As chuvas começam a se reduzir na Amazônia. E a partir de julho, diferente das regiões Sul, Sudeste e parte do Centro-Oeste brasileiro, a maior parte do Norte começa a viver o que chamamos de “verão amazônico”, período de estiagem e época das grandes queimadas de floresta.
Este método predador e incendiário visa eliminar as árvores para o plantio de capim e, desta forma, ampliar o avanço da pecuária na Amazônia ou do cultivo de soja. No rastro de destruição, seguem os grileiros e madeireiros, que invadem áreas protegidas, como reservas ambientais e territórios indígenas.
Na contramão deste modelo estão as comunidades tradicionais e pequenos agricultores. Atuam como guardiões da floresta e utilizam elementos da fauna e da flora para produzir fitoterápicos e biocosmésticos, a partir de óleos e essências florestais como a andiroba, copaíba, priprioca e outras.
As populações regionais também incorporam tubérculos, frutos, folhas e óleos na culinária regional, produzindo pratos como a maniçoba, o tacacá ou o pato no tucupi. O princípio ativo do jaborandi é usado para o combate a glaucoma.
Diferente da postura dos negativistas e seguidores das teses destruidoras de Bolsonaro, a manutenção da floresta representa muito mais riqueza do que o cultivo de soja ou a implantação de pasto para gado.
Está comprovado que a Amazônia concentra a maior biodiversidade do planeta Terra. E que os recursos florestais e hídricos são fontes potenciais de alimentos e de insumos para a indústria farmacêutica e de cosméticos.
Portanto, o maior desafio ao Estado brasileiro e às instituições multilaterais é o investimento em ciência, tecnologia e inovação, capaz de revelar novos conhecimentos para o equilíbrio do clima mundial; potenciais produtos que ajudam no combate à fome; e insumos que podem ser utilizados para imunizar e fortalecer a saúde humana e animal.
Sou autor do Projeto Mais Ciência Amazônia, O PL 388/18, que tramita no Senado Federal. Prevê a ampliação de pesquisadores na região para fortalecer a produção do conhecimento e promover a integração dos trabalhos científicos. A proposta aponta para a necessidade de ampliação de recursos aos pesquisadores sediados na Amazônia e de outras regiões, desde de que os temas envolvam trabalhos sobre a sociobidiversidade.
Este é um desafio que deve envolver a sociedade brasileira e os líderes mundiais preocupados com o futuro do nosso planeta.
Artigo originalmente publicado na Revista Focus