Após a decisão do dia 2 de agosto, Temer foi de pato manco a pato paralítico.
A sua “vitória”, em placar bem mais apertado do que se imaginava, mostra uma base dividida e temerosa (sem trocadilho) de seu futuro. Ao contrário do que se podia esperar, dessa vez os votos para salvar o governo corrupto de uma investigação foram contidos, discretos, muitas vezes envergonhados. A exceção ficou com os tatuados mentais e os oligofrênicos políticos que votaram contra a “volta do comunismo”.
Foi uma vitória de Pirro, pois o festival de fisiologismo descarado que a comprou, literalmente, só fez afundar ainda mais a popularidade e a credibilidade do pior governo da história do Brasil.
A vitória da impunidade terá implicações. A contrarreforma da Previdência será indubitavelmente derrotada. Após todo esse desgaste no apoio ao insustentável, dificilmente a base governista vai referendar essa crueldade extrema e inútil contra aposentados e pensionistas do INSS. A base é fisiológica, mas não é maluca. Para continuar “mamando”, é preciso se reeleger. E, sem entregar ao “mercado” essa reforma que ele julga indispensável, o governo Temer não se sustenta mais. Assim, a “vitória” da impunidade foi uma “melhora de moribundo”, aquela recuperação aparente da saúde de alguns pacientes terminais prestes a morrer. Foi, no fundo, derrota.
Mas, acima de tudo, foi uma derrota para o Brasil.
O golpe liderado por Temer fracassou em todas as frentes.
Meireles, em particular, prometeu mundos e fundos. Ungido pelo “mercado”, isto é, o grande a capital financeiro, dizia ele, com pose de sacerdotisa grega, que, após a presidenta honesta ser afastada pela quadrilha que assaltou o poder, a “fadinha da confiança” recuperaria a economia brasileira em dois meses.
Contudo, a sua política austericida afunda o Brasil cada vez mais numa depressão pantanosa.
O fato concreto é que mesmo após cair no fundo do poço, a economia não dá quaisquer sinais de recuperação sustentada e significativa. Como afogado em desespero, o governo se apega a quaisquer réstias de evidências de uma recuperação que não vem.
Chega a ser patético, por exemplo, ver o governo comemorando a queda de 0,7% na taxa de desemprego na PNAD. Na realidade, a pesquisa do IBGE mostra que o emprego com carteira assinada continua em queda. Foram menos 75 mil empregos com carteira nesse último trimestre. A pequena queda no desemprego se deu à custa, exclusivamente, do crescimento dos empregados sem carteira (+445 mil) e dos conta próprias (+396 mil). Saliente-se que a renda dos empregados sem carteira, justamente os que mais cresceram na pesquisa, caiu 4,4%, no período considerado.
Esses últimos dados do IBGE são uma amostra do que vem por aí com a Deforma Trabalhista do golpe: daqui para frente só serão gerados empregos precários e de baixo rendimento. Ou o sujeito fica desempregado ou aceita um emprego precário com salário mais baixo.
O pior é que, além de não termos mais crescimento e geração de empregos de qualidade, os sucessivos e draconianos cortes orçamentários, que paralisam a máquina pública, não estão resolvendo o problema dos déficits fiscais. Neste ano, o gigantesco déficit previsto de R$ 139 bilhões será estourado. Já se fala abertamente em um déficit de R$ 159 bilhões, mesmo com o novo e impopular imposto sobre os combustíveis. E mesmo com universidades, programas e projetos fechando.
O austericídio não funciona, pois o problema não está na “gastança” inexistente, mas na queda persistente das receitas ocasionada pela contração da demanda. Essa política irracional do austericídio lembra a prática letal dos médicos de antanho, que frequentemente buscavam curar pacientes debilitados submetendo-os a sangrias. Aliás, foi essa prática contraproducente que matou o pobre George Washington, que havia contraído uma banal infecção na garganta.
Entretanto, o problema maior do golpe não é o austericídio econômico. É o suicídio político e institucional.
Com efeito, a questão central da crise brasileira é a política.
Ao apostar no golpe e na instabilidade, a direita brasileira, que nunca teve compromisso real com as instituições democráticas, mirou contra o PT e seu projeto de inclusão social, mas acertou em cheio na democracia e na governabilidade.
Desde então, o país vai ladeira abaixo. A bem da verdade, é a crise política promovida pelo golpismo e uma Lava Jato partidarizada que tem peso maior na explicação da profundidade da crise econômica e institucional do Brasil. De fato, não havia razões macroeconômicas para crise tão intensa e dilatada. Até 2014, o governo fez superávits primários alentados, manteve a inflação dentro da meta e a dívida pública líquida em montante perfeitamente razoável. A derrocada abrupta só se explica por fatores políticos, combinados, é claro, com o austericídio obsessivo. Não fosse a aposta irresponsável na instabilidade do governo da presidenta honesta, não estaríamos nesta situação vexaminosa.
Assim sendo, a continuidade do governo corrupto e sem votos de Temer significa a continuidade e o agravamento da crise. Temer passou de “solução” a problema e, agora, de pato manco a pato paralítico. É um governo que paralisa o país numa crise insolúvel.
Na realidade, qualquer governo sem voto continuaria a paralisar o país e mantê-lo na crise. Maia e qualquer outro seriam também patos paralíticos.
Não há solução viável fora da democracia e do voto popular.
O país foi enganado por uma corja que só oferece a destruição de direitos da população e o sacrifício da soberania como solução para seus problemas. O Brasil está paralisado por um governo cuja “ponte para o futuro” não passa de uma lamentável “pinguela para o passado”.
Um passado de escravidão, dependência colonial e exclusão.
Com o golpe, quem se tornou um pato paralítico foi o Brasil.