Em pouco mais de um ano, entre março de 2020 e abril deste ano, a pandemia da Covid-19 despedaçou os sonhos de pelo menos 130,3 mil crianças de até 17 anos. Os órfãos brasileiros fazem parte de uma “pandemia oculta”, expressão cunhada pelos autores de um estudo publicado nesta semana na prestigiada revista Lancet. O levantamento trata dos efeitos da crise sanitária nas famílias de 21 países. Entre eles, o Brasil, que já perdeu mais de 545 mil pessoas para a doença.
A maior tragédia humanitária da história recente criou um fenômeno à parte, que irá marcar toda uma geração de crianças e jovens para sempre. De acordo com o estudo, o Brasil tem 2,4 órfãos para cada mil crianças e adolescentes, o que coloca o país em segundo lugar no ranking das nações avaliadas. O Brasil fica atrás apenas do México (três para cada mil). O estudo levou em consideração pais e também os avós, em muitos casos, os responsáveis pelas crianças.
No mundo, o número de órfãos já ultrapassou 1,5 milhão de crianças e adolescentes. “Se você parar agora e contar até 12, é o tempo que basta para haver um novo órfão por covid-19 no mundo”, contou à BBC News a cientista e pesquisadora de doenças infecciosas do Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC) Susan Hillis, coordenadora do estudo.
Os pesquisadores apontam que o impacto financeiro das perdas soma-se ao trauma da tragédia em si. Hillis é uma defensora da adoção de um programa de transferência de renda para amparar famílias atingidas pela tragédia.
“Nossos dados são muito claros em mostrar que o Brasil é o segundo país com maior número de órfãos, atrás apenas do México”, confirmou Hillis, na entrevista divulgada nesta quinta-feira (22). “Só posso dizer que existe um chamado urgente para que o país previna mortes e se prepare para proteger as crianças que vão precisar”.
Consórcio Nordeste aprova auxílio de R$ 500 no RN
Na terça-feira (20), a governadora do Rio Grande do Norte, Fátima Bezerra anunciou o programa Nordeste Acolhe, um auxílio de R$ 500 para as famílias das vítimas da doença. A pensão, aprovada pelo Consórcio Nordeste, deverá beneficiar inicialmente pelo menos 600 inscritos, crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade até a idade de 18 anos.
“Isso é uma ação do estado, que tem a obrigação de fazer”, afirmou Fátima. “Não vai trazer a ‘mãezinha’ ou o ‘paizinho’ de volta. Mas é uma forma de o estado amparar um pouco essas crianças e reduzir o impacto dessas mortes, desses traumas que com certeza ficaram na vida dessas crianças”, disse a governadora.
Rogério Carvalho propõe pensão de R$ 1.100
Em iniciativa semelhante à do Consórcio Nordeste, o senador Rogério Carvalho apresentou, em março, projeto de lei (PL 887/2021) que prevê o pagamento de uma pensão de R$ 1.100 a órfãos de vítimas da Covid-19. Pela proposta, beneficiários não poderão integrar o regime geral ou outros regimes de previdência.
“O projeto tem como objetivo apoiar essas crianças que ficam completamente desamparadas do ponto de vista das condições objetivas de sobrevivência”, explicou o senador, em entrevista à TV Senado.
“Já estamos diante da maior crise sanitária deste século, e poderemos atingir números assombrosos de perdas de vidas diariamente”, declarou o parlamentar ao PT no Senado. “Isso trará uma consequência inimaginável para a sociedade brasileira, sobretudo nas camadas mais carentes da população, com um contingente de pessoas totalmente à mercê do destino. Serão os órfãos da pandemia”.
Petistas querem memorial para vítimas
Recentemente, Carvalho apresentou, ao lado dos senadores Humberto Costa (PT-PE) e Paulo Paim (PT-RS), proposta para a criação de um memorial para homenagear as vítimas da Covid-19, incluindo profissionais de saúde que atuavam na linha de frente no combate à pandemia. O PL 2.317/2021 começou a tramitar na Casa nesta semana.
Humberto Costa, que integra a CPI da Covid, sugeriu que a proposta, que estabelece a construção do memorial em Brasília, seja adotada pela comissão.
“Para que o país nunca mais se esqueça das milhares de pessoas que perderam a vida nesta pandemia”, declarou Paulo Paim à Rádio Senado no início desta semana. “Preservar a memória dessas pessoas, registrar suas histórias, é o mínimo que podemos fazer”, disse Paim.
(Com informações de BBC, G1, PT no Senado e Rádio Senado)