ARTIGO

Novos políticos, velha política

“Ver e ouvir políticos novatos, que negam a política como instrumento de transformação, fazendo velhos e surrados discursos chega a ser desesperador”
Novos políticos, velha política

Foto: Alessandro Dantas

A antiga Arena comanda o Congresso Nacional; os militares comandam o governo e a pauta moralista e conservadora comanda a política. O que há de novo nesse arranjo? Já assistimos a esse filme. Aliás, faz quinhentos anos que o Brasil é conduzido pelos interesses que estes setores representam.

O respiro mais longevo da Democracia está ameaçado agora. Trinta anos se passaram da promulgação da Constituição, a Carta Cidadã. Neste período convivemos com Democracia social efetiva por menos de treze anos. Basta lembrar que o combate à fome, chaga aberta em nosso país, só teve importância política quando Lula assumiu o governo. Até então fazia parte da paisagem social brasileira. Recheava discursos, mas não práticas.

Ver e ouvir políticos novatos, que negam a política como instrumento de transformação, fazendo velhos e surrados discursos chega a ser desesperador.

As eleições para presidentes da Câmara e do Senado retratam fielmente o retrocesso a que  estamos submetidos. Arena, PFL, DEM, voltam a dirigir os rumos do parlamento brasileiro. Liberais convictos, facilitarão a pauta do mercado, financiador primeiro da campanha de Jair Bolsonaro.

Quando o mercado entra pesado nem a democracia formal, aquela do voto a cada dois anos, está garantida. São muitos os subterfúgios e manobras para cercear a vontade soberana do povo. Naomi Klein em Sua Doutrina do Choque, deixa claro as operações que circundam os interesses do mercado: das crises às guerras!

Será uma luta árdua para evitar retrocessos, ou alguém tem dúvidas da pauta prioritária destes setores: diminuir a previdência, retirando o mínimo de proteção social dos mais pobres; privatizar o patrimônio público, entregando riquezas e investimentos do povo brasileiro aos interesses meramente lucrativos; precarizar ainda mais os direitos trabalhistas, diminuindo a renda da população. O resultado não pode ser bom!

As conquistas que tivemos nos últimos anos, com os governos de Lula e do PT, de aumento da renda da população, de país soberano, de projeto de desenvolvimento inclusivo, ficarão numa distante memória se não alertarmos o povo, mobilizarmos a sociedade e fortalecermos os movimentos sociais.

Basta lembrar que o povo trabalhador não faz lobby no parlamento, não chega em Brasilia,  não tem representação grande no Congresso Nacional. Sua força está nas manifestações de rua, hoje em dia desestimuladas e muito manipuladas pelas mentiras no submundo das redes sociais.

É com este conjunto de situações que teremos de lidar daqui para frente, o que exigirá muita luta e muita política. Sim, porque quando a política é atacada, o que prevalece é o caos. Também já assistimos a esse filme.

A resistência no parlamento só será possível se tiver resistência nas ruas e uma grande unidade dos partidos de esquerda, progressistas e populares, assim como de setores da sociedade civil.

Enfrentaremos momentos difíceis, adversos, mas não intransponíveis. Já enfrentamos antes. E já vencemos! Para isso precisamos de clareza nos posicionamentos,  com alianças e táticas corretas no enfrentamento.

Gleisi Hoffmann é deputada federal (PT-PR) e presidenta nacional do Partido dos Trabalhadores

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