A chamada nova economia digital – trabalhos via aplicativos e redes sociais – tem servido para aproximar os trabalhadores brasileiros do universo extremista da direita. Essa é uma das conclusões apresentadas pelo primeiro relatório do Grupo de Trabalho do Centro de Análise da Sociedade Brasileira (Casb), que discutiu como as mudanças nas configurações das classes trabalhadoras impactam a cultura política de milhões de brasileiros e brasileiras.
“Dentro da realidade digital, o trabalhador em busca de uma vida melhor é impulsionado pelo algoritmo a uma rede de influenciadores motivacionais – que dão dicas sobre ‘como ser empreendedores’, ‘como chegar ao primeiro milhão’ –, religiosos, entre outros perfis que estão alinhados ao bolsonarismo”, aponta o documento.
Estima-se que 88% dos influenciadores brasileiros são alinhados a Bolsonaro. Assim, quanto mais inseridos no mundo digital, mais inclinados a aderir a projetos autoritários os trabalhadores estarão.
Número de trabalhadores subutilizados e precarizados aumenta alerta
De acordo com o estudo, existem 175,1 milhões de pessoas em idade ativa no Brasil. Desse total, 19% estão subutilizadas no mercado de trabalho. O relatório, que pode ser lido na íntegra neste link, também mostra como a inclusão da possibilidade de negociação individual entre empregados e empregadores, advinda da Reforma Trabalhista de 2017, acabou por enfraquecer o mecanismo da negociação coletiva, como foi alertado à época da deliberação da medida no Congresso Nacional.
O resultado é que, hoje, 41,8% dos trabalhadores informais estão totalmente expostos e descobertos de proteções legais. “As formas de trabalho que mais crescem no mundo são os trabalhos temporários, em tempo parcial, intermediados (subcontratados ou terceirizados) ou o trabalho por conta própria precário e subordinado”, destaca trecho do estudo.
O número de trabalhadores e trabalhadoras por conta própria cresceu cinco milhões entre 2012 e 2022, indo de 20,5 milhões para 25,3 milhões. No mesmo período, houve redução do rendimento mensal médio: de R$ 2.013,00 para R$ 1.991,00.
O Casb é uma iniciativa das fundações Perseu Abramo (PT), Lauro Campos e Marielle Franco (PSOL), Maurício Grabois (PCdoB), e Rosa Luxemburgo (vinculada ao partido alemão Die Linke – A Esquerda).
O objetivo do projeto é aprofundar o entendimento sobre as mudanças na sociedade brasileira e produzir diagnósticos, auxiliando os partidos e o governo na tarefa de desbolsonarização da sociedade e das instituições; e na organização do campo democrático popular.