Pedidos de golpe refletem inconformismo com quatro mandatos do PT, diz Viana

Pedidos de golpe refletem inconformismo com quatro mandatos do PT, diz Viana

Viana: estratégia do Governo é tentar começar o segundo mandatoOs pedidos de impeachment contra a presidenta Dilma Rousseff que se acumularam na Câmara dos Deputados, segundo o senador Jorge Viana (PT-AC), só tem uma reflexão: o inconformismo por que o PT está há quatro mandatos à frente do governo federal. Em entrevista ao jornal El País, publicada no sábado (12), Viana destacou ainda que a aliança entre PT e PMDB, que foi feita de “papel passado” no primeiro mandato de Dilma, não se materializa. 

O senador também se mostrou preocupado com a votação dos integrantes da comissão para apreciar o pedido de impeachment, quando a chapa da oposição venceu por 272 votos contra 199 dos aliados. Mesmo com a decisão suspensa pelo Supremo Tribunal Federal (STF), Viana acredita que a sustentação da base para derrubar o golpe ainda é “frágil”. 

 “Já pioramos o Governo para contemplar aliados e seguimos com uma insegurança danada na base de sustenção. Agora, a própria democracia pode ser vítima dessa frágil base parlamentar que temos na Câmara”, disse.

Veja, abaixo, a íntegra da entrevista: 

A união do PSDB em torno do impeachment acelera o processo?

Nunca houve desalinhamento sobre retirar a decisão de retirar a presidenta. A diferença é exclusivamente sobre Aécio, Serra e Alckmin quererem ser presidentes. Meu colega Aécio Neves tinha algumas convicções, entre elas a de que bastava ser candidato para ser presidente, mas sem a paciência que o seu avô Tancredo sempre teve de sobra. Eles fazem qualquer coisa para o tirar o PT do poder. 

Como avalia a situação do processo de impeachment na Câmara?

A Câmara virou uma areia movediça. Só não é isso para o Cunha, que tem a forma de transformar areia movediça em terra firme. O Brasil está refém desse fisiologismo golpista que está agindo na Câmara. Eduardo Cunha já tragou para isso até mesmo a oposição quando ele montou uma agenda junto com os opositores. Depois, a oposição, para sobreviver, teve de se diferenciar de Cunha. Agora eles mantêm uma aliança de submundo. É lamentável. 

Concorda com a estratégia do Governo, que diz querer acelerar a votação do impeachment?

A estratégia do Governo é uma só: tentar começar o segundo mandato e não consegue. Não consegue organizar uma base de apoio, na Câmara especialmente, que lhe dê um mínimo de governabilidade. Você entrega uma parte do Governo, não consegue. Entrega mais uma parte do Governo, e não consegue. Isso somado às dificuldades do PMDB tem de ser uma representação mais homogênea —evidente que isso é um problema deles. Sempre fui contra essa crise entre PT e PMDB. Nós tínhamos feito um casamento de papel passado, já no primeiro mandato da presidenta Dilma, mas nunca deixamos de ter essa crise de identidade, ora por culpa do PMDB, ora por culpa do PT ou do Governo. O certo é que isso tem sido muito ruim. Faz-se a aliança dos dois maiores partidos, nas duas Casas, e essa aliança não se materializa. Ela faz muita falta em um momento como esse. O capitão da crise é um pessoa do PMDB que tem na mão uma base suprapartidária, que dizem que é por ter financiado deputados. A única coisa que houve de bom com a aceitação por Cunha de um dos absurdos pedidos de impeachment é ter tirado o esqueleto do armário. Agora vamos ter uma decisão. É importante para o Brasil decidir. Os pedidos de impeachment só refletem o inconformismo de o PT está no poder há quatro mandatos. 

Alguns governistas comemoraram o placar na votação controversa para formar uma comissão de impeachment dizendo que ela sinalizava um colchão de contenção para Dilma. Concorda?

Eu fico temerário porque o nível dos debates e o nível de comprometimento da Câmara está muito baixo. O comprometimento com o Brasil não está entre as prioridades, os interesses pessoais, de grupos estão prevalecendo. Quem garante 199 (votos)? Quem garante 200 (votos)? Segue tudo muito frágil. Já pioramos o Governo para contemplar aliados e seguimos com uma insegurança danada na base de sustenção. Agora a própria democracia pode ser vítima dessa frágil base parlamentar que temos na Câmara. 

Como avalia a situação do vice Temer após a carta?

No caso do presidente Temer, tem aí algum problema dele. Se ele estava tão descontente com os quatro primeiros anos, por que aceitou ser candidato na mesma chapa na reeleição? Mas também acho que tem muitos erros do nosso lado. Um quadro como o presidente Temer, que é presidente do PMDB, que tem liderança na Câmara, tinha que ter sido melhor aproveitado. Sempre defendi isso. Tinha que ter uma relação mais pessoal, mais próxima, da própria presidenta Dilma. Ela também errou neste aspecto. 

Dilma pode contar com ele? É possível recompor a relação?

Fui governador por oito anos. Não há nada que uma conversa sincera e um boa divisão de tarefas num Governo que está só começando não resolva. Temer é a joia da coroa. Está sendo disputado pela oposição, por setores do PMDB. Tem que ser disputado por nós. Se não tiver entendimento com o Temer, aí a crise inviabiliza qualquer possibilidade de entendimento. 

Sem Temer não há salvação?

 

Se houver rompimento com Michel Temer, não se tem nem a parte do PMDB que se tem hoje…

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