O mesmo levantamento identificou que nos países ricos, o abismo está aumentandoO crescimento econômico dos países da America Latina fez o bolo crescer. E a divisão das fatias foi bem mais justa. Essa é a grande realidade latino-americana de acordo com os dados divulgados nesta quinta-feira (21), pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
“Ao longo das últimas três décadas, a desigualdade de renda aumentou na maioria dos países da OCDE, atingindo em alguns casos altas históricas”, diz o relatório In it together – Why less inequality benefits all (Juntos nisso – Por que menos desigualdade beneficia a todos, em tradução literal). A OCDE reúne 34 países, a grande maioria de economias industrializadas.
Os dados demonstram que, nesses países, os 10% mais ricos ganham 9,6 vezes mais que os 10% mais pobres. Na década de 2000 essa proporção era de 9,1. E, nos anos oitenta, não passava de sete vezes. Também em países com grandes economias emergentes, como China, Rússia, Indonésia e África do Sul, o abismo entre ricos e pobres segue se alargando.
Enquanto isso, na America Latina, desde o final dos anos 90, as diferenças de renda estão se estreitando. Nesse ponto, segundo os dados, o Brasil é destaque.
A BBC Brasil deu destaque aos números, que não aparecem na mídia tradicional. A agência de notícias inglesa ouviu o analista de políticas sociais da OCDE, Horácio Levy, que avaliou: “Houve, a partir do início dos anos 2000, uma queda generalizada da desigualdade na América Latina. Essa redução não ocorreu de forma tão acentuada em outras regiões”.
A OCDE afirma que a desigualdade de renda nos países ricos não aumentou apenas em períodos de crise, mas também durante “bons momentos econômicos”, com crescimento.
“O aumento da desigualdade está tão profundamente incorporado em nossas estruturas econômicas que será difícil reverter isso”, afirma o estudo, o terceiro sobre o tema realizado pela organização desde 2008.
Mercado mudou
Um dos principais fatores que explicam o aumento da desigualdade nos países da OCDE são as mudanças ocorridas no mercado de trabalho, decorrentes da globalização, de avanços tecnológicos e de reformas regulatórias.
Pessoas qualificadas em setores com alta demanda, como tecnologia da informação ou finanças, tiveram aumentos substanciais dos ganhos, diz o relatório.
Já os empregos com baixa qualificação, que sofreram a concorrência direta de países emergentes com mão de obra bem mais barata, não tiveram o mesmo ritmo de evolução. Isso aumentou o fosso entre mais ricos (com maiores qualificações) e mais pobres (com pouca ou nenhuma qualificação)
Além disso, a crise financeira a partir de 2008, seguida pela crise econômica, aumentou o desemprego em vários países considerados ricos. Hoje, nos países da OCDE, um terço dos empregos são temporários ou de meio período.
Na América Latina, o principal fator que explica a redução das desigualdades é justamente a diminuição das diferenças salariais entre trabalhadores com alto e baixo nível de formação, o que ocorreu, afirma o estudo, em razão do maior acesso à educação nesses países.
“Os gastos na área de saúde e educação também aumentaram, o que teve impacto importante na redução das desigualdades na região”, diz o analista da OCDE.
Coeficiente de Gini
O atual coeficiente Gini – indicador que mede a desigualdade de renda e que vai de 0 a 1 (quanto mais alto, maior é a desigualdade) – na média dos países da OCDE é de 0,32. O do Brasil é 0,55. O do México é 0,48 e, o do Chile, 0,51.
Segundo dados da OCDE, o coeficiente Gini médio de 22 países da organização em meados dos anos 80 era de 0,29. Ou seja, houve um aumento de quase 11% no índice, o que implica crescimento da desigualdade.
No Brasil, o coeficiente Gini passou de 0,6 em meados dos anos 90 para 0,55, uma queda de cerca de 8%.
Com informações da BBC Brasil
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