A edição do jornal Folha de S Paulo desta sexta-feira (10/03) publica um artigo assinado pelo presidente Michel Temer, em regozijo da eleição da representação do Estado brasileiro (e não o governo Temer, diga-se), junto com outros 13 países, para compor o Conselho de Direitos Humanos na ONU. O regozijo chega com um atraso de três meses (o Brasil foi eleito em dezembro de 2016 e assumiu em janeiro de 2017).
Desde os mais terríveis momentos da ditadura, um governo brasileiro é tão desgastado lá fora quanto o governo Temer. Ninguém dá bola para Temer e seus assessores. Anacrônicos e provincianos, Temer e seus assessores estão congelados no tempo, inteiramente na contramão do rumo das relações internacionais.
O chanceler Osvaldo Aranha (governo Getúlio Vargas) costumava dizer com ironia que no Brasil as ideias costumam demorar a passar pela alfândega. Talvez a blague de Aranha não caiba mais no Brasil do século XXI, contudo com certeza é uma excelente definição dos vexames sem-noção internacionais (e nacionais) do governo Temer.
Por questão de espaço para tanto vexame, cito dois de muitos exemplos.
Todo o mundo viu o mal estar dos chefes de Estado na Cúpula dos Brics, em outubro do ano passado, em posar na foto com um presidente golpista.
No Fórum Econômico Mundial de Davos, em janeiro, o Ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, escutou da presidente do FMI, Christine Lagarde, uma crítica contundente a países que programam ajustes fiscais sem proteger os mais pobres.
Na verdade, o artigo não visa o público externo (ninguém lá fora dá bola para Temer), mas interno. Trata-se de mais um capítulo da estratégia de sobrevivência posta em ação pelo combalido núcleo duro do governo. Temer pretende transformar fragilidade em força. Quando mais acossado por denúncias e populares, mais se dobra a aposta na cartada das reformas neoliberais.
Temer sabe que não convence a sociedade com artigos sórdidos. Mesmo assim, pretende angariar um salvo conduto do mercado.
Assusta o cinismo de Temer em chamar o que pratica de direitos humanos. Os desempregados, os sem-teto, os abandonados, os excluídos são a expressão mais dramática dos sacrifícios exigidos pelas políticas letais do neoliberalismo radical do atual governo. Tudo em nome da ideologia insana e antidireitos humanos – que o artigo expressa bem -, da austeridade.
Esses anos de governo golpista passarão a história do Brasil como os de maior retrocesso na área dos direitos humanos. As políticas de Estado para os pobres, os jovens, os negros, as mulheres, os índios, os LGBTs, construídas junto com os movimentos sociais nos governo de Lula e Dilma, estão sendo destruídas. Perguntem a qualquer militante dos direitos humanos.
Não será por muito tempo. As pessoas estão tomando consciência e logo a força do povo vencerá.
Publicado originalmente no Brasil 247.
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