Paim cobra combate ao genocídio da população negra

Ao lembrar os 126 anos da abolição, senador ressalta que processo está inconcluso

Paim cobra combate ao genocídio da população negra

Paim: “o chicote de ontem não
pode ser a bala de hoje”

O senador Paulo Paim enfatizou, na última terça-feira (13), em plenário, que a abolição da escravatura no Brasil ainda não se consolidou. Para o petista, é necessário avançar mais na ampliação de políticas públicas de combate ao genocídio da população negra e nas ações afirmativas que possibilitem a diminuição das desigualdades ainda existentes.

Paim, inclusive, propôs juntamente com a senadora Lídice da Mata (PSB-BA) a instalação de uma CPI para investigar as causas que levam ao assassinato em massa da população negra. Apesar de conseguirem reunir as assinaturas, o colegiado não foi instalado.

“Se não formos firmes em relação a isso, não teremos mais os nossos jovens negros utilizando os espaços que o movimento negro conquistou, como, por exemplo, as cotas nas universidades, que tanto peleamos para conquistar e que, ao contrário do que alguns diziam, estão sendo um sucesso”, disse.

De acordo com o Ministério da Saúde, mais da metade – 53,3% – dos 49.932 mortos por homicídios, em 2010, no Brasil, eram jovens. Destes, 76,6% negros, e 91,3% desses jovens do sexo masculino. Segundo a publicação Mapa da Violência 2012, o número de homicídios, entre o período de 2002 e 2012, reduziu 25% entre as pessoas que não são negras. Mas aí está: houve um aumento de 29,8% entre os negros.

A pesquisa revela que morrem duas vezes mais jovens negros do que aqueles que não são negros.“Todos os dias, inúmeros jovens negros morrem no Brasil. Os homicídios são as principais causas das mortes de jovens entre 15 e 29 anos. E os senhores e as senhoras sabem qual é a cor desses jovens? Esses jovens são os nossos jovens, são os jovens negros, os jovens moradores das periferias e também de áreas centrais do Brasil. O chicote de ontem não pode ser a bala de hoje”, ressaltou.

De acordo com Paim, muitos exaltam o dia 13 de maio, como aquele em que houve a “libertação dos escravos”. Porem, o senador aponta que a escravidão persiste no Brasil, tanto que, no Senado, ainda hoje se discute matérias como a PEC do Trabalho Escravo. “Se não querem votá-la é porque sabem que ainda existe trabalho escravo no Brasil”, disse.

O senador também destacou que, após 126 anos da promulgação da Lei Áurea, os indicadores sociais ainda são muito preocupantes. Conforme pesquisa do Ipea, Igualdade Racial no Brasil – Reflexões no Ano Internacional do Afrodescendente, no mundo do trabalho, os negros são a maioria entre os trabalhadores sem carteira, entre os não remunerados e entre os trabalhadores domésticos.

Por sua vez, as mulheres negras representam 56% dos ocupados no trabalho doméstico, que empregava, em 2010, quase seis milhões de trabalhadores, o que correspondia a 7% do total dos trabalhadores ocupados. Seis milhões correspondiam somente a 7%. Assim, apenas 34,5% dos trabalhadores domésticos possuem carteira de trabalho assinada, ou seja, quase que 70% dos trabalhadores domésticos não têm carteira de trabalho assinada, percentual ainda mais reduzido para as mulheres negras.

Na educação, cerca de 40% dos negros entre 15 e 17 anos frequentam ensino médio. Essa realidade é presente para 58% dos que não são negros. “Nesses cerca de 30 anos de vida pública, eu tenho dito que temos que ter como propósito combater, por meio da legislação, da mobilização, do Judiciário, do Executivo, das ONGs, de todos os homens e mulheres de bem, de todas as formas, os preconceitos, as desigualdades. E buscando fazer com que todos tenham espaços de oportunidades iguais para mostrar toda a sua capacidade nas mais variadas áreas”, disse. “Enfim, espaço para todos. Assim, nós avançaremos para que a bala não substitua o chicote”, emendou Paim.

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