Mais de 130 milhões de brasileiros deveriam ou poderiam estar trabalhando. É a chamada População Economicamente Ativa (PEA), nas contas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Mas, hoje, o número de trabalhadores e trabalhadoras com carteira assinada não passa de 35,8 milhões. A taxa de informalidade arranha os 40%, o que corresponde a quase 40 milhões de pessoas em trabalho precário. E outras 10 milhões estão desempregadas. Os dados se referem ao mês de julho, foram recolhidos pela Pnad Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), do IBGE, e publicados nesta quarta-feira (31).
Mas é no desalento que se encontra a face mais triste do desemprego. É a parcela de brasileiros que, na definição do IBGE, gostaria de trabalhar, mas depois de tanto tempo de busca, mais de dois anos, desistiu de procurar emprego. São 4,2 milhões de brasileiros nessa situação. Em alguns estados, como Pernambuco (48%) e Acre (47,8%), o número de desalentados é quase o mesmo de pessoas que mantêm a procura por vaga de trabalho.
Coordenador-técnico do Departamento Intersindical de Estatística e Estudo Socioeconômico (Dieese), Fausto Augusto Jr explica que, ao ficar dois anos sem emprego, a pessoa sofre consequências que vão além da perda do sustento e do custo de passagens diárias, por exemplo, para a entrega de currículos.
“É mais difícil o retorno ao mercado de trabalho por diversos motivos, entre eles, a dificuldade de o trabalhador se manter tanto atualizado na questão profissional como manter sua capacidade de relações. A qualificação profissional se altera. Vai aumentando a dificuldade em se manter atualizado para as demandas dos empregos. Isso faz com que ou ele não consiga emprego ou tenha de se sujeitar a trabalhos aquém de sua qualificação, de sua experiência e de sua trajetória”, detalha o especialista em Educação do Dieese.
Ao perceber tamanha dificuldade e a distância cada vez maior da sonhada vaga de trabalho, muitas pessoas apelam para o que o governo chama de empreendedorismo, mas que na maioria das vezes é a saída precarizada contra a miséria. O número de trabalhadores por conta própria no país aumentou em relação ao ano passado, chegando a 25,9 milhões de pessoas.
Para o líder do PT no Senado, Paulo Rocha (PA), o Brasil é refém de um governo incapaz de garantir apoio permanente para a população e que “vive de vender mentiras”.
“Boa parte das vagas atualmente preenchidas no Brasil são por contratos de trabalho precários, onde o trabalhador sai perdendo. É preciso mudar imediatamente não apenas a gestão econômica, mas o presidente da República, para o povo voltar a ter perspectivas de uma vida digna”, propõe Paulo Rocha.