Obama recorreu a truques contábeis e ninguém se incomodou com isso, lembra especialista americano

Obama recorreu a truques contábeis e ninguém se incomodou com isso,  lembra especialista americano

Em artigo na Folha de S. Paulo, o codiretor do Centro de Pesquisa Econômica e Política em Washington, Mark Weisbrot afirma que o processo de impeachment é golpeA presidenta Dilma Rousseff corre o risco de perder seu mandato sem qualquer evidência de que tenha cometido qualquer crime. A argumentação para sustentar o processo de impeachment em andamento são as famosas “pedaladas”. Pois bem. O presidente americano, Barack Obama também recorreu a vários truques de contabilidade para evitar atingir o teto da dívida do País em 2013 sem que alguém se importasse com isso. 

A análise é do codiretor do Centro de Pesquisa Econômica e Política, em Washington, Mark Weisbrot. Em artigo publicado nesta quinta-feira (3), pela Folha de S.Paulo, Weinsbrot fala claramente que o silêncio americano pode falar bem mais sobre sua posição política em relação à crise política do Brasil do que se imagina. “Ele [governo norte-americano] sempre apoiou golpes contra governos de esquerda no hemisfério, incluindo, apenas no século 21, o Paraguai em 2012, Haiti em 2004, Honduras em 2009 e Venezuela em 2002”, diz. 

O economista lembra que Dilma não está fazendo nada além do que seus antecessores no Palácio do Planalto já fizeram e sustenta que o golpe não passa de um esforço da elite brasileira tradicional para obter por outros meios aquilo que não conseguiu conquistar nas urnas nos últimos anos. 

Leia a íntegra do artigo

Golpe brasileiro ameaça democracia , por Mark Weisbrot 

A presidente Dilma Rousseff está ameaçada de impeachment, mas não há evidências que a vinculem a qualquer esquema de corrupção. Em vez disso, ela é acusada de manipular as contas públicas, algo que presidentes anteriores já haviam feito. 

Para traçar uma analogia com os Estados Unidos, quando os republicanos se negaram a elevar o teto da dívida, em 2013, a administração Obama recorreu a vários truques de contabilidade para adiar o prazo final no qual se alcançaria o limite. Ninguém se incomodou com isso. 

A campanha do impeachment, que o governo descreveu corretamente como golpe, é um esforço da elite brasileira tradicional para obter por outros meios aquilo que não conseguiu conquistar nas urnas nos últimos anos. 

O ex-presidente Lula é acusado de receber dinheiro de empresas investigadas por corrupção para fazer discursos e reformar um imóvel que ele afirma não ser dele. Mesmo que as acusações sejam verdadeiras, não há prova de vínculo com corrupção. 

O juiz Sergio Moro, entretanto, lidera uma bem executada campanha de difamação de Lula. O magistrado teve que pedir desculpas ao Supremo Tribunal Federal por ter divulgado grampos telefônicos de conversas entre Lula e Dilma, Lula e seu advogado e até mesmo entre a mulher de Lula e os filhos deles. 

É claro que o Partido dos Trabalhadores não estaria vulnerável a essa tentativa de golpe se a economia não estivesse em recessão profunda. Mas também a esse respeito a mídia está claramente equivocada, defendendo mais cortes nos gastos públicos e mais juros altos. 

O Brasil precisa, pelo contrário, de um estímulo sério para fazer sua economia pegar no tranco. O principal obstáculo à recuperação é o poder dos grandes bancos. 

O Brasil está pagando juros de quase 7% de seu PIB sobre a dívida pública, mais que a Grécia no auge de sua crise. Mas o Brasil não tem crise de dívida nem apresenta qualquer risco significativo de moratória. Seus juros usurários são o resultado do poder político de seus próprios bancos, que hoje desfrutam um “spread” recorde de 34% entre suas taxas de empréstimos contraídos e concedidos. 

A simples redução dos juros sobre a dívida pública para o nível de alguns anos atrás criaria condições para um estímulo importante. 

O governo dos EUA vem guardando silêncio sobre esta tentativa de golpe, mas há poucas dúvidas quanto à sua posição. Ele sempre apoiou golpes contra governos de esquerda no hemisfério, incluindo, apenas no século 21, o Paraguai em 2012, Haiti em 2004, Honduras em 2009 e Venezuela em 2002. 

O presidente Obama foi à Argentina para derramar-se em elogios ao novo governo de direita, pró-EUA, e a administração reverteu sua política anterior de bloqueio de empréstimos multilaterais ao país. E hoje, no Brasil, a oposição é dominada por políticos favoráveis a Washington. 

Seria mais uma coisa lamentável se o Brasil perdesse boa parte de sua soberania nacional, além de sua democracia, com este golpe sórdido. 

MARK WEISBROT é codiretor do Centro de Pesquisa Econômica e Política, em Washington, e presidente da Just Foreign Policy, organização norte-americana especializada em política externa 

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NYTimes: ‘Dilma é caso raro na política -não enfrenta acusações de corrupção’ 

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