Perspectivas do 5º Congresso: O PT deve fazer uma revisão interna

Perspectivas do 5º Congresso: O PT deve fazer uma revisão interna

O objetivo é levar adiante a utopia de que é
possível mudar; é possível ser governo e manter
os programas do PT para que as condições de
vida continuem melhorando (Instituto Lula)

Durante os dias 12, 13 e 14, o Partido dos Trabalhadores (PT) realizou em Brasília seu 5º Congresso com a finalidade de empossar o deputado estadual por São Paulo, Ruy Falcão, na presidência e os novos integrantes da Executiva Nacional, e traçar diretrizes para o próximo período. O objetivo é levar adiante a utopia de que é possível mudar; é possível ser governo e, ao mesmo tempo, manter os programas pelos quais o Partido dos Trabalhadores entende ser fundamentais para que as condições de vida dos brasileiros e brasileiras continuem melhorando; que é possível mudar e reduzir as desigualdades sociais, sobretudo as diversas formas de preconceito, e seguir a busca pelo crescimento sustentável e em bases sólidas. “Sim, o futuro é nossa palavra mais sagrada, nosso endereço mais preciso. Nascemos construindo o futuro e será de construção do futuro as últimas palavras que sairão dos nossos lábios”, enfatizou Ruy Falcão em seu discurso de posse.

Ele lembrou que a presença regular dos dirigentes nos estados no Congresso ajuda a mobilizar localmente, atrai a mídia, além de recolher críticas, sugestões e aprofundamento do conhecimento da realidade. “Além da disputa eleitoral de 2014, durante nosso mandato –, que irá até dezembro de 2017 –, vamos estimular a participação em debates e na elaboração de teses para a segunda fase do 5º Congresso programático que se realizará no primeiro semestre de 2015. Será o tempo, também, de criarmos uma nova agenda para o PT. Uma agenda que dialogue mais com os jovens, com os sem partido, com os movimentos sociais novos e os mais conhecidos da gente”, afirmou.

Tendo o princípio de que o PT nasceu sob o signo da mudança, o Brasil é uma nação melhor graças à existência do PT e, como sempre lembra o presidente Lula, não dá para pensar o País sem o PT e sem os seus governos. Mas é por essas transformações que o partido reconhece que há desafios a enfrentar, muitos deles originados pelas transformações provocadas e conduzidas.

Sem medo de enfrentar esses desafios, durante o Congresso a mesa de discussões intitulada “Perspectivas” abriu os trabalhos do 5º Congresso, justamente para promover uma reflexão interna do PT, sendo composta pelo deputado federal Ricardo Berzoini (PT-SP), o assessor especial para Assuntos Internacionais da Presidência da República, Marco Aurélio Garcia e da deputada federal Fátima Bezerra (PT-RN), que conduziu os trabalhos.

Marco Aurélio afirmou que os partidos mais importantes de esquerda, que tiveram muito mais gravitação do que o PT no âmbito internacional, quando não fizeram reflexão sobre os seus problemas internos terminaram sofrendo um processo de degeneração. “Nós não podemos passar por esse processo, temos que dar conta de fazer um exame muito claro, dar um peso maior para a reflexão”, afirmou, para acrescentar que o partido não é uma academia.

Segundo ele, a política não se deduz das ideias, mas não existe política sem ideias. E quando há política sem ideias, o que predominam são os interesses pessoais. Outro ponto fundamental é compreender que o PT é mais um partido de oposição; é um partido de governo e que tem duas tarefas fundamentais que podem ser difíceis de compatibilizar: apoiar o governo e empurrar o governo para que vá muito mais na direção dos seus programas.

Berzoini reforçou essa tese ao expor que o partido precisa responder às questões relevantes, como o combate à violência (principalmente de jovens negros), melhor a saúde e a educação; reorganizar a infraestrutura urbana por todo o País e criar processos de aperfeiçoamento do sistema financeiro. “O partido tem de responder essas questões através do seu programa de partido, que não é necessariamente um programa de governo, pois este tem suas circunstâncias e contradições típicas da coalizão. Mas o partido não pode ficar a reboque do governo, porque o governo é um ente com peculiaridades e o partido é outro ente. Claro que temos que apoiar o governo, ajudar a construir o governo, mas não podemos deixar de pensar em relação às nossas teses mais estratégicas, independente de sermos governo ou oposição”, salientou.

Rui5congresso

“Nascemos construindo o futuro e será de
construção do futuro as últimas palavras que
sairão dos nossos lábios” (PT Nacional)

As delegações que participaram do Congresso também puderam acompanhar as análises e avaliações sobre o “Legado e Futuro do Projeto Democrático e Popular”. Essa mesa, coordenada por Selma Rocha, diretora da Escola Nacional de Formação, teve a participação de representantes de movimentos sociais, acadêmicos e petistas, entre eles Marcio Pochmann, presidente da Fundação Perseu Abramo; o economista do IPEA, João Sicsú; João Paulo Rodrigues, do MST; Virginia Barros, da UNE; Sonia Fleury, professora da Fundação Getúlio Vargas e o presidente da CUT, Vagner Freitas.

Márcio Pochmann, por exemplo, fez uma análise sobre a estrutura de classe do capitalismo industrial em transição e destacou que esta “é uma estrutura em movimento”. Segundo ele, o mundo passou por importantes mudanças na formatação do capitalismo, que “atuou a partir da relação com os impérios, como o português, o inglês e depois os Estados Unidos. A duas guerras mundiais tiveram relação com as alterações nas hierarquias do capitalismo”, disse ele.

Sobre o Brasil, a estrutura movimentou-se desde o início do primeiro governo do ex-presidente Lula, que patrocinou alterações relevantes na mobilidade social e na distribuição de renda. A imagem do País ganhou novos contornos em relação a outras nações, desenvolvidas ou não, mudando de patamar. “Mas não fez grandes reformas necessárias”, disse Pochmann, “por isso vemos que no capitalismo todos se movem, mas uns sobem de elevador, e os pobres vão de escada”, observou.

O ponto principal do governo Lula foi alterar das políticas públicas e inverter a lógica anacrônica que pregava anteriormente a necessidade de crescer primeiro para depois distribuir. “O Estado mínimo até então defendido com unhas e dentes pelo capitalismo tinha o monopólio da violência, da moeda e da arrecadação. Mas o Estado foi obrigado a assumir responsabilidades”, lembrou. O capitalismo hoje está com força no setor terciário e a sociedade que emergiu não vem da indústria, mas dos serviços.

Na avaliação de Pochmann, o método de políticas públicas não resolve todos os problemas: “é preciso repensar a maneira como fazemos e precisamos de políticas com visão universal dos indivíduos, e nosso orçamento por rubrica é uma política mal feita”, afirmou, defendendo a importância de um grande processo de politização da sociedade brasileira. “Temos novos trabalhadores, novos estudantes. Quantos se filiaram a alguma entidade sindical ou de jovens? É um desafio promover a politização”, pediu.

Já o economista João Sicsú, autor do livro “Dez Anos que Abalaram o Brasil” (Geração Editorial), que aborda os dez anos de governos Lula e Dilma, afirmou que a primeira política que fez mudar a economia do País foi o reajuste do salário mínimo promovido a partir do primeiro governo petista. Ele citou ainda o alcance do programa Bolsa Família como um fator relevante de inclusão e de mudança, por ativar a economia, criar uma nova situação (mais confortável) para as famílias. “Nós temos que combater a taxa de juros no crédito. Não o crédito”.

A professora Sonia Fleury, da FGV, reconheceu que muitas, inúmeras famílias foram tiradas da pobreza mas, ainda assim, elas não são iguais aos que já possuíam renda. “Fala-se pouco do modelo. E os sistemas universais constitucionais igualitários ainda precisam ser alcançados”, disse ela.

Para João Paulo Rodrigues, tanto o MST quanto outros movimentos sociais “não podem perder a perspectiva da luta e da formação de consciências”. “Em nossa avaliação, o governo fez a escolha de dar prioridade ao agronegócio”, afirmou.

A presidenta da UNE, Virgínia Barros, defendeu reformas prioritárias como a universitária, um plano nacional de educação e a democratização da comunicação. “Precisamos de novas conquistas e mais ousadia e conquistar a consciência da juventude é fundamental para avançar”, disse.

Ao fazer uma análise sobre as reformas estruturantes, o presidente da CUT, Vagner Freitas, foi incisivo ao observar que o grande legado dos últimos doze anos é que antes havia luta por direitos e agora a lutar é por avanços desses direitos. “Não tenho saudade dos governos FHC. Nenhuma”, disse ele, observando que há, sim, críticas no meio sindical em relação a alguns pontos, mas retrocesso não é aceito por ninguém.

Vagner Freitas, assim como inúmeros participantes do Congresso, defendeu a democratização dos meios de comunicação. “O movimento de classe não tem a benevolência da mídia. Por causa do monopólio que há no Brasil, vivemos uma ditadura da imprensa”, afirmou.

O diretor da Fundação Perseu Abramo, Artur Henrique, defendeu o aprofundamento das mudanças como forma de evitar o retrocesso, daí recomendar a necessidade de o PT ir para as ruas.

Com informações do PT e da Fundação Perseu Abramo

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