Em um pronunciamento que deixou apoplético o senador tucano Aloysio Nunes Ferreira, o vice-líder do PT, Lindbergh Farias (RJ) classificou de “conluio aloprado da mídia reacionária e manipuladora com procuradores e juízes autoritários e partidarizados” a tentativa de humilhação pública do ex-presidente Lula, na última sexta-feira (4), alvo de uma condução coercitiva determinada pelo chefe da Operação Lava-Jato, o juiz federal Sérgio Moro.
“Estou engasgado desde sexta-feira”, revelou Lindbergh ao subir a tribuna para denunciar o que qualifica como “ação fascistoide e antidemocrática, urdida na calada da noite” para calar “o maior presidente da história do Brasil”. A trama, ressaltou o senador, fracassou miseravelmente: “A única coisa que essa matilha institucionalizada de cães raivosos a serviço do ódio reacionário conseguiu foi acertar duro golpe contra a democracia brasileira e contra os direitos e garantias fundamentais”.
Tucano estridente
Lindbergh ocupou a tribuna por mais de uma hora, aparteado por senadores das diversas correntes políticas que se revezaram apoiando ou discordando de sua manifestação e usando desde a serenidade até os tons mais inflamados. O senador Aloysio Nunes (PSDB-SP), porém, absteve-se de pedir aparte e participar do debate, preferindo adotar a postura que nele já se tornou contumaz — usar o microfone de sua mesa para gritar mais alto que o orador na tribuna, tentando abafar opiniões divergentes das suas.
O auge da estridência do tucano veio quando Lindbergh citou as denúncias—que seguem sem apuração — sobre o desvio da merenda escolar em São Paulo, supostas facilidades concedidas à empresa que empregou a ex-namorada do ex-presidente Fernando Henrique na Europa, por exemplo.
Pseudomoral e pseudolegal
Sobre os fatos da última sexta-feira, Lindbergh assegura que não há como tergiversar. “Temos de chamar as coisas pelo nome. O que aconteceu no dia 4 de março foi um sequestro ilegal e criminoso do presidente Lula”. Para o senador, foi “cinismo” batizar aquela “operação liberticida” como “Operação Aletheia — “verdade”, em grego arcaico, ou “busca da verdade”, na tradução oficial providenciada pelos integrantes da Lava-Jato.
“Não há um pingo de verdade sequer nessa operação cínica e brutal. Ela deveria ter se chamado operação pseudo, por sua falsidade gritante, pseudodemocrática, operação pseudomoral, operação pseudolegal, operação pseudoconstitucional. O melhor título, contudo, seria operação pseudoBrasil, pois só falsos brasileiros podem conceber tamanha barbaridade contra a democracia brasileira”, disparou Lindbergh.
Matilha raivosa
O senador destacou que Lula —“ao contrário desse partido bastardo e da matilha raivosa que o persegue” — não tem medo da verdade e que foi no governo do ex-presidente que o País começou a ter condições para o verdadeiro combate à corrupção no Brasil, com o respeito às indicações das carreiras para os cargos máximos dos órgãos de fiscalização, garantia de autonomia e outras garantias essenciais para que essas instituições cumpram suas missões constitucionais.
“É a matilha raivosa que o persegue que tem, sim, muito a esconder”, ressaltou o senador. Como resultado de dois anos de caçada ao ex-presidente Lula, “ao se espremer tudo o que fizeram ao longo de anos desperdiçando dinheiro do povo brasileiro, restam pedalinhos, um barco de lata, garrafas de vinho recebidas de presente, um apartamento não comprado, um sítio de um amigo e palestras públicas devidamente declaradas à Receita Federal”, citou Lindbergh.
“Não há apartamento de luxo na chique Avenue Foch parisiense, não há contas na Suíça, não há contas nas Ilhas Cayman alimentando pensões de ex-amantes, não há aeroporto em fazenda particular, não há asfaltamentos de estradas que passam por grandes fazendas particulares, não há mansões irregulares em áreas de proteção ambiental. Não houve também o passa-chapéu, em pleno Palácio da Alvorada, ainda em exercício da Presidência, para arrecadar de empreiteiras, em apenas uma noite, o que hoje seriam R$17 milhões para um instituto particular, como fez Fernando Henrique Cardoso”.
O senador enfatizou que o País tem excelentes juízes, procuradores e delegados, que, de forma abnegada, atuam com verdadeiro espírito público e conforme princípios republicanos na tarefa de investigar e punir desvios, casos de corrupção e outros crimes. Ele reiterou o apoio irrestrito do PT às investigações sérias e isentas “sobre quem quer que seja”, lembrando que ninguém deveria estar acima da lei, “embora os verdadeiros donos do poder no Brasil continuem impunes, rindo da nossa cara, em suas mansões em áreas de preservação, com suas contas em paraísos fiscais, alimentadas com volumes bilionários de sonegação de dinheiro público”.
De quem é a milícia
O senador petista demonstrou, ainda, profunda indignação com a irresponsabilidade das vozes – jornalistas renomados entre elas—que tentam transformar vítima em algoz clamam por intervenção militar para reprimir o PT e as esquerdas. “O PT nunca teve milícias. Quem conhece a nossa história sabe que é uma história de lutas democráticas, pacíficas, de massas”. Um partido que, atualmente, é constantemente ameaçado por toda a sorte de violência—jurídica, moral e física—que se estende por ruas, restaurantes e até mesmo funerais. “Alguém aqui já se esqueceu do que aconteceu no velório do ex-senador José Eduardo Dutra? Da bomba no Instituto Lula? Ou dos vários atentados contra a sede do PT?”, destacou o senador petista.
O golpe de sexta-feira, apontou Lindbergh, fracassou. “Sempre tentaram abaixar a cabeça de Lula. Nunca conseguiram. A miséria asfixiante não conseguiu. A fome não conseguiu. Os preconceitos não conseguiram. A ditadura não conseguiu. Não será esse grupelho golpista que vai conseguir, mas a vergonha histórica se encarregará de abaixar a cabeça daqueles que atentam contra a democracia e o Estado democrático de direito”.
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