maneira de se preparar para o estudo e de efetivamente se formar”, destacou o senador.

Massacre

O discurso de Paim resgatou a memória do dia 21 de março, registrada pela Organização das Nações Unidas (ONU) como o Dia Internacional pela Eliminação da Discriminação.

A data lembra o dia 21 de março de 1960. Naquela ocasião, em Johanesburgo, na África do Sul, 20 mil pessoas protestavam contra a lei do passe do regime de apartheid, que ainda vigorava naquele país. Apesar de a manifestação ser pacífica, foi duramente reprimida pela polícia local, causando a morte de 60 pessoas e deixando feridas outras 186.

 

Leia mais:

Paim quer discutir inclusão dos negros no Parlamento

To top