Oxfam: 85 mais ricos detêm o mesmo que 3,5 bilhões mais pobres

Mídia brasileira esconde estudo sobre desigualdade social que será apresentado em Davos. Brasil está entre os que ajudaram na redução.


O Brasil merece uma atenção à parte no estudo,
por se tratar de exemplo de país com “sucesso
significativo” na redução da desigualdade
desde o início deste século

Você não vai ler, ver nem ouvir na mídia brasileira: o patrimônio das 85 pessoas mais ricas do mundo é o mesmo que o da metade da população global. Em detalhe, essas 85 pessoas têm, juntas, US$ 1,7 trilhão – a mesma quantia alcançada pelos 3,5 bilhões de pessoas mais pobres do planeta. Os veículos da mídia brasileira ignoram esse tipo de informação, pois vivem de bajular aqueles que têm mais ou os que compram os produtos mais caros. A desigualdade social, para eles, não existe. Por essa razão, nada é publicado do estudo “Trabalhando para poucos” (Working for the Few, em inglês), divulgado nesta semana na Grã-Bretanha pela Oxfam, uma das ONGs mais respeitadas do mundo.

Outras comparações trazidas pelo estudo são igualmente impressionantes: a riqueza de 1% das pessoas mais ricas do mundo equivale a um total de US$ 110 trilhões – ou 65 vezes a riqueza total da metade mais pobre da população da Terra. Esses números revelam que a concentração de renda – que tende a se agravar, alerta a Oxfam.

“É chocante que, no século 21, metade da população do mundo – 3,5 bilhões de pessoas – não tenham mais do que a minúscula elite cujos números podem caber confortavelmente em um ônibus de dois andares”, afirmou Winnie Byanyima, diretora-executiva da Oxfam, à BBC de Londres. Ela acredita que somente com sem um “esforço concentrado”, a desigualdade só irá crescer. “A cascata de privilégios, de um lado, e de desvantagens, de outro, vai continuar pelas gerações”, afirma Winnie. “Em breve vamos viver em um mundo onde a igualdade de oportunidades é apenas um sonho”.

Os números sobre a concentração da riqueza param de crescer quando se analisa a trajetória da distribuição de renda durante os dez últimos anos na América do Sul, no Brasil. De novo, é a diretora da Oxfam. Winnie Byanyima, que explica:

“Entre os países do G20, as economias emergentes geralmente eram aquelas com maiores níveis de desigualdade (incluindo África do Sul, Brasil, México, Rússia, Argentina, China e Turquia), enquanto que os países desenvolvidos tendiam a ter níveis menores de desigualdade (França, Alemanha, Canadá, Itália e Austrália)”, afirmou o documento.

“Mas até isto está mudando. Agora todos os países de alta renda do G20 (exceto a Coreia do Sul) estão vivendo o crescimento da desigualdade, enquanto o Brasil, México e Argentina estão vendo um declínio nos níveis de desigualdade.”

O Brasil merece uma atenção à parte no estudo, por se tratar de exemplo de país com “sucesso significativo” na redução da desigualdade desde o início deste século. O estudo avalia o êxito brasileiro e atribui os bons resultados atingidos “em parte devido ao crescente gasto público social, à ênfase no gasto com saúde pública e educação, ao programa de transferência de renda de larga escala que impõe condições para o recebimento (Bolsa Família), por fim, ao aumento no salário mínimo que subiu mais de 50% em termos reais desde 2003”, primeiro ano de governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

O acalentado estudo da Oxfam traz a avaliação da Justiça em seis países – entre eles, o Brasil – no qual a maioria dos entrevistados afirma que as leis são distorcidas para beneficiar os mais ricos.

A Oxfam distribuirá o estudo entre os representantes do Fórum Econômico Mundial de Davos, na Suíça, que, pela primeira vez, terá a participação da presidenta Dilma Rousseff. A ONG acredita que eles têm o poder de reverter o aumento da desigualdade, mediante o compromisso de alguma atitude, como, por exemplo, o de não sonegar impostos em seus países ou em países onde têm investimento, não usar a riqueza econômica para conseguir favores políticos que prejudiquem a democracia, apoiar os impostos progressivos sobre patrimônio e renda, enfrentar o sigilo financeiro e sonegação de impostos entre outras recomendações.

“Indivíduos e companhias localizadas entre mais ricos escondem trilhões de dólares dos impostos em uma rede de paraísos fiscais no mundo todo – estima-se que US$ 21 trilhões estão escondidos sem registros”, diz a Oxfam.

Fontes: Oxfam e BBC Brasil


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